Dito de outra forma, pessoas desacostumadas à reflexão ou que tenham dificuldade de exercitar a razão de maneira autônoma estariam aptas às piores práticas, o que sintetiza o conceito de “banalidade do mal” proposto pela filósofa.
Judia nascida na Alemanha, Arendt vivenciou os horrores da perseguição nazista, o que motivou a sua pesquisa sobre o fenômeno do totalitarismo. Suas principais obras são “As Origens do Totalitarismo”, “Eichmann em Jerusalém”, “Entre o Passado e o futuro” e “A Condição Humana”.
O mal se torna banal quando os homens passam a agir sem raciocinar, perdendo o horizonte das consequências e do significado das ações de violência extrema. ... O número expressivamente elevado de homicídios evidencia a dinâmica de uma cultura rendida à violência.
Quando tomamos o mal como sendo algo banal, lhe tiramos umas das principais características, que é a ligação com o sobrenatural, com algo imutável. Como pontua Neiman: “Chamar o mal de banal é fazer retórica moral; é uma maneira de desarmar o poder que torna atraente o fruto proibido”.
A pergunta de Arendt, ao se deparar com os depoimentos de Eichmann, foi: “o que faz um ser humano normal realizar os crimes mais atrozes como se não estivesse fazendo nada demais?” A resposta está no mal banal.
Porém, na matriz arendtiana, a violência é apenas uma das formas de se interromper o fluxo natural dos acontecimentos. Na verdade, segundo HANNAH ARENDT, não só a violência, mas “toda ação”, concebida distinta de mero comportamento previsível, é capaz de interromper aquilo que teria acontecido naturalmente.
A humanidade só se torna livre, de fato, ao agir e decidir, em conjunto, seu futuro comum. A preservação do espaço público é tema constante e de grande relevância no pensamento de Arendt: essa seria a única forma de assegurar as condições da prática da liberdade e da manutenção da cidadania.
A percepção de que Eichmann era um homem comum, de superficialidade e mediocridade aparentes, deixou Hannah Arendt atônita, ao avaliar a proporção do mal por ele cometido. É a partir dessa percepção que ela formula a sua concepção de banalidade do mal.