Quando Tudo Est De Ponta-cabeça?

Quando tudo est de Ponta-cabeça

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Foucault, portanto, faz a crítica caminhar do universalismo para o relativismo, do formalismo para o historicismo. Em vez de ser uma justificação transcendental dos valores estabelecidos, ela se torna demolição de ídolos, desmistificação de ideais, pondo em questão o próprio valor da verdade a partir dos "efeitos de poder" de que os discursos de verdade são inseparáveis. O objetivo de Foucault, portanto, é o de criticar as racionalizações políticas, desmontando suas pretensões através de uma complexa morfologia histórica das distintas formas da "vontade de verdade". É somente tornando-se capaz de questionar seus próprios efeitos de poder e de reconhecer a mutualidade entre saber e poder, que a crítica poderá se tornar imanente e reflexiva. É por essa razão que a crítica é redefinida por Foucault como uma atitude e não como proposição de valores universais e normas invariáveis.

Desde a História da Loucura, publicada em 1961, desponta na obra de Foucault a intenção de fazer uma crítica imanente da racionalidade ocidental a partir das distintas figuras que simbolizam os "outros" da razão. Desta forma, loucura, doença, morte, crime e sexualidade afiguram-se como "experiências limites" a partir das quais a razão ocidental constituiu negativamente sua identidade. No primeiro prefácio à História da Loucura, Foucault afirma que pretende realizar uma história da razão pelo avesso, "fazer uma história dos limites com os quais uma cultura rejeita algo que será para ela o exterior" (Foucault, 1972, p.9) e, numa entrevista desse mesmo período, esse projeto é assim descrito:

Como vemos, Kant troca um absoluto por outro, substituindo o absoluto da metafísica pelo absoluto da ciência, mas não critica a própria ciência como ideal, a "vontade de verdade" que se encontra por trás do ideal científico permanece inquestionada. Para suspender a legitimidade da própria ciência, entendida como "vontade de verdade", seria preciso abrir mão do princípio transcendental e invalidar a possibilidade mesma da constituição de um "tribunal da razão". É preciso, então, esclarecer a especificidade da crítica kantiana da metafísica para depois confrontá-la com a crítica genealógica, que ao mesmo tempo herda e suplanta a crítica kantiana da razão.

Comentários

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Esta operação arqueológica foi experimentada nas Palavras e as Coisas, que Foucault considerava um "livro de trabalho", radicalizando o método até então empregado na História da Loucura e no Nascimento da Clínica - onde ainda se pressupunha um centro de sentido na forma de uma estrutura unitária (a divisão "trágica" entre razão e desrazão no caso da História da loucura e a unidade do "olhar médico" no caso do Nascimento da clínica). Isso explica porque, nas Palavras e as Coisas, são deixadas entre parênteses as dimensões concretas do sujeito e da sociedade: não se trataria de reduzir tudo à linguagem, mas de cindir o tempo, marcando uma temporalidade interna ao próprio discurso, independente das determinações extradiscursivas.

Você já ouviu falar em “respiração diafragmática”? Neste artigo, vamos explicar todos os detalhes de como essa técnica de respiração funciona e como você pode usá-la para combater o estresse, a dificuldade para dormir ou os sintomas da ansiedade.

Além do experimento com o mundo invertido, Theodor Erismann e Ivo Kohler, testaram o resultado do uso de um óculos que invertia a esquerda e direita. Com sucesso! O voluntário, provavelmente o coitado do Kohler, “tornou-se tão à vontade em seu mundo invertido, que foi capaz de conduzir uma motocicleta por Innsbruck enquanto usava os óculos”.

