O jornalista Marcelo Migliaccio, filho de Flávio Migliaccio (1934-2020), desabafou sobre a morte do pai nesta terça-feira (5). Em carta aberta publicada em sua rede social, o herdeiro do artista agradeceu o carinho dos amigos, familiares e da classe artística. "Meu pai fez o que fez à nossa revelia. Sem nos avisar, sem se despedir", escreveu.
"Acreditamos que o recurso da Acerp será rejeitado para se manter a decisão fixada em primeira instância e assim, finalmente, a família de Flávio Migliaccio vir a ser ressarcida dos prejuízos decorrentes da destruição da obra As Aventuras do Tio Maneco pela TVE, que veio a ser sucedida pela Roquette Pinto", conclui o advogado.
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Ao Notícias da TV, Sylvio Guerra, advogado que representa a família de Flávio Migliaccio, defende que esse efeito suspensivo é "natural" em uma liquidação de sentença, considerando que a decisão que fixou a indenização por dano material não transitou em julgado. Ou seja, ainda cabe recurso.
Agora, a defesa do ator vai apresentar uma resposta na tentativa de fazer valer a primeira instância. "A decisão da juíza de primeira instância foi baseada em um laudo pericial técnico e minucioso, por um perito nomeado pela própria Justiça", argumenta Guerra.
O ator Flávio Migliaccio foi encontrado morto na última segunda-feira, 4 de abril, em seu sítio em Rio Bonito, no Rio de Janeiro. Ao lado do corpo estava uma carta deixada pelo ator o que chocou muitas pessoas. O filhode Flávio, o jornalista Marcelo Migliaccio, escreveu um depoimento sobre a morte do pai e desabafou sobre este momento tão complicado que está enfrentando.
"Usei todos os argumentos, mas meu pai não queria mais jogar. Era uma decisão tomada, acho que muitos anos antes daquele domingo em que ele disse que daria uma caminhada pelo bairro e sumiu".
Meu pai fez o que fez à nossa revelia. Pegou um táxi e foi para o sítio enquanto eu cuidava da minha mãeno último domingo. Sem nos avisar, sem se despedir. Ele sempre me dizia que não aguentava mais viver num mundo como esse e sentir seu corpo deteriorar-se rápida e irreversivelmente pela idade avançada. Pouco escutava e enxergava. ‘Daqui para frente só vai piorar’, ele me dizia enquanto eu buscava todos os argumentos possíveis para lhe mostrar que ainda havia muita coisa boa reservada para ele.
Flávio Migliaccio também ficou conhecido entre o público infantil com o “tio Maneco”. O filme do “Tio Maneco” foi exibido em mais de 30 países e ganhou inclusive um prêmio do cinema infantil na Espanha. Outro personagem importante que o ator fez foi o “Tio Vitinho” de “A Próxima Vítima” no ano de 1995. Flávio Migliaccio inclusive dizia em entrevistas que esse era seu personagem favorito. “Foi o que mais combinou comigo. Eu bolei uma coisa que considero uma das maiores criações que tive como ator, e colaborei com o texto assim: bolei que ele vivia com o travesseiro e a roupa de capa embaixo do braço, porque não tinha lugar para dormir. Comecei a desenvolver isso, a fazer uma cena dramática segurando o travesseiro; ficava engraçado.” disse o ator numa entrevista.
Nesta tarde o filhode Flávio, Marcelo Migliaccio, ressaltou na facebook: “Quanto aos policiais militares que fotografaram com celular a cena mórbida no quarto do sítio e colocaram a imagem em redes sociais, o estado do Rio de Janeiro responderá judicialmente por ter pessoasassim a representá-lo”.
O artista já havia conquistado em vida o direito de ser indenizado pela destruição das fitas de rolo de 444 episódios da série As Aventuras do Tio Maneco (1981-1985), produzida e protagonizada por ele na TVE. Como a empresa perdeu o acervo, Migliaccio não conseguiu lucrar com a venda do material para exibidoras e procurou a Justiça.
Após a quantia de R$ 33 milhões ser fixada, a defesa da Acerp entrou com um pedido de efeito suspensivo em segunda instância para evitar o pagamento e tentar reduzir esse montante. Em decisão no último dia 18, o desembargador Fernando Cerqueira Chagas, da 11ª Câmara Cível do Rio de Janeiro, acatou o pedido.
O artista nasceu na cidade de São Paulo e começou a carreira em peças de teatro na periferia da capital. Estreou na televisão em 1958, no Grande Teatro Tupi. Na Globo, sua primeira novela foi O Primeiro Amor (1972), e logo em seguida ele ficou muito conhecido ao viver Xerife, um dos protagonistas do seriado infanto-juvenil Shazam, Xerife e Cia. (1972-1974).
Por isso hoje respeito o ato de extrema coragem que meu pai teve na madrugada de ontem, fazendo o que acreditava ser a única coisa a fazer. Tentei impedir de todas as formas, sofro agora, e sofrerei para sempre, por não ter conseguido, mas entendo sua decisão.
Na decisão em que acatou o valor apontado pelo perito, a juíza Flavia Gonçalves Moraes Alves ressaltou que a Associação Roquette Pinto não teve êxito na tentativa de demonstrar qualquer tipo de equívoco na apuração do montante, "ônus este que lhe competia".
"Verificou-se que o valor de uma propaganda no SBT é de R$ 46.500 para o horário entre de 6h às 8h [faixa em que Chaves ia ao ar aos sábados]. Assim, supondo que pelo menos quatro anunciantes queiram veicular suas propagandas de 30 segundos cada em um intervalo de 120 segundos, teríamos um valor de R$ 46.500 x 4= R$ 186.000. Considerando que existem 444 capítulos inutilizados: R$ 186.000 x 444 = R$ 82.584.000", explicou o profissional.
A família resolveu abrir um processo contra os policiais e o Estado do Rio de Janeiro pela exposição. “Divulgaram foto do meu clienteem condições que se encontrava dentro de seu quarto após suicidar-se. Esses policiais carregam a bandeira do Estado em suas fardas. Além de vilipêndio de cadáver, elencado no Código Penal, buscaremos em face do Estado, danos causados pela absurda, abusiva e mórbida divulgação da foto de meu cliente”, disse o advogado da família, Sylvio Guerra, nas redes sociais.
Mas meu pai tinha uma inteligênciaenorme e era difícil demovê-lo de alguma coisa em que acreditasse. Infelizmente, ele agora é para nós só uma imensa saudade e lembrançasmaravilhosas. Lembranças de alguém que me ensinou o que é amar um ofício. Alguém que me mostrou a magia da criatividade. Me fez ver que a maior prova de amor que se pode dar a uma pessoa é respeitar suas convicções, suas decisões, seu jeito de ser e de não ser.