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This article intends to investigate the senses of queremismo as a concept during the redemocratization in 1945. It normally appears in the historiography to describe the manifestations supporting Vargas. These bore demands concerning his candidacy to presidency or his participation in the formulation of the new Constitution under the slogan "Queremos Getúlio". However it is possible to demonstrate how the term was built through the political debates at the time. By pursuing an approach related to the history of concepts, I will investigate how it emerged in newspapers from oppositionists and supporters of Estado Novo. Thus queremismo, as a historical creation, reveals a trajectory and diverse political uses. Some of these had to do with social groups that supported Getúlio Vargas'continuity in the centre of political power.
Contudo, ao longo daquele ano, os sujeitos que reivindicavam a candidatura presidencial de Vargas ou sua participação em futura Assembleia Constituinte, foram capazes de ressignificar o conceito de queremismo. Percebendo seu potencial unificador, eles trataram de inverter seus significados desabonadores e transformá-lo em símbolo de identificação política e de valorização dos trabalhadores. Estes, embalados pela percepção de que haviam obtido ganhos durante o governo do primeiro, convergiram em larga medida em torno um movimento nacional, especialmente no segundo semestre de 1945. Ao servirem-se do referido termo para nomeá-lo, escolheram travar a luta política no âmbito de formulação conceitual voltada a diminuir o valor de seu grupo social. E, de certa forma, inverteram os termos da equação, dado que a transformaram justamente em veículo de seu renovado autovalor na sociedade, expresso em suas intenções de escolher seus representantes. Portanto, a noção de queremismo, nessa nova acepção, foi instrumento de defesa da participação política institucional daqueles sujeitos.
Somos 'queremistas' no sentido de significar o 'queremismo' um movimento de reação aos detratores da obra social, política e administrativa do Presidente Vargas. [...] Queremos, portanto, Getúlio, ou seja, o respeito à autoridade pública, na qual se respeita o povo e não facções; queremos o governo de partido, de ideias e não de nomes, portanto, batemo-nos, no pleito de 2 de dezembro próximo, com o voto, 'arma dos cidadãos', na frase ruista, pela Presidência na República, do Sr. Eurico Dutra e pela presidencial à frente do P.S.D., o grande partido nacional do Sr. Getúlio Vargas. Nessas condições, somos, fora de quaisquer dúvidas, 'queremistas', nós, isto é a maioria da Nação (p. 4, grifo meu).
Para entender melhor o Queremismo, é necessário compreender o contexto histórico em que ele surgiu. Getúlio Vargas assumiu a presidência do Brasil em 1930, por meio de um golpe de Estado, e governou o país de forma autoritária até 1945. Durante esse período, Vargas implementou diversas medidas populistas e nacionalistas, como a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a nacionalização de empresas estrangeiras.
O Queremismo ganhou força a partir de 1942, quando o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados. Vargas aproveitou-se desse momento para fortalecer sua imagem como líder nacionalista e defensor dos interesses do país. A participação brasileira na guerra despertou um sentimento de patriotismo e união entre a população, o que contribuiu para o surgimento do Queremismo.
O questionamento do uso amplo e impreciso da terminologia veio à tona nos debates públicos. É o que sugere a coluna do jornal carioca Gazeta de Notícias, então partidário da candidatura Dutra. Em 7 de agosto, uma reportagem procurou reproduzir a argumentação dos descontentes com o significado do rótulo: "O termo 'queremismo' está sendo agora empregado num sentido abusivo por parte daqueles que precisam se agarrar a todo e qualquer recurso para atacar o governo e seus homens". Ademais, a mera simpatia pessoal ou admiração pela obra do chefe do governo seriam suficiente para ver-se taxado de 'queremista'. Contrapondo-se ferrenhamente a essas perspectivas, o periódico é taxativo: "Só por obtusa fé se pode pensar assim". Como forma de sustentar sua opinião, comentou episódio que teria se passado no Hipódromo da Gávea, quando algumas pessoas teriam manifestado simpatia por Vargas e desrespeitado o hino nacional, baixo nível cultural ou civilizatório que justificaria plenamente o uso do termo.
