O autor apresenta as principais contribuições de Melanie Klein à psicanálise. Partindo da psicanálise clássica, Klein desenvolveu alguns conceitos de Freud (fantasia, mundo interno, complexo de Édipo, entre outros) e elaborou outros conceitos originais (o conceito de posição, as idéias sobre as etapas mais primitivas do desenvolvimento, os mecanismos e as defesas utilizadas nas fases iniciais do desenvolvimento). A partir da apresentação das contribuições teóricas, são mencionadas também algumas importantes implicações das idéias kleinianas na técnica e na prática clínica da psicanálise, tal como concebida e preconizada por Melanie Klein e seus seguidores.
A experiência da culpa na psicanálise kleiniana está ligada à capacidade do indivíduo de reconhecer e lidar com os danos causados aos objetos importantes. A vivência da culpa desperta um senso interno de responsabilidade e motivação para reparar esses danos. Assim, a culpa atua como um motor para o processo de reparação psíquica, que busca a restauração das relações objetais danificadas. Compreender a importância da culpa na psicanálise kleiniana é fundamental para a terapia psicanalítica, pois permite ao terapeuta auxiliar o paciente na elaboração desses conflitos internos e na busca por relações mais saudáveis e satisfatórias.
Sendo o substrato da vida mental, as fantasias representam também as ansiedades e defesas, que são outros conceitos a serem abordados.
Estas ansiedades, ao serem vivenciadas, mobilizam defesas no ego, que são formas de reagir a estes "perigos". A ansiedade paranóide gera defesas tais como projeção, splitting, negação identificação projetiva e idealização, todas elas com a finalidade de livrar o ego de seus perseguidores. Por intermédio destas defesas, o ego procura afastar-se dos perigos que julga serem externos e colocar fora de si as partes que são sentidas como perigos internos. Paralelamente, busca identificar-se com os objetos idealizados para sentir-se suficientemente forte diante dos perseguidores. São tempos de guerra para o ego e, consequentemente, o sofrimento mental é intenso. O indivíduo está sempre alerta, amedrontado, aterrorizado e as defesas de que se utiliza, em geral, provocam fragilidade do ego e afastamento da realidade.
Cabe lembrar, neste ponto, que as fantasias ocorrem no nível inconsciente da mente e podem, eventualmente, tornar-se conscientes. Elas são a "matéria prima" do insconsciente e, como tal, permeiam toda a vida mental que, por sua vez, está na base do comportamento manifesto dos indivíduos. Isaacs (1978) mostra que as fantasias manifestam-se de inúmeras formas e expressam-se nos mais diferentes tipos de comportamentos. Cito alguns trechos de seu artigo a este respeito:
Em resumo, na psicanálise kleiniana, a culpa tem um significado profundo para a compreensão do psiquismo humano. Ela surge de fantasias inconscientes de destruição e ódio em relação aos objetos amados, e sua vivência está relacionada a um senso de responsabilidade e motivação para reparar os danos causados. A reparação, por sua vez, é um processo de continência e restauração das relações danificadas, que visa a resolução de conflitos psíquicos e a busca de relações objetais mais saudáveis. A compreensão desses conceitos é essencial para a terapia psicanalítica e proporciona insights valiosos sobre o desenvolvimento psicológico e a saúde mental.
De acordo com Klein, a posição depressiva é uma etapa normal do desenvolvimento, na qual a criança começa a reconhecer a existência de um objeto separado de si mesma. Nessa fase, ela desenvolve uma maior capacidade de empatia e passa a sentir culpa e remorso pelos ataques sádicos que antes dirigia à figura materna. A criança também demonstra preocupação com a sobrevivência do objeto amado e busca reparar o dano causado pelas fantasias destrutivas.
Klein trouxe uma nova perspectiva para a psicanálise ao desenvolver a análise de crianças. Ela acreditava que os primeiros anos de vida eram fundamentais para o desenvolvimento psíquico e que as fantasias inconscientes desempenhavam um papel crucial nesse processo. Ao estudar as crianças, Klein observou que elas possuíam fantasias inatas que representavam os instintos libidinais e agressivos. Essas fantasias eram expressas por meio da atividade lúdica, proporcionando uma forma de liberar os impulsos internos e lidar com o mundo externo.
A reparação na psicanálise kleiniana é entendida como um processo de continência e restauração das relações objetais danificadas pela culpa. Envolve a capacidade do indivíduo de refletir sobre os danos causados e buscar repará-los através de ações simbólicas e mudanças comportamentais. Essa relação entre culpa e reparação é intrínseca, pois a culpa é experienciada como uma motivação para reparar o dano causado.
1989 Britton, R. ‘The missing link: Parental sexuality in the Oedipus complex’ [‘El eslabón perdido: la sexualidad parental en el complejo de Edipo’]. R. Britton, M. Feldman y E. O’Shaughnessy (eds.) The Oedipus Complex Today: Clinical Implications [El complejo de Edipo hoy: implicaciones clínicas]. Karnac. Concepto del ‘espacio triangular’.
A culpa desempenha um papel central na constituição subjetiva, influenciando as relações interpessoais e a formação do superego. A reparação é vista como um processo fundamental para superar a culpa e resolver conflitos psíquicos.
1992 O’Shaughnessy, E. ‘Enclaves and excursions’[‘Enclaves y excursiones’], International Journal of Psychoanalysis. 73: 606-611. Necesidad de que el analista analice las relaciones con pacientes que generan enclaves o excursiones, que impiden hacer frente a las situaciones psíquicas que deben abordarse analíticamente.
Palavras-chave: Fantasia inconsciente, Posição, Mecanismos primitivos, Mundo interno, Setting, Interpretação.
A posição depressiva é uma fase normal do desenvolvimento de acordo com a teoria de Melanie Klein. Envolve a integração do ego e do objeto, a expressão de sentimentos afetivos e defesas relacionadas à possível perda do objeto.
Nesse sentido, a reflexão sobre a culpa e a reparação nos convida a olhar para o interior de nós mesmos, reconhecer nossos conflitos internos e buscar caminhos para lidar com eles de forma saudável. Através desse processo, podemos promover a saúde psicológica e a resolução dos traumas, permitindo-nos desenvolver relações objetais mais satisfatórias e construtivas.
... "o estilo e o tom de voz ao falar, a -postura corporal, o modo de andar, de apertar a mão, a expressão facial, a caligrafia e os maneirísmos, em geral, também são determinados, direta ou indiretamente por fantasias específicas. Estas são, usualmente, muito complexas, relacionadas com os mundos interno e externo, e vinculadas à história psíquica do indivíduo" (pág. 114).
Na transferência negativa os sentimentos predominantes são invejosos, destrutivos. Os objetos são alvo de ataques de todo tipo. Na situação analítica o paciente se utiliza de qualquer ocorrência para acusar - implícita ou explicitamente - o analista. Por exemplo, se o analista suspende uma sessão, o paciente pode sentir como uma agressão por ter sido abandonado e colocado em segundo plano. Isto gera sentimentos hostis no vínculo que podem aparecer tanto em um pequeno atraso na sessão seguinte como em uma interrupção definitiva do trabalho.