Acontece que o mundo vêm mudando, devagar é verdade, mas já é notável que o papel da mulher na sociedade têm adquirido novas variações e uma das razões para essas alterações pode ser explicada pelo fato de estarmos mudando nossa percepção sobre o que nos cerca, pois quando mudamos a maneira de pensar a respeito do mundo, somos capazes de alterar a maneira como agimos e percebemos tudo ao nosso redor. E dentro desse contexto podemos destacar que essas mudanças atingem também o universo capoeirístico, tendo em vista que a capoeira é formada por pessoas e é através da evolução dessas que é possível modificar os pensamentos, outrora, tidos como normais na sociedade. Mas para falar da mulher na capoeira é preciso voltar um pouco no tempo e mencionar como elas eram tratadas quando relacionadas à prática de exercícios e de atividades esportivas. E, nesse sentido, a defasagem histórica da mulher que resultou, na atualidade, de sua menor participação em tais modalidades.
Ao ocuparem espaços historicamente dominados por homens, as mulheres estão contribuindo para a construção de uma sociedade mais igualitária e justa. Além disso, a presença feminina na capoeira traz novas perspectivas e possibilidades para a arte marcial, enriquecendo-a ainda mais.
Muitas mulheres relatam que a capoeira as ajudou a desenvolver mais confiança em si mesmas e em seus corpos, além de proporcionar um senso de comunidade e apoio entre as praticantes.
Mas isto não ajuda na roda. Jô expressa que “quando a competição entre as mulheres acabar, serão mais unidas. Guerreira está de acordo e recomenda que as mulheres devem “ser mais simples” com o seu jogo na capoeira, e Suelly incentiva as mulheres a “continuar jogando a capoeira e expressando a sua história pessoal. Contribua e jogue muito. Ser afetado pela capoeira e afeta-la”. Jô adiciona “nunca perca o seu feminismo!”.
O Coletivo de Estudos e Intervenções Musicais Marias Felipas é composto por mulheres capoeiristas, pesquisadoras, educadoras e ativistas. Em 20 de julho de 2019, lançou em Salvador (BA), o Documentário Mulheres da Pá Virada. Do meu ponto de vista, este documentário é um contundente registro de mulheres capoeiristas de distintas gerações.
Desejando compartilhar da seguinte sabedoria com todos as mulheres na capoeira, Marrom declara, “as mulheres não devem esquecer de ser mulheres. Jogue como uma mulher e lembrem-se de ser feminina porque é isso que faz as mulheres na capoeira realmente bonitas. Não somos grandes monstros; nem mesmo homens. Nós somos fortes e femininas.”Iêee viva a mulher na capoeira, camará!!!
Porém, isso não as impede de dedicar-se com afinco à capoeira. Uma jovem angoleira explica que: “A capoeira me ajuda a trabalhar certas maneiras de estar no mundo que eu não teria de outra forma. É um trabalho em ação , é no corpo” (Zonzon, 2017: 304).
Além disso, a representatividade feminina na capoeira é fundamental para que as mulheres se sintam acolhidas e respeitadas dentro da comunidade da arte marcial. Quando as mulheres são valorizadas e reconhecidas em suas habilidades e contribuições, isso ajuda a criar um ambiente mais saudável e inclusivo para todos os praticantes.
Provavelmente por não poder pagar sua ama, e bastante nervosa, Maria Elisa começou uma briga com Manoel Santana. “[Dessa forma], vendo-se acuada e em desvantagem, utilizou-se da única arma disponível naquele momento e atacou seu adversário a golpes de capoeira”. (Pires, 2004, 113-114).
A integração nas pautas dos grupos da reivindicação de igualdade de gênero (que vem associada à luta antirracista, notadamente pelo viés da “mulher negra”) testemunha esse fenômeno de forma patente, já que questiona a atribuição de saberes e poderes vigentes no universo tradicional.” (Zonzon, 2017: 306)
No Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, lembrado hoje (25), especialistas avaliam que a capoeira pode servir como estímulo ao resgate da identidade racial de mulheres. Entretanto, a prática tem sido descaracterizada ao longo dos anos e afastado a presença feminina, principalmente, negra.
Desde 2014, a roda de capoeira é reconhecida como patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Em 2008, a prática recebeu o título de Patrimônio Cultural Brasileiro.
Além disso, a presença feminina na capoeira está ajudando a ampliar a visão sobre o que é possível para as mulheres em termos de habilidades físicas e mentais. Ao desafiar estereótipos e limitações, as mulheres estão mostrando que são capazes de muito mais do que se imaginava.
A presença feminina na capoeira pode vir a promover novos paradigmas no mundo da capoeira, pois parte outro lugar social, qual seja, o daquelas que são objeto da violência – dentro de uma sociedade marcada pelo machismo e, nunca é demais lembrar, pelo racismo.
Esse preconceito pode se manifestar de diversas formas, desde comentários machistas até a limitação do acesso das mulheres a certos espaços ou posições dentro da hierarquia da capoeira.
Outra ação para o empoderamento feminino foi a criação de alguns coletivos formados por mulheres, como, por exemplo, Mulher & Capoeira, Obirimbau – Berimbau Feminino e o Movimento Mulher-Capoeira, do qual faço parte. Nós o formamos em Piracicaba no início de 2018 e suas participantes são capoeiristas (entre elas, contramestras e professoras de diferentes grupos de capoeira da cidade, bem como pesquisadoras) que, por meio da partilha de conhecimentos e vivências, buscam fortalecer a representatividade do feminino na capoeira.
A capoeira, arte marcial brasileira que mistura dança, música e luta, teve sua origem nos tempos da escravidão no Brasil. Naquela época, a prática da capoeira era proibida e considerada crime, o que levou seus praticantes a se esconderem e a desenvolverem técnicas de luta disfarçadas de dança.
“A capoeira tem cor, tem uma história. Acho que ela faz esse religar, traz um pertencimento que não é somente racial, mas também étnico, porque envolve ancestralidade, símbolos culturais e afirmação da negritude”, completa.
O Grupo Nzinga de Capoeira Angola nasceu em 1995, quando Janja mudou de sua cidade natal ‑ onde havia se graduado em História pela Universidade Federal da Bahia ‑ para a capital paulistana e ingressou no Mestrado e no Doutorado, junto à Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Na década de 1990, vieram unir-se ao Grupo Nzinga, Paula Barreto (hoje Mestra Paulinha) e Paulo Barreto (atual Mestre Poloca) que participavam do GCAP em Salvador desde a sua fundação. Como está postado no site do grupo:
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