Mesmo com o título em inglês “Umbrella” (guarda-chuva), este curta é uma produção brasileira dirigida por Helena Hilario e Mario Pece. A estratégia visa tornar a obra mais abrangente para o público mundial e funciona, afinal o filme está na corrida para ser indicado ao Oscar de melhor curta de animação.
Com apenas oito minutos, a produção totalmente brasileira é baseada em fatos e retrata a vida de Joseph, uma criança em um orfanato que relembra seus traumas e esperanças pela presença de um guarda-chuva amarelo.
HH: Esse ano, o Umbrella é o único curta de animação 100% criado e produzido no Brasil, e com esse nosso jeitinho brasileiro, sabemos como ninguém como vestir a camisa e torcer de verdade, e essa demonstração de paixão e entusiasmo pelo projeto é muito evidente e contagia aos outros à nossa volta.
Por um lado, o curta comunica eficientemente o que se passa na sua narrativa. Assim, na primeira cena o menino está desenhando no vidro embaçado da janela uma figura de um pai e um filho. Dessa forma, já somos informados do que o angustia. E depois, um flashback relata como o pai pobre precisou abandonar o filho no orfanato. Por fim, avançando no tempo até sua velhice, descobrimos que sua esperança de reencontrar o pai nunca se tornou realidade.
O roteiro do Umbrella foi escrito em dezembro de 2011, após minha irmã Juciely, ter ido até o Lar de Crianças para doar brinquedos e um menininho pediu por um guarda-chuva. Ela estranhou pois o dia estava bonito e ensolarado, mas ele insistia em pedir por um guarda-chuva.
Se formos nominados, será um marco histórico para a animação nacional. Até hoje, nenhum curta-metragem de animação independente criado e produzido no Brasil por brasileiros chegou até uma nominação. Estamos todos na torcida para entrarmos na história, mas de qualquer maneira, nossa trajetória até aqui já é um marco muito importante, e toda a equipe do Umbrella está radiante e feliz com a recepção do filme.
“Escrevemos um roteiro com um storytelling voltado para um curta-metragem. Nosso sonho e objetivo era fazer um curta de animação e transformar a dor em arte. Nos inspiramos em um evento triste para criar uma história bonita e delicada. E assim entendemos que não podemos julgar as pessoas sem saber o que tem por trás daquela vivência. Todo mundo passa por situações que nem imaginamos, por isso devemos ser gentis uns com os outros”, comenta Helena. “Por isso pensamos em trazer a empatia e a esperança para essa narrativa. Algo que precisamos cada vez mais e mais”, complementa.
O maior reconhecimento é saber que conseguimos tocar o coração de algumas pessoas e isso é o maior objetivo de um storyteller, ter sua história compreendida e passar uma mensagem positiva que as pessoas irão se identificar.
Afinal, nessa estória inspirada por eventos reais, um menino recentemente deixado em um orfanato se enche de esperanças de rever seu pai ao avistar um guarda-chuva amarelo. Porém, ele pertence a uma mãe e uma menina que entram no orfanato para doar brinquedos. Então, ao tentar se apoderar furtivamente do objeto, ele é confrontado pela menina.
Foi um desafio bacana contar a história em 8 minutos e encontrar os elementos na música, na animação, na direção de arte e no CGI em geral que foram fundamentais para passar todo o sentimento e emoções que estavam no roteiro e nos nossos corações.
Queríamos transformar essa dor em arte, e levar uma mensagem de que não devemos julgar as pessoas sem conhecer a história e a batalha que cada um está passando, e que não devemos nos tornar pessoas ruins a partir de situações ruins que passamos na vida. Idealizamos, então, uma curta-metragem de animação sem diálogo. Queríamos que a mensagem fosse universal, e que as emoções e reflexões se dessem pela própria história, pela animação e música.
Ela me ligou. Choramos, refletimos sobre memórias, saudades e esperança. Esse episódio nos marcou muito e esmagou nossos corações. Eu não conseguia parar de pensar nesse menino, e na ideia de que as poucas memórias afetivas que ele tinha eram tão duras. Logo em seguida, eu e o Mario Pece, meu marido e companheiro de trabalho, escrevemos um roteiro repleto de empatia.
HH: Nunca imaginamos que o Umbrella teria uma recepção tão positiva. Foi emocionante ver o público, jurados e programadores dos festivais sentindo uma conexão pessoal com a história do filme. A cada email recebido com a aceitação nos festivais foi uma alegria imensa. Nesse ano tão difícil, o Umbrella trouxe muita luz e felicidade para toda a nossa equipe, ainda mais em sabermos que conseguimos passar a mensagem de empatia e esperança.
“Estamos muito felizes e honrados pelo reconhecimento do nosso trabalho nos mais importantes e prestigiados festivais de cinema do mundo. A trajetória para produzir o projeto não foi fácil, mas nos enche de orgulho olhar cada pedacinho da história do Umbrella e trazer esse reconhecimento para o mercado de animação brasileiro”, comenta Helena. “O curta tem chances de ser o primeiro curta de animação brasileiro da história a chegar ao Oscar”, diz ela. Entre os festivais de destaque que a animação já passou estão: Tribeca, Cinequest, Chicago International Film Festival, Calgary International Film Festival, Animayo, entre outros.
Evidentemente, há uma clara preocupação de agradar ao público internacional. Por isso, não há diálogos, e os letreiros dos cenários estão todos em inglês. Do mesmo modo, o cenário retrata uma paisagem urbana dos EUA, e não do Brasil. Além disso, o filme trabalha com temas universais.
Umbrella é o 7° trabalho de Mario como diretor e a estreia de Helena na função. O texto do curta foi feito há nove anos e lançado pelo estúdio de animação Stratostorm, fundado pelo casal que mora nos EUA.
Tivemos muitos desafios técnicos e artísticos para fazermos do Umbrella um projeto único e especial, e fomos encontrando soluções ao longo da produção. Uma produção independente requer bastante planejamento de produção, planejamento financeiro e estratégico pois além dos desafios, é também um risco. Muitas variáveis precisam funcionar em perfeita sincronia para o projeto dar certo.
Helena Hilário: A história foi inspirada em um momento que minha irmã experienciou no Lar das Crianças na nossa cidade natal, Palmas no Paraná, e nós não adaptamos a história real. Nos inspiramos em um momento e no sentimento da dor e esperança e construímos uma narrativa com uma mensagem universal para atingir todos os públicos.