Qual A Histria De Maria Navalha?

Qual a histria de Maria Navalha

Mulher de temperamento forte, conhecida pela malandragem e pela vida noturna na Lapa. Poderíamos estar falando tanto de Maria Navalha (Olivia Araujo), personagem de Fuzuê, quanto de outra homônima, mais antiga e bem mais sagrada. Entidade das religiões de matriz africana --umbanda, candomblé e quimbanda--, essa Maria Navalha teve uma vida carnal bem parecida com sua contraparte da ficção, mas foi depois da morte que seu nome atingiu um novo patamar.

Era dia 5 de novembro de 2019, no Bar Madrid. O bar, no bairro da Tijuca, estranhamente lotado em uma terça-feira à tarde, aguardava a fala de Luiz Antonio Simas. A promessa: falar das pelintrações. A fala, magnânima, traçava os contracaminhos, aparentemente opostos, de Zé Pelintra e Luiz Gonzaga. O primeiro, catimbozeiro pernambucano, morador da rua da Amargura, troca suas roupas de juremeiro pelo traje do malandro carioca ao chegar por essas bandas daqui; o segundo, também pernambucano, nascido em Exu, ganha suas vestimentas emblemáticas de “nordestino” quando sai de sua terra. Segundo Simas, o que os dois teriam em comum seria a pelintração, que nada tem a ver com resignação, mas sim com uma forma de adaptação transgressora. Mais recentemente, o malandro Simas lançou em sua conta de twitter um macumbaforismo de Seu Camisa Preta que traduz melhor do que qualquer conceitualização o que é pelintração: “Malandro usa sapato para continuar andando descalço”[8].

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Assim, dia após dia, depois de finalizado o texto inaugural escrito em homenagem àquela que parece ser madrinha dessas novas escritas que se me impõem[13], eu ia navalhando os outros rabiscos que tinha, à navalha de Dona Maria se somava à de outro João, o da Gomeia, somavam-se índios, polacas, pretos velhos, exus e pombagiras, boiadeiros, filósofos e filósofas daqui e de lá, enquanto o samba corria solto do lado de fora e do de dentro de minha casa e invadia a escrita. Porque não é isso, também, o que exige a navalha: que a rua invada o texto, que o corpo se ponha à disposição da rua, que a rua encante a filosofia?

Embucetar, que não é embocetar pois não tem nada a ver com guardar em uma caixa, pelo contrário, pois o descaralhamento já arrancou fora todos os arcontes das caixas e os guardas dos armários, é desconceito que aprendi desde cedo com minha mãe e que sempre denotou em sua boca a pressa, a correria, mas com certa raiva ou violência. “Aquele carro passou embucetado”, dizia ela. Tinha pressa, certamente, mas uma pressa perigosa e que podia dar merda pra todo lado.

Mas, para além das pirocas, dos cacetes e dos caralhos, que são destronados nessa inversão do patriarcado colonial, em que a ereção cai e o sujeito branco ocidental parece ficar frustrado com sua impotência, a frustração do sujeito broxa abre espaço para a entrada de algo que só a mulher pode trazer para a cena do pensamento: o embucetamento.

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Só espero conseguir corresponder aos chamados, às graças e alegrias, às surpresas, às amizades, às proteções, em especial das moças que andam pelas ruas, vivas ou mortas, encantadas, com suas lâminas por debaixo das roupas, com tanto a ensinar, querendo ensinar, me obrigando a aprender. Saravá!

Sabia que encontraria meus amigos Exu Tiriri, Seu Zé Pelintra, que é quem faz a festa na casa, Seu Sete Caveirinhas, minhas amigas Dona Figueira, Pombagira do Lodo e Maria Padilha. O que eu não esperava é que Dona Padilha ficaria pouco tempo na terra porque Maria Navalha queria me ver.

Cores das Velas Mágicas

[12] Citação do recente e fundamental texto de Marcelo José Derzi Moraes “Por uma Filosofia dessa coisa de pele: uma desconstrução da colonialidade” (NOYAMA, 2020).

MORAES, Marcelo José Derzi. “Por uma Filosofia Dessa Coisa de Pele: uma desconstrução da colonialidade”. In: N NOYAMA, Samon. Gingar, Filosofar, Resistir: ensaios para transver o mundo. Curitiba: CRV, 2020.

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É assim que narram os pais e mães de santo, em seus terreiros, canais no YouTube e pontos --cânticos sagrados que são, muitas vezes, gravados e distribuídos em plataformas digitais. Um dos mais famosos relacionados à entidade deixa clara a semelhança com a personagem da novela: "Eu nasci na rua, eu cresci na Lapa; trabalhei de bar em bar. Nunca ganhei nada de graça; me chamo Maria Navalha!".

