Maria Joaquina, 11 anos, é vice-campeã brasileira de patinação artística e, como tal, deveria ser convocada para representar o Brasil no Campeonato Sul-Americano da modalidade. Não foi. O argumento: ela não poderia competir porque, em seu documento, ainda consta identificação masculina.
"O coordenador do abrigo em que eles estavam, durante o nosso estágio de convivência, me disse: 'Ele chegou no lar uma menina'. Eu não entendi na hora o que isso significava e não dei importância. Era um sonho tão grande adotá-los, foi algo que sempre quisemos", emociona-se.
"Não sei o que ela disse para os outros. Eu me senti excluída. As pessoas não paravam de me olhar, ficavam me olhando como se eu fosse não sei o que. Não paravam de olhar para mim, e não falavam nada".
O fato é que, apesar de tantos obstáculos, a atleta prova a cada treino e competição que o sonho olímpico é viável. Mesmo em pistas de gelo que são apenas um quarto das medidas oficiais da patinação artística, ela já consegue realizar saltos triplos – essenciais para atingir a elite da modalidade entre as mulheres.
Para ela, o que mais dói ainda é o que deveria ser o mais fácil: frequentar um banheiro. "Eu me sinto muito desconfortável. Tipo no Brasileiro [de patinação inline]. Eu não queria ir ao banheiro trocar de roupa, porque as pessoas não paravam de olhar. Pedi para minha amiga entrar comigo, e mesmo assim não paravam de olhar, é desconfortável."
O pai diz que desde que Maria Joaquina começou a patinar vem enfrentando dificuldades. O primeiro campeonato que ela disputou se chamava Novatos e não era competitivo. Apesar dos pedidos da família para que ela fosse chamada pelo nome social --Maria Joaquina--, o anúncio no microfone foi feito por seu nome masculino.
Por causa de toda a polêmica internacional envolvendo a participação de mulheres trans no esporte, a CBDG evita se comprometer publicamente com o projeto de levar Maria Joaquina à próxima Olimpíada. À coluna, disse que "o projeto não é exclusivo a um atleta apenas, mas sim a todos atletas brasileiros que atendam aos requisitos mínimos para o nível internacional" e que "busca apoiar projetos de atletas brasileiros que possam representar o Brasil em competições internacionais de forma a termos a chance de classificação olímpica".
A CBDG entende que Maria Joaquina, como menina trans, cumpre todos os requisitos da ISU, a Federação Internacional de Patinação, para participar de competições esportivas, que são basicamente os mesmos exigidos na Olimpíada de Tóquio: 12 meses de nível de testosterona abaixo de 5nmol/L antes da primeira competição, e depois manter esse padrão continuamente. No Brasil, a CBDG foi além e determinou que "pessoas passando por transição de gênero masculino para o feminino antes da puberdade devem ser consideradas como meninas e mulheres".
Maria Joaquina também não usou o uniforme que os atletas da seleção brasileira usaram, não recebeu cartinha da federação nem brinde, segundo seu pai. "A gente conversou muito com ela. Ela se sentiu derrotada e não amada."
Então, saiu com a filha de Curitiba e foi a Joinville, onde o campeonato aconteceria logo cedo, na manhã de segunda-feira. "Chegamos por volta de 7h, a competição começava às 7h40, mas ela era a última a se apresentar. Às 7h30 falaram que ela seria a primeira. Ela não teve tempo para reconhecer a pista, fizeram de tudo para que ela fosse mal. Ela competiu chorando e não mostrou tudo o que sabia. Estava muito abalada."
“Quando ela se sentiu confortável socialmente, ela mudou completamente. Ela era só uma criança que não se identificava com o gênero, tinha disforia de gênero”, explica Gustavo Cavalcanti, técnico e pai de Maria Joaquina.
Bola dentro da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) ter conseguido reunir quase todos os melhores ginastas do país no Troféu Brasil. Rebeca ganhou nas assimétricas, Flavinha na trave, e Caio, Chico e Nory venceram suas provas no masculino. Dos grandes, só Arthur Zanetti não foi. É importante que o público brasileiro tenha contato com os ídolos do país, e isso foi possível em Porto Alegre.
Em um passado recente, em 2018, o Brasil ganhou 18 medalhas de ouro no Campeonato Ibero-Americano de Atletismo. Em 2016, foram 16. A edição deste ano aconteceu no fim de semana, na Espanha, e o país ganhou só quatro. É muito pouco e reforça o problema crônico que vive a modalidade no país.
Só Maria Joaquina, porém, atende esses requisitos mínimos no Brasil, o que já refuta, de cara, qualquer reclamação de que ela "tira o espaço" de uma menina cis. Além disso, o fato de ela ter iniciado ainda criança o tratamento hormonal, não passando pela puberdade masculina, não a coloca diante das mesmas críticas que afetam, por exemplo, a jogadora de vôlei Tifanny e a halterofilista neozelandesa Laurel Hubbard.
Maria se apega à soma de pequenos detalhes: a ausência de uma foto dela no painel que tem todos os outros atletas que representaram o Brasil na patinação artística nos últimos anos, e um 'unfollow' da conta do CT no Instagram, que a confederação diz ter sido um "erro de operação".
Durante toda a entrevista, realizada no Parque Augusta, em São Paulo, Maria Joaquina não citou o nome da mulher que ela acusa de tê-la maltratado em uma viagem à Itália em maio: Cláudia Feital, vice-presidente e diretora de patinação da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG). Por orientação da advogada, a adolescente se referiu sempre à veterana por variantes de "a pessoa que me acompanhava".
Depois de uma longa batalha na Justiça contra a CSP (Confederação Sul-Americana de Patinação), presidida pelo brasileiro Moacyr Neuenschwander Junior, também presidente da CBHP (Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação), Maria Joaquina finalmente conseguiu a liberação no domingo, um dia antes do início da disputa.
Ano passado, após grande muita luta, a patinadora conseguiu a retificação de seus documentos. O próximo objetivo da vice-campeã agora é participar das Olimpíadas de Inverno em 2026.
Isaquias Queiroz disse que não ficou preocupado com o sexto lugar na etapa da República Checa da Copa do Mundo de Canoagem Velocidade no C1 1.000m, prova olímpica. Disse que acontece, os rivais foram melhores e tal. Mas é incomum um resultado assim ruim do brasileiro, que compete pouco e, quando rema, é para brigar nas cabeças. Em agosto tem Mundial, no Canadá.
A jogadora de vôlei Tifanny Abreu, do Sesi Vôlei Bauru, que é mulher trans, manifestou solidariedade à patinadora e lembrou que também enfrentou muito preconceito.
Praticamente um ano depois da aposentadoria de Isadora Williams, o Brasil volta a ter uma representante na patinação artística no gelo. A jovem Maria Joaquina, 14 anos, vai competir na terceira etapa do Junior Grand Prix da modalidade. A disputa vai acontecer em Riga, na Letônia, entre 7 e 10 de setembro.