Além do peixe – que está na gênese de nossa história – um outro símbolo se tornou imortal: o “Nhô Quim”, imagem viva do nosso clube de futebol, o E.C.XV de Novembro, ou apenas XV. Tudo começou em 1948, quando o XV se tornou o primeiro time do interior a ingressar na Primeira Divisão do Futebol Paulista. Não há como descrever – para os viventes de agora – o que foi, para Piracicaba, aquela conquista, um feito que apaixonou a cidade.
De maneira predominante, tal pioneirismo é atribuído a Richard Felton Outcault com seu Yellow Kid em 1896. Mas As Aventuras de Nhô Quim foram publicadas muito antes no Brasil, na revista Vida Fluminense, em 30 de janeiro de 1869.
Obs: Há alguma divergência sobre o título de pioneirismo de Agostini, sendo que alguns pesquisadores apontam para o trabalho de Sisson como a primeira história em quadrinhos publicação no país, na revista O Brasil Illustrado, de 1855.
Uma história em que há a aliança da imagem com o texto “ganha vida” e configura-se como uma importante função de comunicação. Os quadrinhos são fonte de conhecimento, cultura, diversão e arte no mundo todo. No Brasil são conhecidos como “gibis”; no Japão como “mangás”; em países de língua inglesa temos os comics; e na Itália os fummetti. Os autores discorrem sobre os vários tipos de quadrinhos, vários autores, pertinentes a cada época, a cada situação e complexidades relacionadas às questões do ser e do mundo.
Ao todo, foram publicadas 14 histórias de Nhô-Quim, entre 1869 e 1870, no Jornal A vida Fluminense. 9 capítulos foram desenhados por Angelo Agostini e, posteriormente, mais 5 desenhados por Cândido A. De Faria.
Nhô-Quim era um jovem de 20 anos morador de uma cidade do interior. Filho único de gente rica, o rapaz se apaixona por uma pobre moça, Sinhá Rosa. O pai de Nhô-Quim, desaprovando o romance e manda o filho para um passeio à Corte com a intenção de que ele conhecesse novos ares e esquecesse de vez a Sinhã Rosa. Começa assim uma série de desventuras de um homem ingênuo e trapalhão em uma cidade grande. A história é baseado em uma forte crítica do autor aos problemas urbanos da época, dos costumes sociais e política.
Imagens também contam histórias e registram fatos e costumes de civilizações humanas: “Desenhos e imagens são usados até hoje para reproduzir o trajeto dos homens santos nas paredes e tetos das igrejas.” Histórias em quadrinhos reúnem arte, compromisso com a realidade, diversão e cultura. O artigo ressalta a importância de outros criadores na evolução dos quadrinhos, como o suíço Rudolf Töpffer com Histoire de Mr. Jabot, de 1833, e do alemão Willhelm Busch, com Max und Moritz, de 1865, traduzidos no Brasil por “Juca e Chico”. Porém, somente nas décadas de 1950 e 1960 as histórias em quadrinhos ganharam “o ritmo e o modelo das atuais”. Maurício de Sousa e Ziraldo Alves Pinto são os cartunistas mais representativos, hoje, dos quadrinhos infantis, reconhecidos mundialmente.
Independentemente de quem tenha sido o primeiro a publicar nesta linguagem, fato é que as HQs estabeleceram-se como um instrumento de diversão incomparável para crianças e adultos, “conquistando cada vez mais espaço em escolas, nas bibliotecas, nas residências, na mídia e nas universidades”, sem contar a importância dessa linguagem como instrumento de informação eloquente ao leitor quando se trata de discutir e desmistificar questões como preconceitos de cor, raça, estigmas relacionados a deficiências de toda espécie, bullying e outros temas.
Luciano Filizola da Silva – Advogado e professor auxiliar I da Faculdade Signoreli e do Centro Universitário Augusto Motta. [[email protected]]
André Luis Soares Smarra – Professor da Universidade Estácio de Sá e especialista em Fisiologia Humana, Educação e Gestão Ambiental pelo Conselho Regional de Biologia – CRBio. [[email protected]]
As Aventura de Nhô-Quim, ou Impressões de Uma Viagem à Corte foi um dos pioneiros trabalhos do mundo no desenvolvimento das histórias em quadrinhos.
