O tratamento multidisciplinar e contínuo que as fissuras labiopalatinas exigem pode deixar algumas dúvidas nas famílias que ainda estão no início da assistência médica, mas para esclarecermos um pouco mais sobre os caminhos, hoje apresentaremos três tipos de procedimentos cirúrgicos que um paciente com fissura labiopalatina pode passar: palatoplastia, queiloplastia e rinoplastia. Conheça!
Foram incluídos no estudo indivíduos: 1) de ambos os gêneros; 2) com idade mínima de seis anos, sem restrição de idade máxima; 3) com diagnóstico de fissura de palato não sindrômica associada ou não à fissura de lábio; 4) corrigida cirurgicamente há no mínimo três meses em relação à data da avaliação fonoaudiológica; e 5) que não houvessem realizado terapia fonoaudiológica prévia e/ou tratamento com próteses.
O diagnóstico e acompanhamento médico dos participantes foram realizados pela Equipe de Cirurgia Craniomaxilofacial da Divisão de Cirurgia Plástica e Queimaduras do hospital, conforme parceria com esta divisão, que evolve a atuação de cirurgiões plásticos e otorrinolaringologistas.
A palatoplastia é a cirurgia para correção do palato. Geralmente, ela é realizada no paciente com fissura ao completar 12 meses de idade e alcançar 10 kg de peso. A cirurgia de palato pode ser feita em uma única etapa, na qual o palato duro (parte dura do céu da boca) e o palato mole (parte mole do céu da boca) são fechados, ou dividida em dois momentos, em que fecha-se o palato duro e posteriormente o palato mole.
97 indivíduos, de ambos os gêneros, com diagnóstico de fissura de palato associada ou não à de lábio, divididos em dois grupos: 1) grupo precoce (GP), composto por 43 indivíduos operados até o segundo ano de vida; 2) grupo tardio (GT), composto por 54 indivíduos operados após o segundo ano. Os participantes foram submetidos à avaliação clínica fonoaudiológica. Os parâmetros avaliados e considerados para o estudo foram: classificação da ressonância, presença de ronco nasal audível, ocorrência de fraca pressão intraoral, ocorrência de emissão nasal, classificação da inteligibilidade de fala e presença de distúrbios articulatórios compensatórios (DACs). Uma porcentagem randomicamente selecionada de participantes (30%) foi reavaliada por mais duas fonoaudiólogas e a comparação entre os juízes indicou alta concordância.
Os dados utilizados para este estudo compõem a gama de aspectos avaliados durante a avaliação de rotina, mais especificamente da Avaliação Perceptivo auditiva da Fala. Para a execução desta avaliação, um protocolo próprio da unidade é aplicado. Este foi elaborado pelos fonoaudiólogos do serviço de Fonoaudiologia, após extensa revisão da literatura e participação em reuniões de classe que visam à padronização de protocolos de avaliação para pacientes fissurados. Este protocolo compreende a avaliação dos aspectos morfológicos do sistema motor oral, avaliação da oclusão e avaliação da fala. Esta última é avaliada por meio da análise de amostras de fala, compostas por trechos de fala dirigida (repetição de vocábulos e frases) com recorrência do som alvo a ser analisado, contendo todos os fonemas do português brasileiro; fala automática durante a contagem de 1 a 10 e, por fim, fala espontânea, solicitando ao paciente a narração de algum acontecimento cotidiano. A verificação da ocorrência ou não do escape de ar nasal durante a fala é realizada por meio do teste de emissão nasal, com o auxílio do espelho de Glatzel.
foi possível caracterizar o perfil geral e de fala dos pacientes submetidos à palatoplastia primária do referido hospital escola. Concluiu-se que a realização da cirurgia precocemente traz melhores resultados em relação à fala.
Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística no software SPSS versão 22. A análise descritiva foi realizada pela frequência e porcentagem de distribuição para as variáveis categóricas, pela média, desvio padrão, valores mínimo e máximo, mediana e quartis para as variáveis numéricas. A análise inferencial foi empreendida pelo teste não paramétrico de Mann-Whitney para as comparações interruptos de variáveis numéricas, pelo teste Qui-quadrado ou pelo teste exato de Fisher para as variáveis categóricas. Para todas as comparações foi utilizado o nível de significância de 5%.
(nível de significância de 5%): os grupos não se diferenciaram em relação à classificação da ressonância (p=0,067), grau de hipernasalidade (p=0,113), presença de ronco nasal (p=0,179), ocorrência de fraca pressão intraoral (p=0,152), ocorrência de emissão nasal (p=0,369) e classificação da inteligibilidade de fala (p=0,113). Em relação à presença de DACs, os grupos se diferenciaram (p=0,020), com maior ocorrência de fonemas alterados no GT.
Foram considerados critérios de exclusão: 1) realização de cirurgias secundárias em palato; 2) presença de alterações neurológicas; 3) histórico de traumas de face; 4) presença de doenças respiratórias; 5) presença de fístulas de palato de qualquer extensão; 6) presença de comorbidades fonoaudiológicas (queixas e déficits de linguagem e auditivos); 7) presença de comprometimento cognitivo ou de nível de consciência que impossibilitasse a compreensão de informações verbais solicitadas para a avaliação e tratamento fonoaudiológicos.
Os pacientes que já fizeram a cirurgia de fissura labiopalatina podem realizar correções na região do nariz, procedimento chamado de rinoplastia. Na primeira infância, a correção do nariz, após palatoplastia, é menos invasiva, dessa forma, é preciso ter em mente que pode ser necessário realizar um novo procedimento no futuro. Em contrapartida do que é realizado nas rinoplastias comuns, os cirurgiões plásticos geralmente realizam enxertos, levantam a ponta no nariz e aumentam a região nos pacientes que tiveram anomalias craniofaciais como a fissura labiopalatina.
Participants were 97 patients of both genders with cleft palate and/or cleft and lip palate, assigned to the Speech-language Pathology Department, who had been submitted to primary palatoplasty and presented no prior history of speech-language therapy. Patients were divided into two groups: early intervention group (EIG) – 43 patients undergoing primary palatoplasty before 2 years of age and late intervention group (LIG) – 54 patients undergoing primary palatoplasty after 2 years of age. All patients underwent speech-language pathology assessment. The following parameters were assessed: resonance classification, presence of nasal turbulence, presence of weak intraoral air pressure, presence of audible nasal air emission, speech understandability, and compensatory articulation disorder (CAD).
To characterize the profile and speech characteristics of patients undergoing primary palatoplasty in a Brazilian university hospital, considering the time of intervention (early, before two years of age; late, after two years of age).
Como citado anteriormente, os participantes haviam sido operados ou não na instituição. Desta forma, não foi possível controlar as variáveis tipo de procedimento cirúrgico e/ou quantidade de cirurgiões envolvidos nestes procedimentos.
At statistical significance level of 5% (p≤0.05), no significant difference was observed between the groups in the following parameters: resonance classification (p=0.067); level of hypernasality (p=0.113), presence of nasal turbulence (p=0.179); presence of weak intraoral air pressure (p=0.152); presence of nasal air emission (p=0.369), and speech understandability (p=0.113). The groups differed with respect to presence of compensatory articulation disorders (p=0.020), with the LIG presenting higher occurrence of altered phonemes.
Para a análise da inteligibilidade de fala, foram levadas em consideração todas as amostras de fala dos participantes - fala dirigida, fala automática e principalmente a fala espontânea.
Em relação à caracterização da fala, de forma geral, o estudo identificou um maior número de participantes dos grupos apresentando alteração nos parâmetros hipernasalidade, inteligibilidade de fala e presença de DACs. Para a presença de ronco nasal, fraca pressão intraoral e emissão de ar nasal audível, o número de alterações foi menor, embora ainda deva ser considerado.