Como Merleau-Ponty Concebe A Relaço Entre Mente E Corpo?

Como Merleau-Ponty concebe a relaço entre mente e corpo

Merlau-Ponty sempre procurou sublinhar a integralidade do sistema “eu-outro”, nossa inerência a um mundo comum, que funciona em uma quase-harmonia: “é justamente meu corpo que percebe o corpo do outro, encontrando nele um prolongamento milagroso de suas próprias intenções, uma maneira familiar de se relacionar com o ...

Com base nos estudos da ciência da sua época, Merleau-Ponty interroga a respeito das análises sobre o sistema nervoso e os postulados clássicos sobre a condução do impulso elétrico, sobre o circuito reflexo, envolvendo estimulação e reação, sobre o campo perceptivo e sobre a questão da localização cerebral, sendo insuficiente a correspondência pontual, própria da tradição atomista, entre o excitante, o mapa cerebral e a reação. Essa revisão conduz a uma nova compreensão da percepção que se aproxima das ciências cognitivas contemporâneas. Este artigo, fruto de um estudo teórico sobre a fenomenologia de Merleau-Ponty, tem como objetivo apresentar essa revisão conceitual sobre a percepção, o diálogo com a arte e a ciência, configurando noções e conceitos em torno de uma fenomenologia do conhecimento.

Índice

A relação entre corpo e existência pertence à mesma ordem da relação entre existência e tempo: ambos estão profundamente envolvidos um com o outro, um não acontece sem o outro. A existência acontece pelo corpo, corporalmente. Há também relação estreita entre corpo e tempo. Assim, em princípio, a finitude imposta pela morte ao corpo confere a este a primeira dimensão temporal. Pelo fato de sabermos que teremos um fim, ocupamo-nos com as pessoas e com as coisas. Se a vida fosse eterna, seria uma vida de adiamento.

O estímulo adequado não pode se definir em si e independente do organismo; não é uma realidade física, é uma realidade fisiológica ou biológica. O que desencadeia necessariamente certa resposta reflexa, não é um agente físico-químico, é certa forma de excitação da qual o agente físico-químico é a ocasião antes que a causa. (p. 57)

Nosso objetivo é pensar sobre o corpo em uma perspectiva fenomenológico-existencial, tomando Heidegger e Merleau-Ponty como referência. Nas concepções tradicionais, tem-se compreendido o corpo como mecanismo biológico, contraposto a uma instância suprassensível (razão, psique ou alma), como fonte de prazer erótico e impessoal e, mais contemporaneamente, como cartão de visita submetido aos ditames da moda, da saúde e da boa forma. Seriam essas concepções absolutas ou expressão de determinado modo de ser da sociedade contemporânea? Que implicações têm tais concepções? Haveria algo impensado? A princípio - consideramos -, há muito que se pensar sobre o corpo sob diversos ângulos temáticos e teóricos, e tanto tais concepções tradicionais quanto as atuais são expressões de um modo de pensar de determinada época. Fazendo uma reflexão respaldada no pensamento heideggeriano, procuramos mostrar um dos caminhos possíveis de se repensar o corpo, procedendo a algumas aproximações com o pensamento de Merleau-Ponty. Veremos como a concepção atual de corpo se vincula a determinada concepção de homem e de ser e que temos uma espécie de intimidade original com o mundo que o olhar sobre o corpo aponta. Tal intimidade deve ser recuperada para cultivarmos um modo mais humano e mais próximo com os outros.

Como a fenomenologia enxerga o homem?

Como a fenomenologia enxerga o homem?

No entendimento do mesmo autor, o tempo é a dimensão existencial do que passa, do que se move, do que nunca permanece o mesmo, por isso os conceitos, que anulam a qualidade de impermanência do real, são atemporais. Heidegger (2001, 2008) critica a hegemonia que o pensamento metafísico pode atingir, porque apenas se considera verdadeiro o permanente, o constante, e, portanto, o que é passível de mensuração e cálculo. Inegavelmente, a perspectiva técnico-científica é extremamente válida e útil na produção de conhecimento e de tecnologia; no entanto, se a sociedade pensar e viver exclusivamente a partir dela, as pessoas correm o risco de restringirem sua vivência, sua abertura afetiva e sua disponibilidade para o outro a um modo previsível e controlado, próprio dessa perspectiva.

A enação enfatiza a dimensão existencial do conhecer, emergindo da corporeidade. A cognição depende da experiência que acontece na ação corporal. Essa ação vincula-se às capacidades sensório-motoras, envolvidas no contexto afetivo, social, histórico, cultural. O termo significa que os processos sensoriomotores, percepção e ação, são essencialmente inseparáveis da cognição.

