Rina Cáceres, professora da Universidade da Costa Rica e coordenadora do projeto da UNESCO dedicado à reparação histórica de afrodescendentes na América, “Del Olvido a la Memoria” (Do Esquecimento à Memória, na tradução), explica: “na América, temos dois momentos de escravidão e sempre esquecemos o primeiro, que foi a escravidão dos indígenas”.
O vasto continente americano era ocupado por vários povos, que haviam desenvolvido diversas culturas. Os maias e astecas viviam no território do atual México, e os incas habitavam a região onde hoje fica o Peru. Tais culturas são chamadas de pré-colombianas, pois existiam antes da chegada de Colombo.
O ponto acima não desmerece o livro analisado aqui. Pelo contrário, serve de indicação para outras obras futuras. Estas, por sua vez, tendem a ser beneficiadas pelo roteiro bibliográfico que todos os capítulos, bem com a Introdução do livro, trazem. Neles é possível entrar em contato com a historiografia sobre o continente e suas diversas concepções. O livro As Américas na primeira modernidade torna-se, assim, valioso contributo para todos aqueles que pesquisam, estudam ou querem entender o passado colonial de Novo Mundo, sejam alunos ou professores.
Essa capacidade da escrita de ser leve e profunda, de fácil percepção para quem lê, nem sempre é conseguida em livros com vários autores. Obras coletivas, mesmo as literárias, perdem muito pela forma e característica com que cada escritor percebe sua produção e a transmite por meio de sua grafia. Esse desequilíbrio é sempre um fator a desmerecer o quantum de uma obra com vários autores.
Na introdução da obra, os organizadores fazem uma análise historiográfica da produção sobre a América na Idade Moderna. O processo de colonização, os entendimentos sobre a conquista, as ideias e conceitos que foram utilizados ao longo do tempo para compreensão desse fenômeno são aí abordados. Ao mesmo tempo, indicam os novos olhares e caminhos que têm sido discutidos pelos estudiosos para o entendimento da colonização do continente entre os séculos XV até o XVIII.
No último capítulo da obra, Entre textos, contextos e epistemologias: apontamentos sobre a “Polêmica do Novo Mundo”, Beatriz Helena Domingues e Breno Machado dos Santos discutem os textos e obras que, no século XVIII, polemizaram a respeito do Novo Mundo e seus habitantes. De modo particular são aqui estudadas as obras de Buffon e De Paw, na discussão que o italiano Antonello Gerbi denominou como disputa ou controvérsia do Novo Mundo em seu clássico livro O Novo Mundo: história de uma polêmica.
No quarto capítulo, que tem como título O lapso do rei Henrique VIII: inveja imperial e a formação da América Britânica, Jorge Cañizares-Esguerra e Bradley J. Dixon analisam o impacto da conquista e a formação do império ibérico no mundo anglo-saxão. Com suas minas e riquezas advindas do Novo Mundo, a Espanha se consolidou como a maior potência na Europa do início da modernidade. Isso, mais a rivalidade com a consolidação da Reforma na Inglaterra, levou os ingleses a buscarem imitar seus rivais castelhanos na construção de colônias na América. Ao longo dos séculos XVI e XVII encontrava-se na península ibérica a inspiração que os ingleses buscavam para a construção de seu próprio império. Foi somente no século XVIII, com a disseminação da “Legenda Negra” e a percepção de que o modelo ibérico não seria viável para os objetivos anglicanos, que a Grã-Bretanha encetou novo processo de povoamento e conquista na América desvinculado do modelo ibérico. Isso, porém não simbolizou o abandono do modelo espanhol. Durante todo o período de construção de suas colônias a Inglaterra teria no seu adversário o exemplo a seguir ou criticar.
Do ponto de vista sociopolítico, organizavam-se em tribos. Alguns exemplos desses povos: iroqueses e dacotas (América do Norte); caribes (América Central); aruaques, tupis-guaranis, araucanos e patagônios (América do Sul).