Na conjuntura da redemocratização brasileira de 1945, um grande contingente de trabalhadores almejava escolher o próprio candidato à Presidência da República. Esse posicionamento os fazia avançar em direção a assuntos e decisões outrora tratados com mais exclusividade pelas elites. Aspectos da resistência destas últimas a esse processo podem ser entrevistos em reportagem do jornal Diário Carioca de 29 de julho de 1945. Trata-se da cobertura da chegada de dois emissários do "queremismo" gaúcho ao Rio de Janeiro para estruturar um partido nacional para lançar a candidatura de Vargas. O teor inicial da reportagem deixa bem claro o distanciamento social sentido pelo repórter em relação aos dois sujeitos:
O mesmo André Carrazoni, em edição de A Noite em 1 de setembro, reforçou essa posição. Segundo ele, a imprensa que transformou o "respeitável Sr. Major-brigadeiro Eduardo Gomes em orago da democracia teima em classificar de mera palhaçada a formidável reação popular batizada de 'queremismo' ". É possível notar que o uso do conceito, naquelas circunstâncias, não fora naturalizado, como ocorre atualmente no debate historiográfico. Ele era utilizado como instrumento de ataque por órgãos da imprensa oposicionista e, por isso, recusado por simpatizantes do varguismo. Carrazoni procurou uma explicação para tanto: "Ciosa dos privilégios outorgados pelo seu curioso credo liberal, não admite que fora dos círculos da truculenta irmandade outros homens tenham o direito de locomover-se, opinar, pensar, agir" (p. 2, edição final). Ainda que ligado diretamente a um governo autoritário, o colunista percebe bem o quanto o liberalismo das elites era excludente, uma das bases para a construção de opiniões e conceitos destinados a impedir a ampliação da participação política.
O termo queremismo, inicialmente, era percebido como ofensivo por membros das fileiras getulistas. E, por isso, não era um elemento central de identificação política entre eles. É o que se pode sugerir, a partir de reportagem do Correio da Manhã de 9 de agosto de 1945, na qual o periódico propõe-se fazer um pequeno balanço do "queremismo" em Manaus-AM. Ele relata que, no domingo anterior, reunira-se "quase clandestinamente" "um grupo e figuras pouco conhecidas e que se deu o nome de Frente Democrática Getúlio Vargas". Formada supostamente pela elite integralista que agira naquele estado e em outros, a agremiação teria proposto filiar-se ao partido nacional que lançasse a candidatura do presidente (p. 14). Como podemos perceber, é o jornal que emprega a expressão, não o grupo propriamente dito. O nome escolhido para representá-lo girava em torno da personalidade de Vargas e de um compromisso ao menos formal com a democracia. Não sabemos se o termo queremismo era aceito por integrantes daquela organização. De qualquer forma, esta não se reconheceu oficialmente como um braço regional de um movimento nacional designado por ele.
A elasticidade do conceito era tal, que seu uso transcendeu a seara política e atingiu o universo da cultura. Em 9 de outubro, o jornal carioca Diário de Notícias, fundado por Orlando Ribeiro Dantas e partidário da candidatura de Eduardo Gomes, identificou um "queremismo radiofônico": os programas de rádio com conteúdo cultural considerado de baixo nível. Segundo opinião sustentada na coluna, tal veículo apresentara traços do suposto fenômeno muito antes de o "neologismo entrar para o dicionário da politicagem nacional". Em outras palavras, o "queremismo do 'broadcasting' e do samba, das novelas, dos calouros e humoristas. As suas hostes são formadas pelos frequentadores de auditórios, ouvintes sem cultura, cantores e redatores ignorantes, locutores-palhaços e patrocinadores boçais" (p. 2, segunda secção). O elitismo que perpassa a construção negativa do termo torna-se bastante explícito. O suposto baixo nível cultural de tais programas, ao ser enquadrado nele, reforça a ideia de que os indivíduos localizados em suas fileiras não possuíam capacidade para se expressar politicamente.
Mais uma fala de liderança, desta vez de comitê pró- candidatura Getúlio Vargas de Pelotas-RS, pode ser analisada no jornal A Noite, de 5 de outubro. Na reportagem, Gentil de Oliveira apelou para que seus companheiros ingressassem no Partido Social Progressista. Em sua opinião, todos faziam parte de um movimento em torno da pessoa de Vargas com o único fim de elevá-lo à Presidência da República. Porém, segundo ele, "o Queremismo não foi registrado como partido político. Nessas condições, não tivemos dúvidas em associar-nos a um partido que propugne por essa candidatura" (p. 8, edição final). Nesse exemplo, é possível destacar a aceitação do termo por um dos dirigentes das manifestações, bem como sua grafia pelo jornal oficioso que tanto recusara sua validade; em letras maiúsculas, como se fosse um substantivo próprio digno do mais alto respeito. Desse modo, mais do que descrever um fenômeno, o conceito pretende criá-lo e canalizar suas forças.
No limite, o termo invertia o significado de algumas das principais reivindicações dos manifestantes. É o que aconteceu quando ele foi utilizado para designar um movimento que pretendia romper a ordem jurídica do país. Uma coluna de opinião do jornal Correio da Manhã de 25 de outubro afirmou que os "queremistas" não são cidadãos que "estejam usando do direito de opinar no pleito da sucessão"; pois, "insistindo na permanência do Sr. Getúlio Vargas no poder, estão, evidentemente, infringindo a lei, tomando uma atitude revolucionária" (p. 16). O jornalista Costa Rego, no mesmo jornal, em 7 de outubro de 1945, criticou ferrenhamente um discurso de Vargas no qual vislumbrava uma justificativa para a modificação arbitrária de leis no futuro. Em sua opinião: "O queremismo, tido no começo por simples movimento afetivo em benefício de um homem, tomou [...] o caráter [...] de um golpe de fundo político" (p. 4). Nesses casos, as demandas pela candidatura presidencial de Vargas até o prazo para sua desincompatibilização ou pela sua participação como representante na elaboração da nova Carta - relacionadas à institucionalização da política -, foram representadas como tentativas dos seguidores de Vargas de suprimir as instituições então vigentes.