Contudo, tem algo que me parece ainda mais forte no embucetamento. Mais pelíntrico do que o empoderamento, no qual o cajado, a bengala ou o ogó ainda parecem ostentados, o embucetamento que se segue ao padilhamento recusa a ostentação fálica. Seu poder, se é que esse termo ainda serve, já que o embucetamento é a desconceitualização do poder, consiste justamente em esconder a arma em baixo da saia. A malandragem nos abre a uma outra relação do poder, uma certa recusa, uma certa passividade, contanto que a arma esteja lá, porque malandro não é otário.

Ao contrário, a encenação navalhada de Navalha na Carne Negra é posta em cena justamente para fazer justiça ao que há de mais navalhado na peça original, o jogo entre o cafetão, a bixa e a puta que, quando representados como e por pessoas brancas, nunca alcançarão a realidade potente e viva das ruas.

𓂀𝕊𝕚𝕤𝕥𝕖𝕞𝕒 𝕕𝕖 𝕆𝕣𝕒𝕔𝕦𝕝𝕠𝕤𓂀

A personagem de Fuzuê, uma "cantora conhecida e admirada na Lapa", segue a mesma linha. Ela é descrita como uma mulher emocionalmente imprevisível e que oscila entre a euforia e a depressão. Cleptomaníaca, ela levava para casa objetos roubados, além de enfrentar problemas com álcool e medicamentos. 

[15] Ainda no lançamento do livro, Simas, ao pensar nossa trinca, lembra do trio que acompanhava Luiz Gonzaga, cata milho, custo de vida e salário mínimo e, logo em seguida, afirmando que Luiz Rufino seria o triângulo, fininho e capoeirista, sobrando para nós dois sermos a zabumba e a sanfona.

Como fazer minha magia funcionar

Mas o que Clauze, Tranca Rua e Simas fizeram foi me fazer retomar essas anotações para pensar em uma possível conclusão a esse texto que nada mais é que um relatório de campo de minhas experiências com Navalha e a malandragem. E o que a navalha quebrada parece me pedir, para enfiar o pino que nunca encontrei no buraco vazio, é a elaboração desconceitual de dois termos: embucetamento e descaralhamento.

Era isso de que precisava. Se há alguma metodologia possível para se falar das ruas, esse método tem de ser a própria pelintração, aprender com o cuidado que o malandro tem com o balanço da canoa, saber que na hora que a polícia chega, quem é malandro não pode correr e que, se a academia é a grande sapataria do pensamento, precisamos botar nossos sapatos bicolores para poder escrevermos descalços.

Bruxaria Natural

SABRINA CASTRO é noveleira assumida desde criança. Formada em jornalismo pela Universidade São Judas, foi repórter da revista AnaMaria e atuou em agências publicitárias. No Notícias da TV, escreve sobre novelas e celebridades.

Descubra o fascinante mundo de Maria Navalha, uma entidade carismática e enigmática da Kimbanda, em "Maria Navalha - A Rainha da Boemia". Nesta narrativa detalhada e envolvente escrita por Bruxo Luis de Tiriri, somos transportados para um cenário vibrante repleto de intrigas, paixões e mistérios.

Inaugurava-se, naquele momento, uma forma de escrita corajosa, ousada e que marcaria profundamente a todos nós ali presentes. Fabio trazia as encruzilhadas para a desconstrução, ou melhor, mostrava as encruzilhadas da desconstrução e o quão potente seria esse encontro entre Derrida e macumba.

Como chamar a Maria Navalha?

“Mulher de malandro tem nome / e se conhece pela saia / vara curta e onça brava / ela é Maria Navalha”, diz o ponto, mostrando que quando é a mulher quem toma para si e empunha a navalha (pois é ela a dona deste objeto de corte e transição), ela se torna os dois lados da relação, é ela a vara que cutuca a onça e a onça ...

O que oferecer para Maria Navalha?

Assim pode-se oferecer quitutes como salgados, salaminhos, bacon, jiló empanado frito, sardinha frita, farofa com linguiça, carne seca assada na brasa ou frita, etc. As bebidas poderão ser cachaça, cerveja e em alguns casos licores.

Qual é a comida que Seu Zé Pilintra gosta mais?

Seu zé pilintra tem uma caracteristica marcante a alegria, gosta de dançar, de cerveja. ... Seu Zé pilintra abre sessões, as vezes, fora do dia de gira e convida todos os que estão presentes no terreiro para ir comer "Farofa" com ele. Normalmente se prepara o terreiro com as devidas firmezas de um dia de gira.

Como fazer um agrado a seu Zé Pilintra?

Ebó para Zé Pelintra: passo a passo para a oferenda dar certo. Num prato de papelão de tamanho médio, coloque arroz com lentilhas e tiras de cebola frita, três fatias enroladas de presunto defumado e farofa de ovo. Tudo isso deve ser acompanhado de um copinho pequeno de papelão com um pouco de cachaça.