Green Book, do diretor Peter Farrelly, conta a história real da amizade inesperada entre o pianista Don Shirley (Mahershala Ali) e seu motorista Tony Lip (Viggo Mortensen) num contexto norte-americano extremamente racista dos anos sessenta.
O guia, publicado pela primeira vez em 1936, foi vendido continuamente até 1966. Era comum encontrá-lo em postos de gasolina, sendo que cerca de 15.000 cópias eram vendidas anualmente.
No dia seguinte, Tony recebeu um telefonema de um conhecido que lhe anunciou que um médico estava precisando de um motorista. Sem saber o que estava por vir, ele foi para a entrevista. Ao chegar, ficou surpreso ao verificar que o endereço o levou a um teatro.
Dolores, esposa de Tony, é muito responsável, cuidando não só do lar e dos filhos, mas também da administração das finanças da família. Embora seja extremamente preocupada com o futuro deles, ela é compreensiva com o marido. Porém, quando a boate Copacabana fecha as portas, ela não sabe mais como conseguirá pagar as contas e fica desesperada.
Tony, que estava casado com Dolores e tinha dois filhos pequenos, precisava prover para a família. Logo, começou a procurar emprego para garantir a subsistência durante os meses em que a boate estava fechada.
O Don Shirley da vida real nasceu na Flórida, no dia 29 de janeiro de 1927, filho de pais imigrantes jamaicanos. O pai do pianista era um pastor e a mãe era professora. Shirley ficou órfão de mãe quando tinha apenas nove anos de idade.
Após sua viagem, Tony e Don retornaram para casa. Tony começou a trabalhar novamente no Copacabana, mas a amizade dos dois nunca diminuiu. Surpreendentemente, ambos faleceram em datas muito próximas: Tony em 4 de janeiro de 2013 e Don em 6 de abril de 2013.
Nick Vallelonga, filho de Tony Vallelonga, é um dos roteiristas de Green Book. Ele incluiu dados reais no filme, como as cartas de amor que seu pai escreveu para Dolores, com a ajuda do pianista.
Enquanto Shirley mostra-se perceptiva em relação ao racismo e à luta de classes, Tony parece desconhecer esses assuntos e prefere usar a força para lidar com os problemas aos quais é confrontado.
Durante nossa viagem, presenciamos varias formas claras de segregação. Por exemplo, durante uma das performances, o pianista foi proibido de usar o banheiro destinado apenas aos brancos.
A ideia era assegurar uma lista de restaurantes, hotéis e lugares turísticos que garantissem que eles seriam tratados com igualdade com os brancos, sem qualquer tipo de preconceito.
Em uma outra vez, Shirley foi impedido de almoçar no mesmo restaurante em que seu público estava. Durante a turnê, também não foi permitido que ele se hospedasse em vários hotéis destinados exclusivamente às pessoas de cor branca.
The Negro Motorist Green Book, editado por Victor Hugo Green, era uma espécie de guia de viagem para negros que quisessem viajar sem se preocuparem com a segurança.
O pianista retratado no filme possui hábitos muito semelhantes aos do verdadeiro Don Shirley. Este vivido por cerca de cinquenta anos em um luxuoso apartamento no Carnegie Hall.
A estranheza social foi uma presença constante no filme, como por exemplo quando a viatura de Tony e Shirley foi parada por policiais no Sul, para que fosse prestada alguma explicação.
Muito conceituado entre o público, Shirley costumava ser chamado de doutor como sinal de admiração. Depois de algumas discordâncias, Tony, que desejava ser apenas motorista e não assistente pessoal, acha melhor não trabalhar com Shirley, especialmente tendo em conta a remuneração proposta.
Rude, muitas vezes antipático e arrogante, Shirley vai se deixando cativar por Tony e os dois vão criando com o tempo uma convivência harmoniosa que se transforma numa amizade plena.
A viagem aconteceu gerenciada pela Columbia Artists, empresa que administrava a carreira do artista, e durou cerca de um ano e meio (o filme na verdade condensa a história, como se a turnê tivesse durado dois meses). Durante o trajeto, o pianista tocou apenas para um público composto por brancos.
No Globo de Ouro de 2019, Green Book foi indicado em cinco categorias. No final da noite, o filme levou para casa três prêmios: Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali), Melhor Filme Cômico e Melhor Roteiro de Cinema.
Pondo provisoriamente a parte as questões sociais, em termos de personalidade Don e Tony parecem opostos: o primeiro muito preocupado com a questão social (com a imagem, com a conduta) e o segundo desbocado e irreverente. A lógica dos opostos comparece se pensarmos no nível de refinamento e cultura de ambos os personagens.