A Língua Portuguesa possui uma extensa gama de palavras, mas algumas delas são parecidas e podem gerar confusão na hora de falar ou escrever para quem utiliza esse idioma. Neste contexto, as expressões despercebido e desapercebido são exemplos desse tipo de acontecimento, mas existem sentidos distintos para essas palavras.
Gostou das dicas? Aproveite para compartilhar com um amigo e continuar aprendendo mais. Você sabe quando usar pego ou pegado?
Enxergar ou enchergar: é com x ou ch?
Sendo assim, para saber quando usar cada um é importante entender o conceito e quais são as classificações gramaticais que assumem dentro das frases. Para auxiliar no processo de aprendizagem, pode-se utilizar dos sinônimos aceitos e também de alguns exemplos. Saiba mais informações a seguir e aprenda sobre essas palavras:
Assim como a palavra anterior, “desapercebido” também é um adjetivo. Refere-se ao sentido de alguém/ algo com falta de cuidado. Desapercebido é sinônimo de palavras como: distraído, descauteloso, desprevenido, desprovido.
Em virtude de tal ocorrência, bem como da necessidade de nos mantermos bem informados acerca dos fatos linguísticos, é que reside o intento do artigo – definir as diferenças entre ambas as palavras. Nesse sentido, ocupemo-nos em analisá-las:
Neste caso, os sinônimos aceitos são “desacautelado”, “desprevenido” e “desaparelhado”, enquanto os antônimos são “apercebido” ou “notado”. Confira algumas frases a seguir:
Qual é o certo: interviu ou interveio?
Existe uma diferença muito sutil entre os dois adjetivos – tanto na grafia como no sentido. Preste muita atenção que vamos esclarecer o que elas significam e quando você deve usá-las:
Assim escreveram nossos bons escritores. Em Eça, o pecaminoso padre Amaro esgueirava-se com sua namorada, "despercebidos da Totó", velha doente e entrevada. Machado fala de uma obra que "passou despercebida no meio da indiferença geral". Euclides da Cunha descreve uma manobra dos jagunços, em Canudos, "um movimento contornante despercebido", que pegou o exército de surpresa. Já o mesmo Machado, numa crônica em que descreve as risonhas batalhas entre os fãs das cantoras líricas do Rio de Janeiro, diz que eram "batalhas campais, com tropas frescas, apercebidas de flores, de versos, de coroas, e até estalinhos". Euclides, por sua vez, descreve agora a visão distante de "fulgores vivos de armas cintilantes, como se em rápidas manobras forças numerosas ao longe se apercebessem para o combate", ou o estado lastimável do comandante, "sem carretas para o transporte de munições, desapercebido dos mais elementares recursos".
Qual a diferença entre “mantém” e “mantêm”?
As duas formas, como era inevitável, começaram a ser confundidas, principalmente (se não exclusivamente) no sentido de "ser visto, ser notado, ser sentido", que é o mais importante. Nada de novo, aqui: afinal, são dois verbos (e respectivos derivados) extremanente parecidos, que só se distinguem por um "a" inicial (perceber x aperceber), um fonema que, nesta posição, tem muito pouca personalidade (lembro as formas variantes alevantar:levantar, amostrar:mostrar, etc., tão numerosas na história da língua). E não é confusão nova, contemporânea do Português desleixado do rádio e da televisão: no Morais (repito: a edição é de 1813), já um vocábulo está invadindo a seara do outro. Ali se vê "perceber-se: aparelhar-se"; "percebido: acautelado, atentado nas coisas que alguém há de fazer"; "percebimento: o ato de aperceber, ou aperceber-se, aparelhar-se". Despercebimento é definido como "desaparelho, falta de preparos" (em todos esses exemplos, esperaríamos desaperceber-se, desapercebido, desapercebimento). Euclides da Cunha, do fim do séc. XIX, também já demonstra hesitação, mas em sentido oposto: usa "apercebiam o assovio" (em lugar de percebiam); falando da ignorância geral dos praças do exército, diz que a soldadesca era "inapta ao apercebimento da lei física que explicava [tais fatos] " (em lugar de percebimento ou percepção). Era como se as duas formas, em luta, estivessem disputando, num cabo-de-guerra vocabular, qual delas ficaria com tudo.
Este vocábulo só exerce a função de adjetivo. Refere-se ao sentido de algo/ alguém “que não é percebido”, não observado, imperceptível, distraído, desatento ou algo “que não chamou atenção”. Veja alguns exemplos em frases.
Como eu já disse em outras ocasiões, repetindo meu mestre Celso Pedro Luft: usar um vocábulo pelo outro, eu não faço; mantenho sempre aquela distinção inicial descrita acima; quando me perguntam, aconselho também a mantê-la, porque tenho aquele sentimento incontrolável de que a perda de uma distinção é sempre um empobrecimento do idioma. Mas, e os outros com isso? Portanto, Beatriz, posso afirmar que vocês dois tinham razão - e eu nem sei qual o ponto de vista que cada um defendia!
Exceção ou excessão: qual é o certo?
Por definição, a palavra despercebido é um adjetivo que caracteriza aquilo que não se pode perceber ou notar, ou algo que não se pode sentir e perceber pelos sentidos. Dentro dessa definição, os sinônimos possíveis são “imperceptível” e “impercebível”, enquanto os antônimos são “notado”, “percebido” e “observado”. Confira algumas frases de exemplo:
Nada mais natural, por isso, que os respectivos antônimos guardassem a mesma diferença. Desapercebido é o que não está apercebido, isto é, não está preparado, não está prevenido, não está aparelhado, nem acautelado. Encontro, no Morais, "desapercebidos de pólvora, armas e navios"; "enganaram-se os entendimentos desapercebidos das pessoas simples". Despercebido, por outro lado, significa aquilo que não se percebeu, que não se sentiu, viu ou ouviu": "o gesto não passou despercebido dos que assistiam à cena"; "foi uma picada de inseto leve, quase despercebida".
Já o adjetivo desapercebido (com a) refere-se a algo que se encontra despreparado. Quando não há o cuidado necessário, como alguém desprevenido ou desprovido de algo.