“Emoji: O Filme conta uma história extremamente forçada, feita para uma identificação simples com o público. É por isso que o filme usa tantas referências à vida real, e tenta a todo momento se tornar 'mainstream'. Ao invés disso, todas as cenas são desconfortáveis.”
Se o lugar comum no âmbito visual é totalmente perceptível, no conteúdo de Emoji: O Filme é ainda pior. Se pelo menos o longa tenta se comunicar de alguma maneira, por outro faz isso de maneira totalmente atabalhoada, sem saber realmente que caminho seguir e qual mensagem realmente deseja transmitir. Logo de início, Emoji parece constituir uma crítica ao uso exacerbado da tecnologia por parte dos jovens, entrando num discurso óbvio sobre a incapacidade de se comunicar sem a presença dessa interação digital. Por outro lado, a história do emoji protagonista entra naquela questão da pessoa que não se encaixa nas regras e busca por uma adequação, para depois perceber que sua qualidade está justamente em aceitar suas diferenças.
Não podiam estar mais errados. O filme de Tony Leondis (Igor) não é nenhuma superprodução da Disney, mas está longe de ser um desastre completo e tem seus momentos de brilhantismo e autocrítica, apesar da proposta inicial um tanto inacreditável.
Ele aliás é o responsável pelas piadas mais inacreditáveis, toilet humour mesmo e crava um pezinho (sujo) no nonsense total. Como eu disse antes, Emoji: O Filme não se leva a sério em nenhum momento.
Sinto que em breve serei o crítico mais odiado do Brasil, mas juro que não faço de propósito ou sequer é vontade de aparecer ou ser do contra. O que ocorre é que nesta área precisamos ser fiéis ao que interpretamos quando assistimos a uma produção cinematográfica. O mais fácil seria realmente nadar junto com a maré e não causar ondas. Se a maioria estiver falando mal, vamos com ela, ou vice versa. Isto seria algo totalmente antiético e a maior traição de nossos sentimentos.
Veja bem, Emoji é um filme bem bobinho, mas ao mesmo tempo tem o coração no lugar certo. É uma produção inofensiva, daquele tipo que dá dó falar mal. A intenção fica numa mistura entre Uma Aventura Lego (2014) e Detona Ralph (2012), obviamente resultando em algo bem inferior aos dois. A ideia de se fazer um longa-metragem baseado nas carinhas de aplicativos de celular é esdrúxula o suficiente, e se tivesse recebido o sinal verde antes de 2014, seria algo ainda mais inimaginável – ou talvez sequer o teria recebido. O que ocorre é que após Uma Aventura Lego, as ideias mais idiotas ganharam novo sentido, se mostrando possíveis e plausíveis de se tornarem sucessos muito eficientes.
As coisas dão terrivelmente errado quando no seu primeiro dia de trabalho Gene é selecionado por Alex para enviar uma mensagem a Addie e ele obviamente dá “tilt”, e passa a ser caçado como uma ameaça ao status quo.
Ele vem de uma geração de "Ehs", que não se empolgam com realmente nada. No entanto, Gene se mostra capaz de fazer várias carinhas, sendo vários emojis em um só. Isso não é bem visto pelo comando do aplicativo, principalmente após um erro de Gene mandar um emoji incorreto em uma mensagem do dono do celular.
Assim surgiu Emoji: O Filme, que mira em LEGO, usa trama similar a Detona Ralph, e termina como, bem, como algo saído do braço de animação da Sony. No lado positivo, a exibição para a imprensa contou com um curta de Hotel Transilvânia, que serve como prévia até que a parte 3 seja lançada ano que vem. Na trama, conhecemos a cidade dos Emojis – é sério!! – aonde cada emoji tem sua função dentro do celular do jovem Alex (voz de Jake T. Austin no original). Gene (voz de T.J. Miller no original), o emoji Meh (a carinha de desânimo), é o protagonista. Quando ele falha em seu único trabalho, começa sua jornada ao lado do emoji Hi-5 (voz de James Corden), a mãozinha, para que todos os aplicativos do celular não sejam deletados. É sério – parte dois!
Bem, o roteiro de Emoji é um dos elementos mais diluídos do longa, e podemos afirmar que este é o primeiro filme sobre o conserto de um celular da história – que é exatamente o que Alex, o humano fora do mundo dos Emojis, irá fazer. A semelhança com Detona Ralph está não apenas na busca do protagonista por seu lugar no mundo, se recusando a ser o que esperam dele – daí uma interessante analogia contida para os pequeninos, também presente em Formiguinhaz (1998), mas igualmente na estrutura que coloca o personagem principal bagunçando o coreto de um universo particular, desestruturando regras para conseguir seus objetivos. Assim como Ralph passava por inúmeros jogos em sua epopeia, Gene e seus amigos se deparam com diversos aplicativos num celular, entre eles Facebook, Instagram, jogo de dança e até mesmo o grudento Candy Crush.
Pois bem, ele chegou. Emoji: O Filme foi crucificado pela imprensa especializada, classificado como a pior animação de todos os tempos por ser fruto de uma ideia imbecil, rasa e idiota segundo os críticos.
Gene então se une ao emoji Bate-Aqui (o bom e velho ✋), que está fazendo de tudo para voltar a ser um favorito e voltar à aba de destaque (o que dentro de Textópolis é uma área VIP) e a misteriosa emoji hacker Rebelde (Jailbreak no original), que quer sair do smartphone e cair na nuvem. Porém sua jornada acaba causando uma série de problemas dentro e fora do smartphone, e Gene e seus amigos acabam por colocar em risco não só Textópolis como todos os programas que moram dentro do smartphone de Alex.
Mesmo que esses sejam lugares óbvios dentro de qualquer narrativa, o filme nem mesmo consegue manter seu discurso, fazendo com que o roteiro se perca em suas próprias temáticas. O que antes poderia ser uma crítica ao uso do celular e tecnologia, de repente torna-se uma celebração dessa própria utilização, como se a possível falta de celular que o garoto passa fosse uma possibilidade que ele perdia de se comunicar. O mesmo ocorre no âmbito do emoji protagonista, no qual o fato dele ser diferente deixa de ser aceitação para se tronar uma característica especial, fazendo com que de renegado ele passe a ser um emoji especial, o único capaz de reverter àquelas situações. Emoji não consegue nem mesmo se concentrar no discurso e mensagem que deseja transmitir.
Como animação Emoji: O Filme é bem OK, mas nada muito além disso. Ele é bem semelhante ao que a Pixar fez com o brilhante Detona Ralph, em que o protagonista também está buscando seu lugar no mundo. No entanto, diferente de Ralph que queria provar que podia ser mais do que todos esperavam dele (um vilão que sempre é derrotado) Gene quer mudar sua essência, se encaixar e se tornar “mais um”, ao invés de aceitar como um emoji único.