Apesar de contar com uma base de apoio significativa, o Queremismo também enfrentou críticas e oposição. Parte da elite política e econômica do país via com desconfiança o movimento, temendo um aumento do poder de Vargas e a perda de suas influências. Além disso, alguns setores da sociedade questionavam a legitimidade do Queremismo, argumentando que a permanência de Vargas no poder seria uma afronta à democracia.
Apesar das incoerências e imprecisões do termo, bem como de seus significados pejorativos e ofensivos, muitos militantes varguistas começaram, entre os meses de agosto e dezembro daquele ano, a empregá-lo como símbolo de identificação política, provavelmente em razão do seu potencial unificador. Para tanto, urgia atribuir-lhe novos sentidos. Alguns destes podem ser encontrados nas páginas da própria imprensa liberal, que, às vezes, publicava vozes de seus próprios inimigos. A Folha da Manhã, periódico paulista de orientação liberal, por exemplo, chegou a veicular a fala do professor Bertho Condé, uma liderança "queremista", em 9 de outubro. Em suas palavras, os participantes do "movimento queremista" (em franca aceitação do termo) não eram destruidores da ordem legal; pois "negar que foi o povo que se reuniu é negar a própria evidência, e apodar o povo de desordeiro é um bom exemplo de seus sentimentos democráticos". Nesse caso, o líder reafirmou a legitimidade democrática das demonstrações de apoio a Vargas. Ademais, denunciou o autoritarismo do liberalismo das elites: "O que eles querem, mas não têm coragem de fazer ou propor, é que se cancele o direito de voto ao trabalhador, para ser apenas conferido aos plutocratas, bacharéis e coronéis" (p. 18).
Em outras palavras, Mattos Filho procura reverter o sentido desabonador do conceito e de suas derivações. Ele provavelmente respondia às posições de que este último designaria um fenômeno meramente personalista destinado a perpetuar a ditadura. Ao contrário, em sua opinião, tratar-se-ia de termo que nomeava um movimento, objetivando a instituição da política partidária em torno do legado do governo Vargas. Tal definição procurava definir o sentido das lutas, assim como apelava para os manifestantes varguistas se unirem em torno do conceito de queremismo.
o repórter foi a única pessoa que foi recebê-los no aeroporto e quando eles apontaram no grupo de passageiros que descera do aparelho não teve dificuldades em reconhecê-los. Não havia retrato, não havia descrição, nenhum dado para identificação. Mas esta gente conhece-se à distância.
Enfim, ecos desse debate podem ser encontrados na campanha eleitoral de 1950, quando Vargas disputou a Presidência da República pelas urnas. Em seu arquivo pessoal, encontra-se interessante folheto escrito em versos por um de seus simpatizantes, de forma semelhante a uma composição de cordel. O autor se declara Francisco Alves Nascimento, de Paranavaí-PR, e procura traçar um corte no tempo com a ascensão de Vargas ao poder. Em suas palavras, sobressai a percepção de ganhos pelos trabalhadores no governo deste último:
O Queremismo foi um movimento político que surgiu no Brasil durante a década de 1940, mais precisamente durante o governo de Getúlio Vargas. Esse movimento tinha como objetivo principal a permanência de Vargas no poder, mesmo após o término de seu mandato constitucional. O termo “Queremismo” deriva do verbo “querer” e expressa a vontade do povo em manter Vargas como presidente.
O termo queremismo pode ser situado historicamente como elemento importante das disputas políticas, durante a redemocratização de 1945. Conforme procurei demonstrar, sobretudo por meio da imprensa, trata-se de neologismo derivado do slogan "Queremos Getúlio" pelos opositores do então presidente para combater os manifestantes favoráveis à sua permanência no poder. Para tanto, agrupava sob o mesmo rótulo fenômenos distintos espalhados por todo o território brasileiro, os quais não possuíam, pelo menos num primeiro momento, unidade nem direção central. Verdadeira estratégia para a construção de um inimigo político, de maneira análoga à noção de tenentismo, essa construção linguística supunha a existência de um fenômeno incivilizado, ameaçador, despido de consciência política, empenhado tão-somente em perpetuar a ditadura do Estado Novo. Em outras palavras, algo que deveria ser eliminado da esfera pública, em consonância com a doutrina e as práticas liberais, que, tanto no Brasil como em outras partes do mundo, foram - e continuam sendo - mobilizadas para conter o avanço da participação política dos trabalhadores.
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Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;) Os principais movimentos socialistas que surgiram no século XIX foram o anarquismo e o comunismo. Segundo as ideias anarquistas, os operários somente iriam melhorar as condições de vida se o Estado e todas as formas de poder fossem extintas.