Você já deve ter ouvido falar da ave que renasce das cinzas. Os animais são transcendentais para a humanidade e, entre tantas áreas nas quais se relacionam conosco, estes seres vivos fizeram parte da história e da mitologia ao longo dos séculos. Um dos mitos vinculados ao mundo animal é o da fênix, e nele a ave é relacionada ao fogo e ao ressurgimento ou renascimento. Essa lenda se fez presente em diversas culturas com certos ajustes de acordo com o contexto, mas tem sido, sem dúvidas, uma parte importante na história, mitologia, religião, arte e até na psicologia.
Já a referência ao pássaro de fogo veio dos russos, pois acreditavam que a fênix vivia em chamas. Além disso, nos primeiros depoimentos, a fênix representava o renascimento. Já nos mais recentes, é o simbolismo da persistência e da vitória.
“E a fénix, ele disse, é o pássaro que visita o Egito a cada cinco séculos, mas no resto do tempo ela voa até a Índia; e lá podem ser visto os raios de luz solar que brilham como ouro, em tamanho e aparência assemelha-se a uma águia; e senta-se em um ninho; que é feito por ele nas primaveras do Nilo. A história do Aigyptos sobre ele é testificada pelos indianos também, mas os últimos adicionam um toque a história, que a fénix enquanto é consumida pelo fogo em seu ninho canta canções de funeral para si” – Apolônio de Tiana.
No entanto, foi o escritor grego Heródoto quem relatou especificamente sobre a fênix, por ter visitado a cidade de Heliópolis, o principal centro religioso do Egito. Durante a sua visita, o historiador teve que ouvir e revisar papiros, hieroglifos e murais esculpidos, que posteriormente interpretou para que pudesse construir o mito que logo foi difundido em outras culturas. Algumas teorias dizem que provavelmente Heródoto confundiu a imagem da fênix com a do deus solar Ra-Atum-Khepri, que era representado, em uma de suas versões, de forma antropomórfica, com cabeça ornitomorfa (similar à de uma ave) e cores que são atribuídas à fênix. Esta última referência se dá em função das diferenças existentes entre as aves mencionadas.
Segundo algumas versões, a Fênix colocava um ovo e o chocava por três dias ao fim dos quais se produzia o incêndio. Outros afirmam que do fogo aparecia diretamente outra ave fênix.
Foram os escritores Tácito, Ovídio e Plínio, o Velho, que descreveram a Fênix como uma ave que era capaz de ressurgir das cinzas e cuja versão foi levada ao mundo ocidental.
Em 1177, o poeta sufi Farīd ad-Dīn ʿAṭṭār (1142-1221) escreveu a obra “A Conferência dos Pássaros” onde conta a saga de trinta aves que voam juntas em busca do rei Simorgh.
Não contraiu laços com ninguém neste mundo, nenhuma criança alegrou sua idade e, ao final de sua vida, quando teve de deixar de existir, lançou suas cinzas ao vento, a fim de que saibas que ninguém pode escapar à morte, não importa que astúcia empregue. Em todo o mundo não há ninguém que não morra. Sabe, pelo milagre da fênix, que ninguém tem abrigo contra a morte. Ainda que a morte seja dura e tirânica, é preciso conviver com ela, e embora muitas provações caiam sobre nós, a morte permanece a mais dura prova que o Caminho nos exigirá”.
A história da fênix está vinculada à morte e ao renascimento. As lendas contam que a ave era única e não podia se reproduzir como faziam os demais animais. Quando a fênix se aproximava ao fim da vida, iniciava a coleta de certas plantas aromáticas, incenso e cardamomo para construir um ninho. A partir daí, existem duas histórias diferentes:
Em primeiro lugar, a fêniz é um pássaro da mitologia grega que ressurge das cinzas após uma morte por auto-combustão. Além disso, tem como símbolo a força, permitindo que este carregue cargas pesadas enquanto voa. Curiosamente, existem lendas relacionadas ao ser mitológico carregando até elefantes.
Além disso, a simbologia da fênix foi associada ao renascimento pessoal, de modo que se estabeleceram algumas relações a partir do ponto de vista psicológico.
Os gregos parecem ter se baseado em Bennu, da mitologia egípcia, representado na forma de uma ave acinzentada semelhante à garça, hoje extinta, que habitava o Egito. Cumprido o ciclo de vida do Bennu, ele voava a Heliópolis, pousava sobre a pira do Deus Rá, ateava fogo em seu ninho e se deixava consumir pelas chamas, renascendo das cinzas.
No início da era cristã esta ave fabulosa foi símbolo do renascimento e da ressurreição. Neste sentido, ela simboliza o Cristo ou o Iniciado, recebendo uma segunda vida, em troca daquela que sacrificou.
“Existe outro pássaro sagrado, também, cujo nome é fénix. Eu mesmo nunca o vi, apenas figuras dele. O pássaro raramente vem ao Egito, uma vez a cada cinco séculos, como diz o povo de Heliópolis. É dito que a fénix vem quando seu pai morre. Se o retrato mostra verdadeiramente seu tamanho e aparência, sua plumagem é em parte dourado e em parte vermelho. É parecido com uma águia em sua forma e tamanho. O que dizem que este pássaro é capaz de fazer é incrível para mim. Voa da Arábia para o templo de Hélio (o Sol), dizem, ele encerra seu pai em um ovo de mirra e enterra-o no templo de Hélio. Isto é como dizem: primeiramente molda um ovo de mirra tão pesado quanto pode carregar, então abre cavidades no ovo e coloca os restos de seu pai nele, selando o ovo. E dizem, ele encerra o ovo no templo do Sol no Egito. Isto é o que se diz que este pássaro faz.” – Heródoto
No entanto, a “fênix chinesa” não tem qualquer ligação com o mito ocidental. Apenas indica a boa sorte e lealdade das pessoas e a virtude de um governo.
Supõe-se que este evento ocorria a cada 500 anos, apesar de também haver, na antiguidade, relatos de que a fênix poderia viver 972 gerações humanas.
A crença na ave lendária que renasce das próprias cinzas existiu em vários povos da antiguidade como gregos, egípcios e chineses. Em todas as mitologias o significado é preservado: a perpetuação, a ressurreição, a esperança que nunca têm fim.
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