Anastácia por ser muito bonita, terminou sendo, também, sacrificada pela paixão bestial de um dos filhos de um feitor, não sem antes haver resistido bravamente o quanto pôde a tais assédios; depois de ferozmente perseguida e torturada a violência sexual aconteceu.
Entre estes, estava Delminda, mãe de Anastácia, que era jovem formosa e muito atraente pelos seus encantos pessoais, e que, ainda no cais do porto, foi arrematada por mil réis.
As mulheres e as filhas dos senhores de escravos foram as que mais incentivaram a manutenção de tal máscara por que morriam de inveja e de ciúmes da beleza da negra e, assim, seu suplício durou vários anos.
Monumento à voz de Anastácia (2019), obra em cartaz na mostra Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros, no IMS, em São Paulo (Foto: Laís Franklin/Acervo pessoal)
Era bonita de dentes brancos e lábios sensuais, olhos azuis onde se notava sempre uma lágrima a rolar silenciosa. Pelos seus dotes físicos, presume-se tenha sido aia de uma família nobre que ao regressar a Portugal, a teria vendido a um rico senhor de Engenho. Pelo seu novo dono, foi ela levada para uma fazenda perto da Corte, onde sua vida sofreu uma brutal transformação.
Estóica, serena, submissa aos algozes até morrer, sempre viveu ela. Chamavam-na Anastácia pois não tinha documentos de identificação, por ela deixados na pátria distante. Trabalhava durante o dia na lavoura, certo dia veio a vontade de provar um torrão de açúcar. Foi vista pelo malvado do feitor que, chamando-a de ladra, colocou-lhe uma mordaça na boca. Esse castigo era infame e chamara a atenção da Sinhá Moça, vaidosa e ciumenta que ao notar a beleza da escrava, teve receio que o seu esposo por ela se apaixonasse, mandou colocar uma gargantilha de ferro sem consultar o esposo.
Para criar esta nova versão, o carioca fez uma extensa pesquisa de rostos de santas negras cultuadas no continente africano até que encontrou a boca ideal para o que seria o rosto de Anastácia. "Meu trabalho foi tirar digitalmente essa máscara e achar a boca dessa imagem. Precisava de uma boca que fosse tão real que ninguém duvidasse que ela existia. Essa boca é de uma santa do Sudão chamada Josephin Bakhita", revela ele sobre a obra que está em cartaz na mostra Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros, no IMS, em São Paulo e também foi incluida em livros didáticos da rede de ensino Eleva.
A imagem vai de oposição à gravura de Anastácia feita pelo frances Jacques Étienne Arago, em 1839. O rosto ecoa no imaginário nacional, só que antes ele estava coberto por uma máscara de flandres — instrumento de ferro utilizado para evitar que escravizados comessem terra e, assim, tirasse a própria vida —, e, agora, pode finalmente ser visto em sua totalidade. "A Anastácia escravizada é uma imagem que é muita íntima pra minha família, que é umbandista. Minha mãe dá café toda segunda-feira pra imagem da Anastácia. Não é uma relação de espectador e imagem, é simbiótica, de família, ancestralidade", emenda Yhuri.
Entre esta centena de negros capturados em sua terra natal, vinha, também, toda uma família real, de Galanga, que era liderada por um negro, que mais tarde se tornaria famoso, conhecido pelo nome de Chico-Rei, em razão da sua ousada atuação no circuito aurífero da região que tinha por centro a Cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais. Delmira, Mãe de Anastácia, era uma jovem formosa e muito atraente pelos seus encantos pessoais, e, por ser muito jovem, ainda no cais do porto, foi arrematada por um mil réis. Indefesa, esta donzela acabou sendo violada, ficando grávida de um homem branco, motivo pelo qual Anastácia, a sua filha, possuía olhos azuis, cujo nascimento se verificou em Pompeu, em 12 de Maio, no centro-oeste mineiro.
Outra teoria é de que sua mãe, Delminda, teria saído do Congo e desembarcado no Brasil em 1740 no navio negreiro Madalena. "Violentada por um homem branco, engravidara, o que explicaria os olhos claros da filha. Mas nada disso há comprovação", escrevem os autores Flávio dos Santos Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Schwarcz. "Há ainda quem diga que ela seria obrigada a usar a máscara de ferro por se negar a deitar com seu senhor", apontam.
Apesar de tudo, ela continuou a sustentar sua costumeira altivez e dignidade e, como não permitisse que lhe tocassem, acabou por provocar o ódio de alguns brancos, que resolveram castigá-la ainda mais, colocando-lhe no rosto uma máscara de ferro, que só era retirada na hora de se alimentar.
