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Após o agravamento de um quadro de pneumonia, Nísia Floresta vem a falecer no ano de 1885, em Bonsecours, nas cercanias de Rouem, cidade medieval do interior francês, aí permanecendo enterrada até os seus restos mortais (e os de sua filha Lívia Augusta Gade, morta em 1912 e sepultada no mesmo cemitério) serem finalmente transladados à cidade natal da matriarca, dada a autorização do Poder Executivo nesse sentido e à abertura de crédito especial para sua execução, por força da Lei Federal n° 1892/1953, publicada no Diário Oficial da União de 27 de junho de 1953, em decorrência da descoberta de ambos os jazigos por parte do jornalista potiguar Orlando Ribeiro Dantas, em viagem à França empreendida para tais fins três anos antes.
Fortemente influenciada pelo filósofo Augusto Comte, pai do positivismo, com quem conviveu durante suas viagens à Europa, Nísia Floresta entendia as mulheres como importantes figuras sociais, dotadas de uma identidade fundamental para o crescimento das sociedades.
No Rio, em 1838, Nísia fundou o Colégio Augusto, para meninas, um dos principais da Corte. Nele ela ousava oferecer às meninas um ensino de qualidade similar ao dos meninos: passou a ensinar gramática, escrita e leitura do português, francês e italiano, ciências naturais e sociais, matemática, música e dança. Também as ensinava a lutarem pelos seus direitos, não serem apenas donas de casa e a serem tratadas com respeito.
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This essay intends to present itself as a brief intellectual biography of the Brazilian writer Nísia Floresta (1810-1885), whose documentary records are frequently reproduced with gaps and inaccuracies. It places itself, though, especially around the publication of her first book, entitled Direitos das mulheres e injustiça dos homens (1832), which was considered until very recently a non-literal translation from the French version of A vindication of the rights of woman (1792), work of the English writer Mary Wollstonecraft. Despite the vicissitudes about the literary origins of Nisia’s first book, her translation turned out to associate Wollstonecraft’s name to the still incipient feminist ideology in the country at that time. The underlying intent of this work consist of highlighting an old academic break through regarding the origin of the referred book, which, even nowadays, is not much assimilated amid further Brazilian academic research.
O primeiro livro que Nísia Floresta publicou, em 1832, foi “O direito das mulheres e a injustiça dos homens”. A obra trata dos direitos que as mulheres deveriam ter e a injustiça dos homens em não os reconhecer. Estamos falando de direitos básicos como o da mulher ser considerada um ser inteligente, um ser dotado de razão, de ter o direito de aprender a ler, o direito fundamental de ir à escola.
[…] não nos iludamos com a participação da mulher na vida intelectual do primeiro reinado e mesmo do segundo: o que houve foi uma ou outra flor de estufa. Tanto que Nísia Floresta seria um escândalo para a sociedade brasileira de seu tempo.
Considerada uma mulher à frente do seu tempo, Nísia Floresta nasceu no Rio Grande do Norte em 1810. Foi escritora e educadora, dirigiu um colégio para mulheres no Rio de Janeiro e escreveu 15 livros nos quais defendeu os direitos das mulheres, dos indígenas e dos escravizados. Também participou ativamente das campanhas abolicionista e republicana.
Em um tratado sobre a história dos impressos no país, o brasilianista Laurence Hallewell houve por bem fazer alusão às vicissitudes da publicação e posterior reconhecimento de Direitos das mulheres e injustiça dos homens -, embora conste em seu relato certa impropriedade no tocante aos anos de falecimento de Manuel Augusto, de mudança do casal para a cidade de Porto Alegre e de ulterior fundação do aludido colégio. Ei-lo:
Tudo isso a partir dos anos 20 do Século 19, num Brasil Imperial, uma época em que as discussões em torno da mulher eram sobre sua inferioridade em relação ao homem, elas estavam alijadas de qualquer possibilidade de ascensão intelectual. O mundo das mulheres se limitava ao mundo doméstico. Direitos como o de votar, trabalhar fora sem precisar de autorização do marido, de herdar bens sem um tutor masculino só foram conquistados – e duramente conquistados – cem anos depois.
[...] de um lado, prestava homenagem à mulher intrépida, admirável e pouco reconhecida que era Mary [Wollstonecraft]; de outro, conferia ao texto a autoridade gozada pelas idéias e hábitos ingleses que, como atesta um neologismo da época, “londonizam nossa terra”. Se, no entender de Nísia, Wollstonecraft não era suficientemente revolucionária no seu escrito, era provavelmente famosa e polêmica o suficiente para garantir público interessado em ouvi-la. Sophia, figura a esta altura esquecida até mesmo na Europa, é que teria, no entanto, mensagem importante para os brasileiros. Ao fazer de Wollstonecraft a autora do Woman not Inferior to Man, Nísia estava, de certo modo, a dizer que esta era a obra que mais condizia com alguém que desafiara tão arrojada e revolucionariamente as convenções sociais (p. 186-187 [ortografia e destaque preservados como no original]).
Nasceu Dionísia Gonçalves Pinto, a 12 de outubro de 1810, no sítio Floresta da vila de Papari, na então Capitania do Rio Grande, a qual passou a portar, desde meados do século passado, a alcunha de sua filha mais conhecida, por força da aprovação da Lei n° 146, de 23 de dezembro de 1948. Mudava-se, assim, o nome de Vila de Papari para Nísia Floresta.
Nísia Floresta é mais uma nessa história de mulheres brasileiras que há pouco começou a ser contada. Mal conhecemos seu rosto e sua história, mas, de acordo com a professora de literatura da UFMG, Constância Lima Duarte, todos que dela se aproximam se encantam, pois há mais de duzentos anos “nascia uma mulher que seria exceção de todas que nasceram no seu tempo”, destaca a professora estudiosa da obra de Nísia.
Neste artigo apresenta-se uma breve biografia intelectual de Nísia Floresta (1810-1885), cujos registros são reproduzidos, mesmo atualmente, não sem lacunas e imprecisões de vários tipos. Esforça-se por se situar em torno da publicação de seu primeiro livro, Direitos das mulheres e injustiça dos homens (1832), o qual era considerado, até pouco tempo, como se fora tradução não literal empreendida a partir da versão francesa de A vindication of the rights of woman (1792), obra da escritora inglesa Mary Wollstonecraft. A despeito das vicissitudes acerca das origens literárias das primícias de Nísia Floresta, o livro deu no associar do nome de Wollstonecraft ao ainda então incipiente ideário feminista no país. O intento subjacente deste trabalho consiste em evidenciar uma antiga descoberta acadêmica no tocante à procedência do referido livro, ainda hoje pouco difundida ou assimilada em meio às pesquisas acadêmicas ulteriores.
A grande preocupação de Nísia Floresta foi a educação de meninas, uma importante bandeira das poucas mulheres que tiveram acesso à educação e tinham consciência do universo de analfabetas que predominava na época.
Esse espírito contestador e libertário escandalizava seus conterrâneos e gerações futuras, como o do escritor Gilberto Freyre, que a descreveu como uma exceção escandalosa de seu tempo.
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