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Na época, a Bahia também era marcada pela crise econômica e a escassez que atingiram os segmentos mais pobres e cativos da cidade — o que, mais tarde, fez com que se transformasse em palco da revolta.
Segundo Maske, o levante pode ser representado pela conjunção de conflitos de classe, etnia e religião, comuns a boa parte da população da época. "Embora tenham participado não apenas escravos, mas também libertos, foi possível construir uma identidade entre ambos baseada em experiências comuns: o próprio cativeiro, a experiência de trabalho nas ruas, as condições de vida muito parecidas e a discriminação racial", afirma.
O ápice das manifestações aconteceu no final do Ramadã de 1835, o nono mês do calendário islâmico, dedicado ao jejum e reflexão espiritual, período sagrado para os muçulmanos.
Após o conflito, as forças policiais procuraram por líderes e envolvidos. Foram recolhidos objetos como tábuas para ensinar a ler e a escrever em árabe, documentos contendo frases do Alcorão e vestimentas como túnicas brancas. Segundo Maske, mais de 500 pessoas foram punidas com açoites, prisões e deportações. Dos revoltosos, 281 foram condenados à prisão e 16, à morte.
Talvez tivéssemos um estado islâmico no norte do país ou um país inteiro islâmico, que influenciaria as nossas culturas e costumes, além de diminuir a influência do Cristianismo na nossa sociedade, deixando apenas religiões de matriz africana como a Umbanda e Candomblé.
Os malês — "muçulmanos", na língua iorubá — eram povos africanos escravizados que, impedidos de exercer suas crenças islâmicas, organizaram um movimento de resistência motivado pela repressão das autoridades baianas.
Você sabia que na história do Brasil, já estivemos perto de ter uma República Islâmica? Talvez isso ocorresse caso a Revolta dos Malês fosse bem-sucedida, ocorrida no século XIX no estado da Bahia.
O plano era de atacar a cidade pela manhã do 25 de janeiro. Era domingo e a população estava reunida em torno da igreja do Senhor do Bonfim, o que seria o cenário perfeito para um ataque surpresa.
Isso era uma tentativa do governo da época de acabar com qualquer relação do escravizado com sua terra natal e sua ancestralidade. Desta forma apagavam a identidade dos negros que chegavam ao Brasil.
Os levantes se inspiravam em revoluções anteriores, como a revolução haitiana de 1804, quando os escravizados mataram todos os franceses da ilha caribenha e se tornaram um país independente.
O grupo queria tomar para si seus direitos de realizar festas religiosas, ir à mesquita e, claro, ter sua liberdade. Por isso, organziaram uma rebelião que, mesmo que por apenas poucas horas, tomou as ruas da cidade. O primeiro alvo a ser atingido foi a Câmara Municipal de Salvador, cujo subsolo guardava a prisão onde se encontrava Pacífico Licutan, um dos mais populares líderes malês.
O primeiro negro a ser resgatado seria Pacífico Licutan, conhecido como Bilal, era o líder de revolta dos Malês, que estava preso para pagar dívidas do seu senhor.
A jovem teria sido uma africana alforriada que trabalhava como quituteira e teve participação essencial na articulação do movimento. O romancista Armando Avena, autor do livro Luiza Mahin: Os amores e a luta da líder da rebelião que reuniu todas as etnias para libertar os escravos e fundar um Estado Islâmico no Brasil (Geração editorial, R$39,90, 232 páginas), defende que ela teria sido uma das mais importantes heroínas brasileiras.
Acredita-se que Luiza teria sido mãe de Luiz Gama, primeiro poeta negro brasileiro. Em uma carta escrita por ele em 1880 destinada ao jornalista Lúcio de Mendonça, Gama descreve sua mãe como uma mulher bonita, de baixa estatura e dentes “alvíssimos como a neve”. Nos traços de sua personalidade destacam-se a geniosidade e a sede por vingança. "Mahin está no imaginário da população brasileira, sobretudo da população negra. Ela é geralmente retratada como uma princesa que seria uma das articuladoras da revolta", diz Armando.
No entanto, três libertos denunciaram o movimento, antecipando os acontecimentos. Antes da ocorrência do conflito, policiais invadiram a casa em que cerca de 60 africanos se reuniam.
No início do século 19, a cidade de Salvador contava com, aproximadamente, 65 mil habitantes, dos quais cerca de 40% eram escravos oriundos de Cabinda, Benguela e Luanda. Quando incluídos homens livres e alforriados, os negros e mestiços representavam 78% da população.
Numerosos em Salvador, eles se reuniam para cultuar Alá, realizavam leituras do Alcorão e ensino da língua árabe. Todas essas atividades deveriam ocorrer de maneira escondida, uma vez que eram punidos e obrigados a aceitar o catolicismo.
Desta forma, os malês planejavam fundar uma república islâmica ortodoxa na Bahia, que dominaria a princípio a cidade de Salvador e o Recôncavo baiano e posteriormente iriam dominar o estado de Pernambuco, após libertar todos os escravizados muçulmanos.
Os objetivos eram, entre outros, acabar com a imposição do catolicismo, abolir o regime escravocrata e fundar uma república islâmica no nordeste do Brasil. Esse movimento ficou conhecido como a Revolta dos Malês.
A Revolta dos Malês reuniu por volta de 600 negros e mestiços de Salvador para lutar por direitos. Na foto, a obra "Navio negreiro" de Johann Moritz Rugendas, criada em 1830 (Foto: Reprodução/ONU)