O segundo capítulo traz em seu bojo o processo de conquista da América, intitulando-se A conquista da América como uma história emaranhada: o intercâmbio de significados de uma palavra controversa. O primeiro item a destacar aqui diz respeito ao fato que esta ação deve ser compreendida não apenas como um processo unilateral, que parte de ibéricos sobre americanos. Segundo o texto de Luiz Estevam de Oliveira Fernandes e Eliane Cristina Deckman Fleck, um dos elementos a obnubilar o entendimento do conflito que terminou por colocar o continente americano sobre a égide espanhola foi o de entendê-lo a partir de uma visão unilateral.
As trocas envolvendo os dois lados do Atlântico e a inclusão do Índico e suas variedades de fauna e flora estão diretamente vinculadas à constituição do mundo contemporâneo e suas variedades de flores, frutos e fauna tal qual conhecemos hoje; seu custo para povos e seres que habitavam a América foi altíssimo.
Ao mesmo tempo, ao saber que outros povos e outras concepções de mundo existiam além do universo do Velho Mundo, religiosos e estudiosos depararam-se com temas que os levaram a redefinir suas concepções sobre o planeta, bem como sobre suas crenças. Como indica Serge Gruzinski, as certezas do conhecimento clássico foram postas em cheque e um novo saber pôde ser realizado.
Se na obra literária a narrativa deve sempre buscar a atenção do leitor, prendendo-o com recursos estilísticos diversos - suspense, drama, assassinatos, crises, traições, reviravoltas, etc. -, no livro acadêmico nem sempre isso é possível, ou tem o autor a verve necessária para produzir tal feito. Algumas obras historiográficas conseguiram esse feito: Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Júnior, Caminhos e Fronteiras, de Sérgio Buarque de Holanda, Apologia da História, de Marc Bloch, Segredos Internos, de Stuart Schwartz, Um Contraponto Baiano de Bert Barickman são alguns dos autores que produziram obras acadêmicas relevantes e paradigmáticas que também possuem estilo literário que cativa e prende a atenção de seus leitores.
A obra, porém, possui um revés. Mesmo se tratando das “Américas”, o livro ainda permanece com a divisão que exclui do universo colonial do Novo Mundo a América portuguesa. A região dominada pelos lusitanos somente é abordada no último texto e em vagos momentos está presente em outros poucos capítulos. Argentina, Paraguai e Uruguai são também pouco abordados. Nesse sentido, é necessário que se possa de fato interconectar os diversos povos e histórias da América em seu contexto colonial. Cada vez é maior o número de pesquisas no Brasil, e fora dele, que apontam para as redes abarcando os mercados e povos do mundo luso tropical com áreas da América sob domínio de Madri ou Londres. Envolver esses povos e territórios em uma única rede, ou em várias conexões, tende a tornar a história do continente em algo verdadeiramente americano.
Passados por esta breve introdução, adentremos no que de fato concerne este texto, isto é, a análise do livro: As Américas na primeira modernidade (1492-1750). Organizado por Jorge Cañizares-Esguerra, Luiz Estevam de Oliveira Fernandes e Maria Cristina Bohn Martins, publicado pela Editora Prismas, conta com textos de diversos autores em colaboração com os três já citados, ou em outras parcerias. Os autores são docentes e pesquisadores do Brasil, Estados Unidos e Europa. Instituições como Unicamp, UNISINOS, Universidade da Califórnia, Universidade do Texas, Universidade da Integração Latino-Americana e Universidade de Barcelona estão aí representadas. Todos esses centros estudam e pesquisam o passado do continente americano, e seus professores, presentes no livro, demonstram por meio dos capítulos o estágio atual da pesquisa sobre a história da América colonial.
As obras acima referidas possuem outra característica em comum: são frutos de um único autor. Nesse sentido, possuem uma coerência narrativa e vigor estilístico que surge da força criativa, da concepção teórica e da escrita de seu autor, ou mesmo de um dom que este possua.
Nesse sentido, As Américas na Primeira Modernidade tem o mérito de abordar em seus capítulos essa discussão já tão presente no mundo europeu, na América do Norte, em partes da África e do continente asiático. A literatura por eles utilizada assenta-se em nomes como Serge Gruzinski, Sanjay Subrahmanyam, Stuart Schwartz, Jack Greene, Anthony Pagden, Vitorino Godinho, Charles Boxer, Antonello Gerbi, além dos próprios organizadores da coleção e seus autores. Nesse sentido, o diálogo aí presente é fecundo e levanta diversas indagações.