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Estas expressões aparecem na linguagem oral, e só muito mais tarde aparecem na escrita. Por isso não dou grande relevância a de ponta e cabeça surgir no Google Books só depois de de ponta-cabeça. Portanto vemos que quer de ponta-cabeça quer de ponta e cabeça aparecem primeiro usados simplesmente no sentido de de cabeça. Esta última vem já documentada no Dicionário de Moraes da Silva de 1789 (verbete cabeça; grafia original):

Essa Introdução é fundamental para entendermos o papel da crítica kantiana na formulação da arqueologia. Comentando a Introdução de Foucault, Ricardo Terra afirma (Terra, 1998, p.146): "A Introduction à l´antropologie de Kant é o esboço parcial de uma obra que visaria criticar as antropologias filosóficas contemporâneas". Utilizando um método simultaneamente estrutural e genético, Foucault analisou as diversas versões da antropologia de Kant, associando-as à elaboração das três críticas kantianas e defendeu que as três grandes questões críticas "O que posso saber?", "O que devo fazer?" e "O que me é lícito esperar?" estão relacionadas a uma quarta, "O que é o homem?" (Terra, 1998, p.151-156). Se, como sabemos, as três questões críticas se traduzem respectivamente como a procura do limite da razão, da extensão do entendimento e das fontes da sensibilidade, Foucault conclui que a quarta questão, "O que é o homem?", é o seu complemento necessário. Porém, desta maneira a filosofia crítica é encarcerada no círculo formado pela analítica da finitude, pois o fundamento último da crítica é ele próprio empírico e, portanto, não crítico. Assim, para Foucault, constitui-se no interior do pensamento kantiano uma tensão não resolvida, entre crítica e antropologia, tensão entre a necessidade de criticar todo conteúdo de conhecimento, remetendo-o à universalidade do sujeito transcendental e a necessidade oposta de fundamentar a crítica numa antropologia empírica, ou seja, no que é o homem em sua essência. Segundo Foucault, que discute aqui o problema do fundamento recíproco da liberdade e da natureza em Kant:

The critique turned upside-down: about the significance of Kant in Foucault's thought

The critique turned upside-down: about the significance of Kant in Foucault's thought

Nos exemplos mais antigos que encontrei o contexto é sempre queda. O primeiro é de 1923 em Monteiro Lobato (1892-1948), “Era no Paraíso…” em O Macaco que se fez homem (conto completo na Folha de São Paulo, 2008; negrito meu em todas as citações):

Para Foucault, a tarefa específica da filosofia crítica seria a reflexão sobre os limites, mas a noção foucaultiana de limite rompe com a perspectiva transcendental e normativa de Kant. Em Kant, os limites são entendidos como a fronteira intransponível do conhecimento (a da experiência possível), que não poderia ser ultrapassada sob risco de ir além das prerrogativas legítimas da razão humana. Contrariamente, Foucault pensa o limite como a transgressão necessária, como destruição de falsas evidências e rompimento radical com hábitos instituídos de pensamento. Daí a divergência de Foucault com Kant quanto ao sentido da noção de limite:

Contribuições

Para entender a distinção entre a crítica foucaultiana da "vontade de verdade" e o "tribunal da razão" kantiano, teremos que nos reportar agora ao prefácio à primeira edição da Crítica da Razão Pura de Kant, onde curiosamente comparece a metáfora da "genealogia", mas num sentido muito distinto do que a expressão, promovida a método de investigação, adquirirá a partir de Nietzsche.

A noção de limite, portanto, é vista por Foucault de forma oposta à da filosofia transcendental de Kant. Foucault põe de cabeça para baixo a crítica kantiana ao renunciar ao sujeito transcendental, substituindo as condições formais de possibilidade da experiência por condições históricas (e, portanto, sempre variáveis e contingentes) de possibilidade. Foucault acrescenta que, na sua concepção, a crítica "[...] não busca tornar possível a metafísica enfim tornada ciência; ela busca relançar tão longe e tão largamente quanto possível o trabalho indefinido da liberdade" (Foucault, 1994, IV, p.574).

