Stonewall, nome famoso e reverenciado e referência ao bar ‘Stonewall inn’, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. O bar era frequentado por grupos minoritários (Gays, lésbicas, bissexuais e trans) vistos, comumente, como a ‘escória’ da sociedade vigente. Representavam o ‘submundo’, tidos como perversos, decadentes, agressivos e, consequentemente, eram ‘coisificados’ por terem comportamentos destoantes ao que era considerado normativo.
"No Fórum Social Mundial em 2015, estive na mesa de diversidade sexual na Tunísia, onde os homossexuais são criminalizados com a pena de morte. Fui porta-voz da causa na América Central e hoje a Guatemala conta com uma Defensoria para atender as diversidades sexuais a partir de nosso trabalho. Temos muito ainda a conquistar", diz.
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Marsha P. Johnson teve papel protagonista nessa briga quando, supostamente, jogou, sem medo, um tijolo na cabeça de um dos policiais. Marsha foi uma das ativistas mais radicais dessa luta. Por sua condição de mulher trans, negra e trabalhadora sexual, Marsha conhecia de perto a injustiça e soube usufruir de sua voz bravamente.
Naquele tempo, não ser heterossexual era crime nos Estados Unidos. Nas ruas de Nova York, quem não vestisse pelo menos três peças de roupa “apropriadas ao seu gênero” poderia ser preso. E meias não contavam. Não à toa, muitas drag queens aboliram o uso de saltos altos para poder correr melhor da polícia quando necessário. Devido à “conduta indecente”, a State Liquor Authority (SLA) também proibia a venda de álcool para estabelecimentos considerados gays.
Nessa lista também encontram-se a prefeita de Bogotá, capital da Colômbia, Cláudia López, e o congressista guatemalteco Aldo Dávila, o primeiro homem gay a estar no Parlamento do mais populoso país centro-americano.
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Entre os vários participantes da revolta, dois nomes vêm recebendo um reconhecimento tardio: Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera. Lendas e boatos cercam a participação das duas no dia da revolta: alguns dizem que elas teriam sido as primeiras a jogar pedras nos policiais, outros afirmam que elas sequer estavam no bar. Em um ensaio escrito para a revista Them, a poeta e ativista trans Chrysanthemum Tran escreveu que a discussão é irrelevante, visto que o ativismo (tanto trans quanto o racial) delas não começou, nem terminou, naquele dia. A revolta foi um levante coletivo. E ambas tiveram um papel chave nisso.
"A dor, a raiva, a frustração, a humilhação, a constante insistência, a constante agitação que causaram em nossas vidas: agora era a hora de se livrar disso tudo", disse o frequentador Martin Boyce ao The New York Times. "Não precisava machucar um policial, não precisava machucar ninguém, só precisava gritar.” Nenhuma morte foi registrada, e ninguém sabe o número de feridos durante o ato.
Mesmo com a revogação da lei, uma violenta abordagem policial no bar Stonewall Inn, um espaço que recebia o público LGBTQIA+, despertou a revolta das pessoas presentes, quando agentes tentaram prender 13 pessoas, em 28 de junho de 1969. O levante popular, há 52 anos, fez com que o efetivo tivesse de pedir reforço em virtude também do início de um incêndio no local.
Símbolo para os norte-americanos e referência para outros países, a repercussão do episódio incentivou a formação de coletivos, organizações e frentes de luta contra a discriminação. Celio Golin, militante pelos direitos humanos da população LGBTQIA+, lembra o início dessa trajetória, na década de 1990, e as conquistas consolidadas em anos seguintes no Brasil.
Em maio de 2019, a prefeitura de Nova York anunciou a construção de um monumento em comemoração aos 50 anos do conflito. Trata-se do primeiro monumento público permanente em homenagem a mulheres trans no mundo. “As comunidades transgênera e não binária estão se recuperando de ataques violentos e discriminatórios em todo o país. Aqui, em Nova York, estamos mandando uma mensagem clara: nós as vemos por quem vocês são, nós celebramos com vocês e vamos protegê-las”, afirmou o prefeito Bill de Blasio, durante o anúncio. “Esse monumento a Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera vai honrar seus papéis pioneiros na luta pelos direitos humanos em nossa cidade e por todo mundo.”
O drama conflituoso: Stonewall – Onde o orgulho começou explana o tema. A história, passada no final de 1960, versa por todos os conflitos vividos por grupos que não respondiam às convenções preestabelecidas. A falta de voz dentro da sociedade, o tratamento catastrófico e indigno advindo de agentes do Estado e a exaustão de ser sempre tratado como escória, fez aguerrir um movimento emblemático e indelével, denominado de ‘A revolta de Stonewall’.
Em 1970, 10 mil pessoas se reuniram para comemorar um ano da revolta, dando início às modernas paradas LGBT+ que acontecem em vários lugares do planeta, com destaque para a de São Paulo, que é considerada a maior do mundo e, em 2019, reuniu 3 milhões de pessoas. “As paradas do orgulho LGBT, que nós temos no Brasil hoje, me parecem que são a grande expressão daquilo que Stonewall pretendia do ponto de vista de liberação homossexual”, explicou o escritor João Silvério Trevisan, em depoimento ao programa Fantástico, da Globo. “As paradas LGBT são grande demonstração de amor.”
Ainda são raros os casos de gays, lésbicas, travestis e trans eleitas para cargos públicos, razão pela qual há uma defasagem na articulação e na promoção de programas que realmente levem em conta as necessidades e diversidades desse público.
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Em um vídeo que viralizou na internet, em 2018, o apresentador Ratinho faz uma crítica ao que ele considera anacronismo nas novelas da TV Globo. “A Globo colocou viado até em filme de cangaceiro, gente? Naquele tempo não tinha viado não. Você acha que tinha viado naquele tempo?”, questiona ele, referindo-se à minissérie de época Entre Irmãs, ambientada no cangaço nordestino. A resposta é: sim.
Se antes, viver em guetos era uma forma de proteção, depois do dia 28 de junho de 1969, mostrar-se passou a ser a forma mais eficaz de se defender. Diferente de outros dias em que apareciam mais cedo, quando o bar estava menos cheio, naquele dia, os policiais surgiram num horário de maior movimento — desrespeitando o acordo com os mafiosos. Segundo os frequentadores, a polícia entrou ameaçando prender os empregados por vender bebidas ilegais e prendendo vários clientes por conta das vestimentas “inapropriadas”. O público (incluindo o do lado de fora do bar) reagiu violentamente, fazendo provocações e atirando qualquer objeto que estivesse à mão.