Cesar Augusto Lotufo – Arqueólogo pela Universidade Estácio de Sá nas áreas de Arqueologia e Meio Ambiente, com os temas: Rio de Janeiro, Culturas Tradicionais, Histórias em Quadrinhos, Responsabilidade Socioambiental e Gestão Ambiental. [[email protected]]
Mas foi um jovem jornalista, desenhista, artista plástico de Piracicaba – Edson Rontani – quem, autorizado pelos criadores do personagem, deu a imagem definitiva, icônica, agora imortal do “Nhô Quim”. É, sem qualquer dúvida, um dos mais preciosos e importantes patrimônios culturais de nossa terra. Que, por isso mesmo, merece – e precisa! – ser mais cuidado. Quem ama cuida!
Sem desmerecer outros cartunistas, como Outcault “com o seu genial Yellow Kid”, os autores do artigo querem mostrar a relevância de cartunistas e artistas como Angelo Agostini, “que se não era brasileiro no sangue o era por opção”, pioneiro na arte dos quadrinhos, encantando públicos de todas as idades e proporcionando ao leitor “sonhos, aventuras, humor e olhar crítico sobre o mundo”. Clamada pelos autores “como uma verdadeira história em quadrinhos”, As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de Uma Viagem à Corte viajou o mundo e foi consagrada tanto por ser uma obra pioneira no gênero como também, aqui no Brasil, por contar a história de um personagem representativo interiorano, ingênuo e desastrado, dando margem para que Angelo Agostini se posicione criticamente diante dos graves problemas que aparecem nos centros urbanos brasileiros, principalmente os sociais, os culturais e os políticos.
Nataniel dos Santos Gomes – Professor da Graduação e do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. [[email protected]]
O primeiro capítulo foi publicado no dia 30 de janeiro de 1869 e é considerada a primeira história em quadrinhos publicada no Brasil. A data foi estipulada por pesquisadores da Associação dos Quadrinhistas e Cartunistas de São Paulo em 1984. Ela é considerada a primeira do gênero do país porque, além de estruturada em narrativa gráfica inovadora, possuída um personagem fixo durante.
O jornal “A Gazeta Esportiva” era, à época, um dos mais influentes veículos de imprensa nacionais. E o futebol, uma paixão ainda mais explosiva do que atualmente. Estávamos às vésperas da Copa Mundial de Futebol no Brasil, em 1950. Tudo era orgulho, entusiasmo, alegria, tornados tristeza inenarrável com a derrota do Brasil, ao final, para o Uruguai. O XV e Piracicaba estavam mergulhados naquele universo nervoso e apaixonante. A “Gazeta Esportiva” criava, para os clubes, nomes figurativos, figuras, símbolos. O Corinthians era o Mosqueteiro; o São Paulo, o Velhinho; o Palmeiras, o Papagaio. Então, um dos jornalistas daquele diário, criou, para o XV, a figura de um caipira esperto, simpático. E o diretor do jornal, o célebre Thomaz Mazzoni, deu-lhe o nome: “Nhô Quim”. Aquela figura caipira era o “Senhor Quinze”, o “Nhô Quim” – uma síntese, pois, de toda uma nossa preciosa cultura que é a caipiracicabanidade.
Os quadrinhos brasileiros acompanharam, testemunharam, divulgaram e denunciaram questões sociais, políticas, econômicas e culturais de cada momento da história brasileira. A linguagem das histórias em quadrinhos, a narrativa, as linguagens verbais e não verbais, o uso do recurso do balão de texto, o emprego da expressão anatômica, a cenografia, a escolha das cores são abordagens presentes.
O mundo está cada vez mais visual, e se o ser humano tem uma inata predisposição para ouvir histórias, contá-las e recontá-las, hoje, mais do que nunca, as pessoas gostam de ver as histórias. Entre as narrativas contadas por textos e imagens, a linguagem mais representativa é a que se encontra nas histórias em quadrinhos. Mas como surgiram, e quem as criou? O artigo da revista 9ª Arte nos apresenta o primeiro personagem das histórias em quadrinhos no Brasil, Nhô Quim, e seu criador, o ítalo-brasileiro Angelo Agostini. Na visão dos autores do artigo, a ausência dos balões – ainda adotada por muitas histórias modernas – não descaracteriza a obra como HQ. Isso permite reabrir “a discussão sobre qual seria a primeira história em quadrinhos publicada no mundo”.