Todo mundo adora uma praia e também deve se perguntar o que há no fundo do mar, não é mesmo? Os mistérios dos oceanos profundos vão muito além dos monstros e criaturas gigantes! Estamos falando dos grandes Deuses dos Mares da mitologia grega.
Junto com Gaia, ambos foram os pais de entidades mais antigas, como Nereu, Taumas, Fórcis, Ceto e Euríbia. Além disso, através de Tálassa, sua metade feminina, ele foi o pai dos peixes e de outras criaturas.
Freud, S. (2013). Concepção psicanalítica do transtorno psicogênico da visão. In Obras completas (Paulo César de Souza, trad., vol. 9, pp. 313-323). São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho originalmente publicado em 1910). [ Links ]
Leonardo Cardoso Portela Câmara*; Regina Herzog**
Ferenczi, S. (1990). Diário clínico. São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho originalmente publicado em 1932). [ Links ]
Esse estilo de pensamento, que incomoda alguns hábitos que estão na base da nossa maneira de pensar, se materializa de modo emblemático em um conceito que Ferenczi constrói na tentativa de formalizar um método. Dizemos "formalizar" porque ele, Ferenczi, credita a autoria deste método à Freud. A seu ver, a única contribuição que teve foi o de dar um nome e, vale dizer, radicalizá-lo a um ponto desmedido, se comparado ao modo como Freud o utilizou. Ferenczi chama de utraquismo o método que consiste em abrir um espaço de intercâmbio entre a psicanálise e outras ciências visando trazer movimento e fôlego para o trabalho metapsicológico, principalmente quando se busca realizá-lo em regiões teóricas engessadas ou pouco desenvolvidas (Câmara & Herzog, 2014; Câmara, Herzog, Pinheiro, Verztman, Pacheco-Ferreira, Viana, 2016). Será a partir desta experimentação metodológica, onde a psicanálise transborda sobre a biologia e vice-versa, que Ferenczi perseguirá o seu objetivo em Thalassa: construir uma teoria que forneça os múltiplos sentidos da genitalidade (Ferenczi, 1924/1990).
Tétis, filha de Nereu, era a líder das Nereidas e uma deusa do mar. Seu nome está conectado com as palavras gregas antigas thesis – criação – e têthê – enfermeira. Assim como muitos outros deuses do mar, ela também tinha o dom da profecia e da mudança de forma.
Diante desta função importante de abreação do trauma, devemos entender que a dimensão do prazer da repetição está a ela subordinada? Não. O prazer é tão fundamental quanto aquela função. Ambos são protagonistas. A importância do caráter lúdico do ato sexual reside no fato de que, com ele, o sujeito (e qualquer organismo) pode, enfim, relaxar das árduas e exaustivas tarefas da existência, o que significa não apenas o festim comemorativo, como também a possibilidade de recolher-se em um abrigo, em um lugar de descanso (Ferenczi, 1924/1990). Sabemos que Ferenczi vê neste lugar não tanto a morte quanto o ventre materno – ou melhor, vê tanto um quanto o outro, e ainda o sono e demais atividades que possam entrar em relação analógica com as referidas. Para ele, no entanto, o descanso – seja ele qual for – não representa uma abolição de excitações. No interior do útero materno, por exemplo, se a criança é protegida de qualquer estimulação, ela ainda assim faz uma coisa: ela cresce. Do mesmo jeito, no coito e no sono o organismo cresce, regenera e revitaliza. E mesmo na morte, por fim, grassam flutuações de energia vital no seio mesmo do material inorgânico (Ferenczi, 1924/1990).
Deleuze, G. (1974). Lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva e Editora da USP. (Trabalho originalmente publicado em 1968). [ Links ]
Espinosa, B. (2012). Breve tratado de Deus, do homem e do seu bem-estar. Belo Horizonte: Autêntica Editora. [ Links ]
Ferenczi, S. (1993). Fenômenos de materialização histérica. In Psicanálise III (pp. 41-53). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho originalmente publicado em 1919). [ Links ]
Em outras palavras, o utraquismo consiste em um programa de esmaecimento das fronteiras que separam a psicanálise da biologia e as ciências do espírito das ciências da natureza, para constituir, em seu lugar, um limiar, uma zona intermediária onde os elementos pertencentes a ambas as disciplinas transitam com liberdade, contaminando-se e imunizando-se, produzindo tensões e harmonizações, construindo estruturas de figuras e complexidades variáveis que logo se desmontam e se rearranjam de outra maneira. É nesta zona que Ferenczi monta o seu laboratório e inicia as suas experimentações que serão apresentadas em Thalassa: experiências que consistem propriamente em decomposições e misturas, em injeção de noções da psicanálise a teorias biológicas e vice-versa, em produção de criaturas híbridas belas e patéticas.