Primeiro volume de uma coleção que deverá ter mais dois livros, essa obra inaugural nos leva à expectativa quanto ao teor e profundidade dos demais, ao mesmo tempo em que embala novos debates e saberes sobre o mundo colonial da América. Boa leitura.
Antes da chegada dos europeus, o continente americano era habitado por uma população heterogênea, com diferentes costumes e modos de vida.
Os grupos de caçadores e coletores viviam da caça, da pesca e da coleta de vegetais. Com o tempo, alguns passaram a desenvolver uma agricultura rústica e extensiva, cultivando produtos como a mandioca, o milho e a batata. Na agricultura extensiva, o plantio se dá em grandes áreas, com utilização de poucos instrumentos (eles não conheciam o arado); quando a terra se esgotava, os grupos se mudavam para uma região mais fértil. Utensílios básicos, como facas e lanças, eram feitos de pedra e madeira. A maioria desconhecia os metais.
Os povos agricultores, por sua vez, se caracterizavam pela rígida hierarquia social, pela concentração de pessoas em grandes cidades e pelo grande desenvolvimento material, com produção agrícola intensiva, que é aquela praticada com técnicas de cultivo, como adubação e tratamento da terra, permitindo o uso contínuo do solo.
O conceito de propriedade privada não existia, sendo as terras de uso coletivo. O governo centralizava as decisões relativas à agricultura e à construção de obras de interesse comum, tais como: diques, aquedutos, muralhas e templos. Os principais representantes desse tipo de sociedade foram os maias, astecas e incas.
Quando o navegador genovês Cristóvão Colombo chegou à América, em 1492, encontrou um território povoado há milênios, que os europeus chamaram de Novo Mundo. Pensando ter chegado às Índias, Colombo chamou os nativos de índios, e foi com esse nome que eles passaram para a história ocidental.
continente americano
Resposta. Os europeus sempre tiveram uma visão eurocentrica sobre o Brasil. Eles se sentiam superiores aos indígenas, afinal chegaram aqui na "terra de ninguém", dominaram os povos e os colocaram ao seu serviço.
Resposta. Resposta: Indica que os Europeus viam os povos colonizados com inferiores.
Primeiramente precisamos entender o conceito de cultura que fundamenta a visão dos europeus cristãos. ... Dessa forma pode-se entender que a visão inicial dos europeus diante dos povos indígenas era a de sobrepor sua cultura pelo cristianismo. Entretanto, não se sobrepôs somente com a revelação, mas também com sua cultura.
Os europeus do século XV, costumavam misturar conhecimentos geográficos com lendas, realidade com imaginação. Acreditavam por exemplo, na existência de países imaginários e monstros marítimos, que residiam no mar, sendo de tamanhos imensuráveis, podendo assumir variáveis formas, incluindo dragões e serpentes do mar.
O imaginário europeu passou a atribuir, por influência também das lendas contadas pelos marinheiros e exploradores, criaturas mitológicas, histórias fantásticas e diversos outros fenômenos, nos mapas e outros documentos cartográficos que representavam, agora, os novos continentes alcançados.
continente europeu
O termo Velho Mundo descreve o mundo conhecido pelos europeus até o século XV. A Europa é chamada de Velho Mundo, pois é o berço da civilização ocidental, possui cidades milenares, foi um dos primeiros continentes a serem popularizados e preservou suas riquezas ao longo do tempo.
continente africano
Velho mundo é a visão que os europeus tinham do mundo no século XV onde apenas eram conhecidos Europa,África e Ásia. Novo mundo foi o termo utilizado pelos europeus para designar a América recém descoberta. Novíssimo mundo é a Oceania que foi o último continente a ser descoberto.
A Eurásia e África recebem o nome de Velho Mundo porque foi neste lugar que surgiram as mais antigas civilizações de que se tem conhecimento. Foi em áreas do norte da África e em partes da Ásia que se desenvolveram, por volta de há 7000 a 3000 anos, sociedades como a fenícia, a suméria, a assíria e a egípcia.
Não existe uma explicação concreta para isso. Os países se formaram ao lngo da história da humanidade vindo se tribos, reinos entre outros. Alguns países mais recentes da América, surtiram em meio a descobertas e por aí vai.