O impacto da camiseta na casa mais vigiada do Brasil foi imediato e o termo "Anastácia Livre" entrou nos trending topics e Linn dobrou seus seguidores no Instagram. Linn começou o programa com 330 mil e agora já é acompanhada por mais de 1,7 milhão de usuários. "Encaro essa entrada da Linna como uma grande performance artística da parte dela, um estandarte. O impacto está diretamente ligado à urgência dessa imagem", pontua Yhuri, que é amigo pessoal de Linn. "Meu papel como artista é subverter a imagem, trair a linguagem e emancipar o movimento. Estamos vendo uma repercussão equivalente ao nosso passado histórico, que é um passado de invisibilidade", defende.
Em 9 de abril de 1740, chegou na cidade do Rio de Janeiro o navio negreiro Madalena, vindo da África com carregamento de 112 negros Bantos, originários do Congo, para serem vendidos como escravos no Brasil.
As mulheres e as filhas dos senhores de escravos eram as que mais incentivavam a manutenção de tal máscara, porque morriam de inveja e de ciúmes da beleza da Negra Anastácia. (Onde o seu espírito, combate a inveja, ciúmes e a injustiça).
Pelo pouco que se sabe desta grande mártir negra, que foi uma das inúmeras vítimas do regime de escravidão, no Brasil, em virtude da escassez de dados disponíveis a seu respeito, pode-se dizer, porém, que o seu calvário teve início em 9 de Abril de 1740, por ocasião da chegada na Cidade do Rio de Janeiro de um navio negreiro de nome Madalena, que vinha da África com carregamento de 112 negros Bantus, originários do Congo, para serem vendidos como escravos nesse País.
Descoberto que foi o Brasil, em 1500 vieram logo os primeiros colonizadores e os primeiros governantes, necessário se fazia, desde então o desenvolvimento da terra, especialmente a lavoura. Daí o terem vindo os célebres Navios Negreiros aprisionando os pobres negros africanos, para aqui serem entregues como escravos e vendidos.
A história nefanda se repete: Anastácia, por ser muito bonita, terminou sendo, também, sacrificada pela paixão bestial de um dos filhos de um feitor, não sem antes haver resistido bravamente o quanto pôde a tais assédios; depois de ferozmente perseguida e torturada, a violência sexual aconteceu.
O seu culto foi iniciado em 1968 (Ano Internacional dos Direitos Humanos decretado pelas Nações Unidas), quando numa exposição da Igreja do Rosário do Rio de Janeiro em homenagem aos 90 anos da Abolição, foi exposto um desenho de Étienne Victor Arago representando uma escrava do século XVIII que usava máscara de ferro (método empregado nas minas de ouro para impedir que os escravos engolissem o metal).
Apesar de toda circunstância adversa, Anastácia não deixou de sustentar a sua costumeira altivez e dignidade, sem jamais permitir que lhe tocassem, o que provocou o ódio dos brancos dominadores, que resolvem castigá-la ainda mais, colocando-lhe no rosto uma máscara de ferro, que só era retirada na hora de se alimentar, suportando este instrumento de supremo suplício por longos anos de sua dolorosa, mas heróica existência.
Eram os infelizes negros oriundos da Guine, Congo e Angola. Entre eles veio Anastácia uma princesa Bantu, destacando-se pelo seu porte altivo, pela perfeição dos traços fisionómicos e a sua juventude.
E Linn sabia muito de toda a potência que esse símbolo de Anastácia carregava. Apresentar uma nova versão do rosto completo dessa mulher negra escravizada é um ato político que diz muito sobre quais lacunas que a artista, que já foi capa digital da Vogue Brasil no especial #VoguePride de 2021, pretende preencher no programa. "Os atritos e diálogos que ela cria com sua presença reverberam para além da mídia e impacta o imaginário das travestis do Brasil", avaliam Kaetérine Terra e Yuri Hayashi, do FudidaSilk, em papo com Vogue.
Nos meios que militam as lideranças negras, femininas ou masculinas, fala-se muito sobre quem foi e como teria sido a vida e a história da Escrava Anastácia, que muitas comunidades religiosas afro-brasileiras, particularmente, as ligadas à religião católica apostólica romana, gostariam de propor à sua Santidade, o Papa, para que fosse beatificada ou santificada, dentro dos preceitos e dos ritos canónicos que regem este histórico e delicadíssimo processo.
Antes do nascimento de Anastácia, a sua Mãe Delmira teria vivido, algum tempo, no Estado da Bahia, onde ajudou muitos escravos, fugitivos da brutalidade, a irem em busca da liberdade.