É a partir destes parâmetros que Ferenczi vislumbra a maneira do primado do genital se formar. Longe dos autoerotismos superados sobreviverem somente como formas de preparação para o ato sexual, eles delineiam o ritmo, as velocidades, os vetores, os movimentos e os intervalos que configuram a genitalidade. O erotismo uretral empresta as qualidades de precipitação e emissão, enquanto o erotismo anal determina as qualidades de paragem e retenção. O erotismo oral, por sua vez, confere o ritmo dos movimentos que são desencadeados no coito. A mistura destes três modos no erotismo genital confere ao mesmo graus variáveis de precipitação, retenção e ritmo – graus variáveis que dependem da quantidade de que cada modo de erotismo foi empregada. A geometria dos erotismos misturados desenvolve, neste sentido, a coreografia da dança que o genital e o corpo empreendem durante o ato sexual. Assim, por exemplo, se dos ingredientes da mistura há uma predominância do erotismo anal, então o sujeito retém por mais tempo o esperma e adia, consequentemente, a ejaculação. O oposto ocorre quando o erotismo uretral prevalece. Se essa desigualdade na mistura atinge graus excessivos, então o sujeito pode ter sua potência genital ameaçada 3 (Ferenczi, 1924/1990).
Nas Fábulas de Esopo, ela é retratada como uma mulher formada a partir do mar ascendendo de seu elemento nativo – a água.
Jones, E. & Balint, M. (2004). Correspondance Ernest Jones/Michael Balint Avril 1938-Janvier 1958. Le Coq-héron, 177(2), 25-88. [ Links ]
Pretendemos realizar uma incursão pelas teses principais do polêmico ‘Thalassa: ensaio sobre a teoria da genitalidade', obra de Sándor Ferenczi publicada em 1924. Considerado amiúde como um trabalho estranho e extravagante, propomos sua releitura a partir de uma hipótese: ‘Thalassa' exige o abandono de formas habituais do pensar.
A concepção de ato sexual tal como apresentada acima se dá segundo um ponto de vista "histórico-genético". Se isso já não bastasse, Ferenczi (1924/1990) interpreta o coito, ainda, conforme o aspecto que ele denominou como "descritivo-econômico". Conforme se pode depreender, o desenvolvimento de seu pensamento não é linear. Mais parece um pensamento errante que, baseando-se em ângulos insólitos, mira para todos os lados e desvia de uma trajetória tão logo ela se mostra por demais estável. O ponto de vista histórico-genético procura lançar luz sobre a série mnêmica que acumula todos os trilhamentos históricos escondidos por detrás do ato sexual, dirigindo-o para certas potencialidades e inscrevendo todas as suas conformações anteriores. (Vale dizer que todos os processos, e não apenas o coito, são culminações de uma multiplicidade de longas histórias marcadas no chamado inconsciente biológico). A perspectiva descritiva-econômica, por sua vez, é uma leitura da série atual, que busca interpretar quais os processos orgânicos que ocorrem e concorrem para o coito (Ferenczi, 1924/1990). Em outras palavras, ela não lida tanto com a pulsão que deseja regredir, mas com os intrincados mecanismos de prazer, angústia e compensação que atuam no e para o ato sexual.
Sobre Tálassa da Mitologia Grega" title="Sobre Tálassa da Mitologia Grega" />
Conforme sustentamos, as construções teóricas de Ferenczi em Thalassa desafiam hábitos arraigados de pensamento, convocando-nos a encontrar outras maneiras de pensar. Uma das perspectivas a partir da qual Ferenczi descreve propriamente o ato sexual é suficiente para mostrar a que ponto seu pensamento, ao transgredir fronteiras e operar misturas, sai de uma lógica dicotômica. Para isso, pensemos por um momento que não há um muro entre o eu e o outro, mas um limiar, uma zona de transição indiferenciada entre estes dois polos, onde cada um deles transborda sobre o outro. E, ao mesmo tempo, retenhamos, também, a ideia de que os limites que separam as gerações podem ser transpostos sem grandes resistências, de forma que o eu pode virar mãe e vice-versa. E, simultaneamente, saibamos que o eu pode se tornar não apenas outro humano, mas também um animal de outra espécie (como um peixe), um órgão corporal (pênis, útero), uma substância (excremento, sêmen) ou até mesmo uma paisagem, um meio ambiente (oceano, terra). E, também, digamos que o tempo, tal como o entendemos, pode se comportar de maneira paradoxal, de forma que ir para frente é ir para trás, e ir para trás se consegue indo para adiante; que um simples ato consumado condensa e repete toda a história individual do sujeito e toda a história evolutiva da espécie e toda a história geológica do mundo – afinal de contas, Thalassa reúne três linhas narrativas que se paralelizam, se entrecruzam e se repetem, ainda que a partir de velocidades e intervalos diferentes: a ontogênese, a filogênese e, entre elas, a perigênese.
Balint, M. (1987). Thrills and regressions. London: Maresfield Library. (Trabalho originalmente publicado em 1959). [ Links ]