Our aim in this paper is to study the problem of the perception of one's own body in Merleau-Ponty's productions during the period he taught at the Collège de France. Discussions about the notion of body scheme serve as the research axis. We focus on two courses directly connected with the conceptual advances that bring Merleau-Ponty to elaborate the notion of flesh: The sensitive world and the world of expression and Nature. We particularly look into the first, as research about the diachronism in corporeity phenomena turns into theoretical support in relation to later progress. We consider that the diacritic condition of the body's position in the world is related with the theme of the circuit established between the body, the other and things. This is also related to principle of reversibility, to the body as a sensitive sentient.

Considerations about corporeity and perception in the late work of Merleau-Ponty

Sabemos que nosso projeto envolve uma tarefa inesgotável e, diante das possibilidades existentes, entendemos que o que aqui apresentamos é algo bem introdutório, mas mesmo assim cremos que poderá colaborar com os que buscam informações relativas ao tema, de modo particular com os que nele se iniciam. Pelo fato de trabalharmos numa linha fenomenológica, estamos conscientes de que aquilo que aqui expomos é apenas uma das infinitas perspectivas que o fenômeno apresenta, restando-nos a empreitada de continuar investigando.

Ao observar a cor, o desenho, os contornos, as proporções do corpo, as distorções das formas, podemos compreender a tese segundo a qual os sentidos não produzem um decalque do mundo exterior. "Cézanne quer pintar a matéria em vias de se formar", afirma Merleau-Ponty (1966/2004, p. 128). Esse princípio amplifica a compreensão de percepção apresentada por Merleau-Ponty e será fundamental em sua teoria de conhecimento sobre o corpo e sobre a percepção.

Seção


								Seção

No campo filosófico, junto com as mudanças socioeconômicas do século XVIII, surgiu o movimento Iluminista.8 Com ele, reapareceram a depreciação do corpo e a dicotomia entre ele e a alma, que a Antiguidade Clássica havia inaugurado. O Iluminismo negou a experiência sensorial, reduzindo a importância do corpo. Concomitantemente, devido à necessidade de dominar e de se manipular o corpo, o ser humano passou a ser visto como passível de ser modelado e explorado (Pelegrini, 2004).

Análises como essas são ocasião para que Merleau-Ponty (2011) fale em "diferentes níveis de motilidade" (p. 151) ou de uma "mesma função fundamental se exercendo em diferentes níveis" (p. 151). No movimento mais primordial já se constata uma dialética de expressão, cuja manifestação superior se encontra na própria linguagem, no pensamento. A comunidade entre movimento e linguagem não é explorada a fundo no curso que ora nos ocupa, mas encontra nele seu esboço. É o que revela o seguinte apontamento por parte de Merleau-Ponty (2011): "Esquema corporal e abertura a um mundo por motricidade. Mas também relação com outrem, linguagem, pensamento. Portanto ao menos esboçar esta dialética movimento – gesto – linguagem, onde movimento torna-se expressão" (p. 158, grifo do autor). Não por acaso, o filósofo fala da relação entre esquema corporal e linguagem, entre phasie e praxie. Merleau-Ponty menciona a perda da articulação interna do esquema corporal durante o sono. Junto com o apagamento das partes do corpo, a linguagem é desarticulada enquanto dormimos. Tudo se passa como se fôssemos invadidos pelo sentido das falas sem que elas se apóiem em palavras claramente diferenciadas. Daí o sentimento ao mesmo tempo evidente e informulável com que o sonho nos deixa ao despertarmos.

Desta feita, cabe destacar a menção, por parte de Merleau-Ponty (2011), ao problema do membro fantasma, fenômeno comum em pessoas que tiveram partes de seus corpos amputados. O membro fantasma revela a corporeidade como unidade vivida e destinada à frequentação do espaço. Head e Holmes (1911) relatam o caso de um paciente que, após a amputação de uma perna, passou a manifestar a experiência de movimentos na perna e no pé fantasmas. Tempos depois, o paciente apresentou uma lesão cerebral cujos efeitos mais notáveis foram a perturbação do reconhecimento postural – ou seja, a perturbação do sentido de unidade corporal – e, consequentemente, o desaparecimento da perna fantasma. Isso quer dizer que, com a integridade do esquema do corpo mantida, um membro objetivamente ausente pode continuar fazendo parte dele. Isso porque há uma "continuação da atividade total" (Merleau-Ponty, 2011, p. 137) do corpo. Na Fenomenologia da percepção, Merleau-Ponty (1945) sugere que por detrás do fenômeno do membro fantasma é o "movimento de ser no mundo" (p. 93) que vislumbramos. A relação pré-objetiva do sujeito com o mundo possui uma consistência própria, independente de estímulos interoceptivos, proprioceptivos ou exteroceptivos. O amputado conta com o membro fantasma da mesma maneira que o sujeito normal conta com as partes do seu corpo. Para ambos, não se faz necessária uma nítida percepção do corpo para colocá-lo em marcha. As partes corporais estão à disposição como uma potência total e marcam vagamente a sua presença.