Tendo em vista o momento em que foi escrito o verbete para o Dictionnaire des Philosophes, parece claro que Foucault quer com esse gesto, de alguma forma reafirmar o projeto moderno reivindicando também para si a herança kantiana, que é o primeiro projeto desta modernidade, contra um certo pós-modernismo para o qual a modernidade seria uma narrativa terminada. Mas qual interpretação Foucault faz da modernidade e do kantismo? Em que essa interpretação contribui para esclarecer o itinerário de seu pensamento? São questões que só podem ser respondidas após um exame cuidadoso da crítica que Foucault faz da modernidade, e o ponto de partida para este questionamento é o vínculo que Foucault estabeleceu com Kant, desde o início de sua obra até seus últimos textos. Nesse sentido, é significativo que Foucault tenha começado sua obra fazendo uma interpretação da Antropologia de um ponto de vista pragmático de Kant, e a tenha terminado, ou interrompido, por uma leitura renovada da filosofia crítica a partir de uma reflexão sobre o texto "Was ist Aufklãrung?" de Kant. O "enigma kantiano", como Foucault o chama numa de suas entrevistas, percorre seu pensamento de ponta a ponta, como um fio condutor subterrâneo e pode ser considerado uma das suas vias de entrada.

Como se adaptar às mudanças?

Segundo Foucault, a filosofia crítica de Kant instituiu o corte epistemológico que funda a modernidade. Esse corte kantiano coincide com o que Foucault chama, nas Palavras e as coisas, de "acontecimento" - entendido positivamente como fato discursivo, o acontecimento que deu origem à modernidade localiza-se precisamente na curva entre os séculos XVIII e XIX, quando emerge uma nova configuração epistemológica.

Já está aqui delineado o "círculo antropológico" no qual incide a analítica da finitude ao tentar fundamentar todo conhecimento na finitude do sujeito humano, confundindo o empírico e o transcendental, questão que Foucault desenvolve no capítulo "O homem e seus duplos", na segunda parte das Palavras e as coisas (Foucault, 1966, p.314-354). A partir desta interpretação do pensamento kantiano, Foucault enceta sua crítica às antropologias filosóficas, ou seja, a todas as filosofias que pretendem dizer o que é o homem em sua essência. O contra-senso básico é querer que a antropologia absorva as prerrogativas da crítica, com a pretensão de fundar as ciências humanas partindo de um campo empírico. Perde-se assim a dimensão crítica do limite, fazendo valer como transcendental aquilo que, na verdade, é empírico. Podemos ver como a tese sobre Kant forneceu a argumentação para a crítica foucaultiana das filosofias do sujeito, entendidas como um novo "sono dogmático" que enfeitiçou o pensamento moderno.

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[...] a Antropologia é conhecimento do homem, em um movimento que o objetiva, no nível de seu ser natural e no conteúdo de suas determinações animais: mas ela é conhecimento do conhecimento do homem, num movimento que interroga o sujeito sobre ele mesmo, sobre seus limites, e sobre aquilo que ele autoriza no saber que dele se tem. (apud Terra, 1998, p.157)

De ponta e cabeça aparece no Google Books com menos frequência, mas usada exatamente do mesmo modo. Os exemplos mais antigos que encontrei foram na obra do escritor brasileiro Paulo Dantas (1922-2007):

LETRAS.MUS.BR - Letras de músicas

LETRAS.MUS.BR - Letras de músicas

Mergulho de ponta e cabeça nessas favelas [Paulo Dantas, O Lobo do Planalto, 1970.]

Lá pela metade do século passado o professor e pesquisador Theodor Erismann, da universidade austríaca de Innsbruck, bolou um experimento para testar a capacidade que um humano teria em viver durante alguns dias vendo tudo de ponta-cabeça.

Qual o significado de cabeça para baixo?

Expressão usada para dizer que as coisas não andam bem ou estão muito complicadas, quando alguém não vislumbra uma saída; bagunçado.

Qual o significado do emoji 🙃?

O emoji de cabeça para baixo 🙃 pode ser usado com o intuito de transmitir numa mensagem a ideia de bom humor, tolice ou brincadeira. ... Dependendo da situação, pode ser também usado de forma sarcástica na tentativa de falar algo mais debochado ou de expressar seu descontentamento com algo de modo mais humorado.

Qual o significado desse 🙃?

🙄 Olhos revirados. Esse emoji é usado para representar um sentimento de desdém, desprezo ou ranço por alguém ou algo que foi dito anteriormente. Também pode ser usado para identificar que certa mensagem foi sarcástica.