Na primeira edição do Adaptação de 2021, o filme escolhido é o premiadíssimo e implacável Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), adaptado e dirigido pelos consagrados irmãos Joel e Ethan Coen a partir da obra Onde os Velhos Não Têm Vez (2005), do escritor norte-americano Cormac McCarthy.
O escritor, ainda em atividade, é pouco conhecido pelos leitores brasileiros, mas suas obras mais relevantes e títulos mais recentes já foram traduzidos para o português, como Meridiano de Sangue (1985) e a trilogia da fronteira, composta pelas obras Todos os Belos Cavalos (1992), A Travessia (1994) e Cidades da Planície (1998), além de Onde os velhos não têm vez (2005) e A Estrada (2006), livro vencedor do Prêmio Pulitzer de Ficção em 2007.
Cormac nasceu em 20 de julho de 1933, na cidade de Providence, em Rhode Island, região nordeste dos EUA. Criado pela família dentro do catolicismo romano, ele frequentou a Catholic High School em Knoxville, depois foi para a Universidade do Tennessee, onde estudou Artes de 1951 a 1952. No ano seguinte, ingressou na Força Aérea dos Estados Unidos, em que serviu por 4 anos, passando dois deles no Alasca.
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O enredo deste western, que se passa no começo dos anos 80, é movido pela caça de Llewelyn Moss (Josh Brolin), um homem comum que encontra em uma de suas caçadas uma bolsa com 2 milhões de dólares, próximo a um local no meio do nada, onde aconteceu um conflito entre traficantes de heroína e quase todos foram mortos. Moss vê na bolsa uma oportunidade de mudar de vida e decide pegá-la e fugir sem pensar nas consequências. Chigurh é contratado para recuperar a quantia e acabar com a vida de Moss, levando muito a sério sua missão - para ele não importava encontrar o dinheiro, mas sim, caçar Llewellyn como uma presa. Moss representa na história uma espécie de “mocinho”, que acaba tendo sua trajetória alterada pelas más escolhas, afetando todos ao seu redor. Ele, que apenas buscava uma oportunidade melhor, passa a ter Chigurh, os líderes do cartel e o Xerife Bell na sua cola, o último sabia da boa índole de Moss e tenta salvá-lo.
A caracterização e personalidade de Chigurh é um dos pontos altos do filme, sendo um psicopata extremamente sério, que não esboça emoções, mantendo uma tranquilidade desesperadora nos momentos mais tensos da trama, causando uma sensação de angústia tanto em suas vítimas quanto nos espectadores. Seu cabelo é caricato e contrasta com sua imagem dura, assim como seus diálogos, que apesar do conteúdo agressivo das cenas, conferem um tom cômico ao trágico da carnificina apresentada na tela. A adaptação primorosa dos Coen tornou o filme umas das obras mais elogiadas da dupla, conquistando entre muitos prêmios, a estatueta do Oscar de Melhor Filme em 2008.
Moss encontra uma maleta cheia de dinheiro, que além das incontáveis notas, possui um rastreador. Com isso, o brutal matador de aluguel Anton Chigurh (Javier Bardem) é contratado para recuperar a mala, e não hesitará em matar qualquer um que dificulte sua missão.
Baseado no livro de Cormac McCarthy, o longa se desenrola após o caçados Lewelyn Moss (Josh Brolin) se depara, no deserto, com o que sobrou de uma negociação de drogas, que provavelmente deu errado e resultou no assassinato de praticamente todos os envolvidos.
O número de prêmios e indicações recebidos pelo filme é de tirar o chapéu! Segundo o IMDb, o filme ganhou 163 prêmios e recebeu 140 indicações. No Oscar de 2008, levou as estatuetas de Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante (para Javier Bardem, nosso temido Anton Chigurh) e Melhor Direção.
O vilão seria o destino inevitável. Repare que quase a totalidade dos alvos de Chigurh são pessoas mais velhas e/ou aposentadas. Ele caça Moss, um aposentado. Quando contratam outro matador para enfrentá-lo (outro aposentado), é o próprio Chigurh quem o caça. O Xerife sequer consegue manter o ritmo do vilão. E no final, é Chigurh quem sai vivo da história.
Podemos perceber na adaptação uma escolha por centrar a história na perseguição de Chigurh, o que no livro é apenas um pano de fundo para as reflexões do Xerife Bell sobre a ganância e essência do bem e do mal. Tal escolha se dá pelo estilo de fazer cinema dos irmãos Coen, trabalhando a agressividade das cenas e dando mais movimento ao filme, mas sem perder a essência da obra de McCarthy.
Estes planos não só valorizam a estética do design de produção de Nancy Haigh e Jess Gonchor, como indicam um detalhado trabalho de storyboard, seguido à risca pelos diretores. Em complemento, a opção pelo silêncio em diversas sequências torna tenso até mesmo o som de uma moeda girando sobre a mesa, e a montagem impecável de Roderick Jaynes (pseudônimo dos irmãos Coen), praticamente encurrala Moss a todo momento de sua fuga.
Se você já assistiu ao filme ou ainda vai assistir, perceba que a trilha sonora é composta por quase silêncios absolutos, tendo foco para sons como: o trem que passa na ferrovia, o barulho das algemas tilintando, os passos tranquilos e firmes das botas de Chigurh. Essa ausência musical intensifica a sensação de tensão e suspense! Onde os Fracos Não Têm Vez possui apenas 16 min de música composta, incluindo os créditos finais. No artigo de Paulo de Tarso para o Cine em Cena, você pode conferir mais sobre como funcionam os silêncios no cinema! Disponível aqui!
Poderia ser, como as bases apontam, mais uma comum história de “gato e rato”, mas a habilidade dos irmãos Coen para discutir temas como consciência e destino faz com que o patamar do filme se eleve, principalmente pela força do personagem de Bardem.
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Uma interpretação da obra como um todo é ela ser sobre a velhice, a aposentadoria e suas inevitabilidades. Inclusive é bom lembrar que, embora o filme tenha vindo traduzido como “Onde os FRACOS não tem vez”, o nome em inglês é “Onde os VELHOS não tem vez”.