Texto publicado por Dirley Fernandes, jornalista e fundador do site Devotos da Cachaça.
Ouvido pelo jornal ‘A manhã’, Lobato foi taxativo: “Nunca estive no Uruguai e nem em Londrina. Se a música é parecida, azar de Marinósio”. Castro chamou o compositor baiano de oportunista: “Deve ser um louco”, como registrou o historiador Felipe de Camargo Melhado (Anti-heróis entre heróis – Marinósio Filho, boemia e jornalismo na Londrina do Eldorado).
Só que os compositores que estavam recebendo os direitos autorais eram outros: Heber Lobato e Lúcio de Castro. Marinósio levou sua gravação uruguaia para o Rio e denunciou o plágio.
Ao final da celeuma, no entanto, o presidente da União Brasileira de Compositores, o grande Ataulfo Alves, mediou um acordo. Marinósio ficou com 60% dos lucros da marchinha – que não eram e não seriam poucos ao longo dos anos. Os dois plagiadores levariam 15%, sob a justificativa de que melhoraram a letra da segunda parte. Ataulfo ficou com 10% e se tornou representante da música. Mirabeau, outro dos plagiadores, ficou de fora do acerto. Não era muito amigo de Ataulfo. Mais tarde, no entanto, ele faturaria com o tema etílico na marcha ‘Turma do Funil’ (1956).
"O pontífice argentino sofre há muito tempo da mesma condição, que produz uma dor que se irradia ao longo do nervo ciático e desce por uma ou por ambas as pernas pela parte inferior das costas", narrou a repórter Inés San Martín em reportagem para o Crux, portal de notícias sobre a Igreja Católica. "Francisco ofereceu um remédio de poucas palavras para o padre: 'Um copo de conhaque'."
Seu autor é um personagem fantástico, o baiano Marinósio Trigueiros Filho, compositor, jornalista, boêmio, malandro e batalhador. Nascido em Salvador (BA), filho do maestro da banda do leprosário da cidade, terminaria a vida em Londrina, como jornalista.
Gênero musical popularíssimo do carnaval brasileiro, a marchinha volta e meia traz em suas letras expressões que nunca mais saem da boca do povo: foi cantando o gênero saltitante que a turma da folia se acostumou a dizer que “banana engorda e faz crescer”, “é dos carecas que elas gostam mais”, “esse ano não vai ser igual àquele que passou” e por aí vai. Pois nesta folia de 2023 completam-se 70 anos de um sucesso que trouxe não só um verso, mas um refrão inteiro que virou dito popular:
Mesmo identificando alterações pontuais no terceiro e quarto versos da letra (como o ribeirão no lugar do purrão – pote grande de barro), Marinósio era enfático na defesa de sua obra: “A melodia (...) é uma só. E o tema não é motivo popular; é meu, original, inteiramente meu.” Seria mais um oportunista, como tantos na história da música brasileira que, sabedores da máxima de Sinhô (“Samba é que nem passarinho: de quem pegar primeiro”), volta e meia tentavam pegar carona no sucesso alheio?
Não é de hoje que o papa Francisco gosta de brincar com o goró mais querido dos brasileiros. A troça do argentino com os vizinhos já acontecia desde o seu primeiro ano de pontificado. A que abre este texto foi feita em seu discurso em Varginha, favela carioca aonde chegou de papamóvel, em 25 de julho de 2013.
O sucesso de “Cachaça” inspirou outras marchinhas de temática etílica que saíram em disco nos carnavais seguintes a 1953 e também nunca mais saíram do repertório carnavalesco. Entre elas destacam-se “Saca rolha” (Waldir Machado, Zé e Zilda), de 1954, “Tem nego bebo aí” (Mirabeau e Aírton Amorim) e “Ressaca” (Zé e Zilda), de 1955, e ainda “Turma do funil” (Mirabeau, Milton de Oliveira e Urgel de Castro), de 1956.
“Beber todo dia não é para o ser humano. O etanol é tóxico para o organismo e o uso frequente pode trazer problemas recorrentes, que vão além do alcoolismo”, explica Ana Cecília Roseli Marques, psiquiatra e membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas.
Os prognósticos se confirmaram no dia 28 de fevereiro, quando o público superlotou o Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes, para acompanhar o tradicional concurso anual de músicas carnavalescas – promovido naquele ano pelo Departamento de Turismo da Prefeitura do Rio de Janeiro. “Cachaça” foi a grande vitoriosa entre as marchinhas, deixando em segundo lugar outro clássico do gênero, “Pescador”, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira. Segundo a revista A Scena Muda (11-03-1953), o concurso teve 266 músicas inscritas, das quais dez foram selecionadas para serem apresentadas na grande final, por ordem alfabética, com acompanhamento da orquestra do Maestro Chiquinho.
Londrina – Pouca gente sabe, mas o autor da marchinha “Cachaça” (“Você Pensa que Cachaça é Água”), viveu boa parte de sua vida em Londrina. A música, tocada há décadas em diversos bailes e desfiles de Carnaval, foi composta por Marinósio Trigueiros Filho.
Já a revista Carioca (17-01-1953) destacou que a gravação de Carmen Costa e Colé – “a nova e já consagrada dupla do nosso rádio, teatro e boates” – era “uma das grandes ‘bombas’ para o próximo carnaval”. No mesmo dia, o crítico musical Paulo Medeiros cantava a mesma pedra em sua coluna Ronda dos Discos, na Última Hora, definindo “Cachaça” como “a grande força de marcha para este carnaval.”. “Apareceu ela praticamente sem pretensões, gravada por dois elementos de teatro”, informava o jornalista. “O povo, no entanto, logo que tomou conhecimento da marcha, lançou-a em cheio. Muitos não sabiam a segunda parte, mas bastava a primeira para fazer dela um sucesso.”
O papa é inclusive conhecedor de uma das mais tradicionais marchinhas de Carnaval do país, justamente a protagonizada pela aguardente. Quem lembra é Rubens da Cruz Carneiro Neto, 33, seminarista da Diocese de Registro (SP). "Eu estava na praça de São Pedro para participar da audiência geral. Ele veio ao meu encontro, e eu disse 'papa, uma benção para um brasileiro'. Ele respondeu 'ah, sim, um brasileiro!' e cantarolou: 'Você pensa que cachaça é água...'"
Nos anos 1940, ele adentrou o Uruguai. E, surpresa!, tornou-se um astro. Fez temporadas teatrais, inclusive ao lado do astro Ary Barroso, e gravou uma série de discos pela Sondor, maior gravadora do país platino.