Por Ricardo Maluf, do programa “Destino Incomum”
Um pouco mais adiante está o bloco 11, também conhecido como “Bloco da Morte” –como se todo o resto do complexo não merecesse a mesma alcunha. Este bloco recebeu este título pois aqui funcionava a “prisão da prisão”. Nos andares superiores funcionavam escritórios da SS, enquanto no subsolo haviam celas de tortura dos mais variados tipos: celas em que o prisioneiro era privado de luz, de ar, de comida; ou que era obrigado a ficar de pé.
Acreditamos que nenhum outro local no planeta tenha uma atmosfera tão carregada, impregnada de horror e sofrimento como Oświęcim e Brzezinka. Apesar da tristeza, é um local que, ao menos uma vez na vida, todos deveriam visitar. Seja para testemunhar pessoalmente tal barbárie, seja para homenagear quem ali pereceu.
Os judeus que viviam em países ocupados pelos nazistas foram os primeiros a serem deportados para os campos de trânsito, tais como o de Westerbork, na Holanda, ou o de Drancy, na França, e de lá eram posteriormente enviados para os centros de extermínio localizados na Polônia ocupada. Os campos de trânsito eram geralmente a última parada dos prisioneiros antes de serem enviados para serem sacrificados nos campos de extermínio.
Você provavelmente nunca deve ter ouvido falar em Oświęcim ou Brzezinka, mas provavelmente as conhece por seus nomes alemães: Auschwitz e Birkenau, respectivamente. São dois pequenos vilarejos no sul da Polônia, e é aqui que se localizam os maiores campos de concentração do mundo, onde mais de 1,5 milhão de pessoas foram assassinadas durante o regime nazista. Sem dúvida alguma é um dos lugares mais tristes e pesados que se pode conhecer.
Assim como os barracões, as câmaras de gás também foram dinamitadas, mas é possível constatar o tamanho delas, cuja capacidade operacional máxima permitia exterminar entre 8 a 10 mil pessoas por dia.
Entre 1933 e 1945, a Alemanha nazista construiu mais de 40.000 campos [de extermínio e aprisionamento], além de outros centros de carceragem. As construções foram levantadas com distintas finalidades, entre elas a de servirem como campos para trabalho escravo, campos para detenção de pessoas vistas como inimigas do Estado, e também como centros de extermínio em massa. O número total de instalações é baseado em pesquisas [ainda em andamento] que se baseiam em relatórios dos próprios perpetradores.
O campo de Birkenau, diferente de Auschwitz, não foi transformado em museu com exposições, ele permaneceu intocado. Cerca de cinco ou seis vezes maior, podia abrigar cerca de 90.000 pessoas ao mesmo tempo e já na entrada podemos ver outro crime de guerra cometido pelos nazistas: a grande maioria dos barracões –estes em sua maioria de madeira– foi destruída e incendiada, no intuito de esconder o que foi feito, alguns dias antes dos russos libertarem o campo. Infelizmente, com os prisioneiros dentro.
Cerca de três horas depois de entrarmos no campo de Auschwitz, chegamos ao local que esperávamos ser o mais chocante –e que certamente ficará marcado em nossas mentes para sempre: a câmara de gás. Lá o ar pesa toneladas e as paredes contam por si próprias a história do que aconteceu ali, contendo as marcas do desespero das pessoas. Em diversos pontos é possível ver os arranhões feitos pelas unhas, numa tentativa em vão de fuga. A câmara é relativamente pequena, comparada às de Birkenau, e possui apenas dois fornos crematórios. A construção foi adaptada de um antigo bunker de munição, já existente, da época que o complexo era do exército polonês.
Milhões de pessoas foram aprisionadas e submetidas a todo tipo de abusos nos campos nazistas. Sob a administração das SS, apenas nos centros de extermínio, os alemães e seus colaboradores locais assassinaram mais de três milhões de judeus. Apenas uma ínfima parte dos prisioneiros levados para os campos conseguia sobreviver.
Para nós ficou claro que este local merecia ser visitado –para tal acontecimento, nunca é demais ter sua história relembrada. Começamos nossa jornada em busca de Destinos Incomuns do Leste Europeu por Chernobyl e, após conhecer a vizinha Wieliczka, optamos por passar mais dois dias na região e explorar a fundo os campos.
Saímos de manhã cedo da estação central de Cracóvia para fazer o percurso de cerca de 65 km que nos separavam de nosso destino — Oświęcim. O trajeto leva cerca de uma hora, em uma minivan, e o ponto final é na porta do “complexo”. O dia estava feio e chuvoso, muito frio e carregado de nuvens escuras, exatamente como é a atmosfera do local.
Entrar, mesmo que por poucos instantes, em uma das celas em que você não tem espaço para se sentar ou deitar, e vivenciar a sensação, foi uma das piores experiências que já tivemos. Não conseguimos imaginar como não perder o juízo depois de três ou quatro horas nessa situação, quiçá dias.
Após invadir a União Soviética em junho de 1941, os nazistas aumentaram o número de campos para prisioneiros-de-guerra (POW). Algumas daquelas então novas instalações foram construídas dentro de complexos onde já existiam campos de concentração (como o de Auschwitz) na Polônia ocupada. O campo de Lublin, mais tarde conhecido como Majdanek, foi construído no outono de 1941 para servir como campo de prisioneiros-de-guerra e, em 1943, transformou-se em um campo de concentração. Lá, foram fuzilados ou envenenados por gás milhares de prisioneiros de guerra soviéticos.
Os nazistas construíram câmaras de gás (locais onde eram colocados os prisioneiros e que, em seguida, tinham suas portas hermeticamente fechadas e seus interiores preenchidos com gases venenosos) para tornar o processo de assassinato em massa mais eficiente, rápido, e menos traumático para aqueles que o executavam. Localizado dentro do complexo de Auschwitz, o centro de extermínio de Birkenau possuía quatro câmaras de gás. No auge das deportações para aquele local, o número de judeus lá assassinados a cada dia era de 6.000 pessoas.
Após a invasão da Polônia em setembro de 1939, os nazistas criaram campos de trabalho forçado onde centenas de milhares de prisioneiros morreram devido à exaustão, à inanição e aos maus tratos a que eram submetidos. As unidades das SS faziam a segurança dos campos. Durante o período da Segunda Guerra Mundial, o sistema de campos de concentração nazistas expandiu-se rapidamente. Em alguns dos campos, médicos nazistas usavam os prisioneiros como cobaias em suas experiências “médicas”.
Começando a assimilar tudo que estávamos vendo, que tudo eram evidências das atrocidades perpetradas, nos dirigimos ao próximo barracão. Estes barracões, feitos de alvenaria e com 3 andares (subsolo, térreo e primeiro andar), podiam abrigar cerca de 3.000 pessoas cada. Quando entramos vimos a placa “Provas dos crimes”. Logo de cara vemos uma maquete de como funcionava as câmaras de extermínio, e quantas pessoas podiam ser mortas ao mesmo tempo.
Arranhões feitos pelas pelas pessoas numa tentativa de fuga da a câmara de gás[/img]