As discussões sobre gênero sempre estiveram presentes em nossa História. No ano passado, algo que veio à tona foi a reafirmação dos padrões de cores entre meninos e meninas, sob o discurso de Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos “menino veste azul e menina veste rosa”. Mas o que poucos sabem é que essas cores foram impostas em um passado recente, o que demonstra as bases fluidas sob as quais estão assentadas.
Foi apenas na esteira da Segunda Guerra Mundial que o cenário mudou. Entre 1920 e 1950, com a crescente industrialização dos EUA, o azul passou a ser subitamente comercializado por varejistas como a cor perfeita para homens, enquanto marcas de moda afirmavam que o rosa era a cor mais delicada.
Se uma mãe que criou seus filhos no início do século 20 entrasse em uma loja infantil hoje em dia, ficaria horrorizada com as roupas destinadas às garotinhas: nessa época, o rosa lembrava o vermelho do sangue, simbolizando força e masculinidade. Por mais estranho que nos pareça, esse padrão só se modificou com a industrialização dos EUA no pós-guerra.
Podemos e devemos racionalizar as formas de ação e reação diante das estratégias das novas direitas no mundo todo. Nossa energia e capacidade são limitadas. Mas enfrentar esse desafio deixando pessoas pra trás não me parece a solução.
A fala de Damares Alves foi feita no mesmo dia de sua solenidade de apresentação como ministra e posse do cargo. É possível ver que ela usa a mesma roupa mostrada nas fotos oficiais. O vídeo que circula na internet mostra que Damares fala para um grupo de pessoas, mas não se sabe se ele foi gravado antes ou depois da posse.
Aliás, é sempre bom lembrar da diferença entre gênero e sexualidade: enquanto orientação sexual é a atração por pessoas do mesmo sexo, de sexo diferente ou ambos, gênero é a forma como a pessoa se identifica, não dependendo de sexualidade ou do órgão com o qual a pessoa nasceu.
Diversionismo seria criar polêmicas sem reflexo na realidade. Seria falar que o sol é quadrado. Isso sim é uma polêmica inútil e irrelevante. Uma fala que reafirma desigualdades e papéis de gênero e sexualidade deveria ser veementemente combatida por uma esquerda que mereça esse nome no século XXI.
Essa tendência também acontecia na arte: a Virgem Maria era representada com um manto azul, enquanto que Jesus era coberto com um manto vermelho. E, de igual maneira, na Europa, em muitos orfanatos, os varões usavam roupa vermelha ou rosa e as meninas azul.
As declarações da Ministra Damares têm reflexo na vida do menino afeminado que usa cor de rosa e sofre bullying, da menina trans que não consegue ir na escola, das mulheres que são espancadas por seus maridos. Isso não é diversionismo. Isso é efeito concreto de ideologia na vida das pessoas.
“Diversionismo ideológico”, “cortina de fumaça” e “confusão no debate público” são fórmulas que pessoas de esquerda têm usado para se referir às polêmicas geradas pela Ministra Damares.
"Meninas usam azul meninos usam rosa e a mistura de azul e rosa é roxo que significa #ELENÃO! “quase 6 milhões de crianças sem pai no registro, quinta maior taxa de feminicídio do mundo, mais de 20 milhões de mulheres criando seus filhos sozinhas, violência doméstica, adultério, pai sem pagar pensão, criança morando na rua, e a ministra preocupada que menino tem que vestir azul e menina tem que vestir rosa."
Boa parte da esquerda brasileira ainda não entendeu que as agendas de gênero e sexualidade são centrais em qualquer projeto de emancipação. Identidades, que não a de classe, são vistas como “pequenos dramas da humanidade”, como lutas particulares e fragmentárias, geradoras de divisões internas e enfraquecimento do nosso potencial de mobilização social.
Quase 6 milhões de crianças sem pai no registro, quinta maior taxa de feminicídio no mundo, mais de 20 milhões de mulheres criando filho sozinhas, violência doméstica, adultério, pai sem pagar pensão, criança morando na rua, e a ministra preocupada que menino tem que vestir azul e menina rosa.
No Twitter, a hashtag "Cor Não Tem Gênero" chegou a ser o assunto mais comentado no Brasil, nesta quinta-feira (3 de janeiro). "Damares" ficou em segundo lugar entre os temas mais falados.
Atualmente, com a ascensão mundial da extrema direita, ressurge, sob outra roupagem, o discurso de que são os grupos identitários os maiores responsáveis pela reação conservadora. Essa é a moda lá fora e que um monte de gente está importando sem querer entender o que é o Brasil.
Na última quarta-feira (2/1), após seu discurso de posse, a ministra Damares Alves, da pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, fez a seguinte afirmação: “menino veste azul e menina veste rosa”. A polêmica frase gerou um rebuliço na internet, entre apoiadores e opositores da ministra. No Twitter brasileiro, a hashtag #cornãotemgênero se tornou um dos principais assuntos do momento.
Em todo o caso, essa tendência é mais ocidental, já que em muitas tribos africanas não existe esse tipo de separação de sexos por cores, nem tão pouco uma tendência de preferência pelo azul em meninos e rosa pelas meninas.
Perfeito Renan Quinalha, eu sou gay e sofri desde muito cedo a intolerância e o preconceito da família, fui vítima de bullying homofóbico por parentes e sofri violência sexual por um primo. É triste e lamentável que uma uma ministra faça um discurso tão raso quanto nefasto que pode ser o combustível para alimentar a sanha de intolerância por parte das pessoas. Precisamos nos unir e combatermos com todas as nossas forças qualquer tentativa de nós colocar de volta ao armário.