Qual filósofo desenvolve o conceito de corpo próprio e apresenta a ideia de que o mesmo é a ideia de que cada pessoa é um corpo que percebe é que pensa e pensando atua no mundo e sobre si mesmo?

Trata-se, no caso do empirismo, da inexistência de um sujeito e de um vínculo interno entre o sentido da percepção e a palavra proferida, ou entre o significado da palavra e seu referente. Não vamos nos ater, aqui, à análise do empirismo feita por Merleau-Ponty, que visa, em última instância, criticar a possibilidade de se reduzir o fenômeno da linguagem a um processo mecânico, regido por leis fisiológicas ou psíquicas. No fundo, trata-se de recusar o automatismo das associações entre fatos físicos, fisiológicos e psíquicos, isto é, entre algo exterior que estimula o organismo e provoca reações psíquicas, segundo leis que desconsideram o sujeito e o sentido que aparece como fundante do ato de fala. Para Merleau-Ponty, o empirismo simplesmente nos corta do contato com o Ser, e seria contraditório com a própria atividade do cientista, que precisa supor uma atividade absolutamente livre (porque não possui outra concepção de mundo) dessas engrenagens em que ele supõe explicar o comportamento do outro, mas não o seu. Por isso Merleau-Ponty se viu às vistas principalmente com o intelectualismo, aqui representado pelo idealismo, que para ele representava o reconhecimento, embora enviezado, do sentido original do fenômeno da consciência, ponto de partida necessário mas insuficiente para a compreensão de sua inserção no mundo, o que o empirismo fazia "jogando a criança juntamente com a água do banho".

Diferenciando-se de concepções sobre o corpo fundamentadas na dicotomia da realidade, as quais separam o corpo de uma instância suprassensível, Merleau-Ponty afirma que o corpo habita o espaço e o tempo. Ele não está no espaço e no tempo, porque estar indica uma posição em tempo e espaço objetiváveis – espaço mensurável em metros, classificado como urbano ou rural ou delimitador de cidades e países, e tempo mensurável no relógio, que se marca no calendário. Já habitar implica relação de familiaridade com o mundo. O mundo é habitado pelo ser humano, cujos gestos e ações, nesse sentido, são hábitos.

A autopoiésis refere-se à complexidade do ser vivo, trata-se de um processo recursivo caracterizado pela clausura operacional e pelo acoplamento estrutural. O conceito de clausura operacional não se restringe ao uso habitual de ausência de interação, mas caracteriza uma nova forma de interação mediada pela autonomia do sistema, pela auto-referência (Maturana & Varela, 1995; 1997).

Navegar

Essa visão dominou a civilização ocidental durante centenas de anos, contudo, a partir do século XX, ideologias que supervalorizam o físico começaram a se sobrepor aos pensamentos legados por Platão e Aristóteles; nessa nova condição, os investimentos sobre o mesmo cresceram a ponto de se mostrarem exacerbados.

Durante a vida, o corpo vai existindo, passando com o tempo. Quando nascemos, nossa mobilidade é extremamente limitada, e nossa existência/corpo depende do cuidado do outro em todos os sentidos. Quando aprendemos a andar, ganhamos liberdade, passamos a conquistar um mundo. Na adolescência, o corpo vive as metamorfoses da infância para a idade adulta. Vivenciamos isso acompanhando a mudança no tom de voz, o surgimento dos pelos pubianos, o crescimento dos órgãos genitais e o aumento da estatura e da massa muscular, que nos possibilita realizar novas tarefas. Na idade adulta, somos um corpo que trabalha, que procura o sustento da família e as realizações pessoais. Na velhice, ele vai perdendo a autonomia no mundo e volta a necessitar de cuidado – fase em que nos voltamos mais para nós mesmos e, aos poucos, nos desligamos do mundo. Corporalmente, nossas possibilidades no mundo vão restringindo-se.

O retorno ao sentido do fenômeno da fala conduz à crítica de duas abordagens tradicionais, duas concepções que ainda estão presas à dicotomia sujeito-objeto e que foram, a princípio, influenciadas pelo pensamento cartesiano. Trata-se das concepções empirista e idealista - imbuídas dos viéses do objetivismo e do subjetivismo, respectivamente - que em seu intento de explicitar o fenômeno lingüístico não tiveram êxito em mostrar a autêntica dimensão expressiva da linguagem. Por isso, o trabalho merleau-pontyano começa por uma revisão das tradições empirista e idealista. Como resultado desta tarefa crítica, o autor aponta um fator comum às duas abordagens: ambas negam um sentido à palavra.

artigo

A percepção erótica não é uma Cogitatio que visa a um Cogitatum; através de um corpo, ela visa a um outro corpo, ela se faz no mundo, e não em uma consciência. Um espetáculo tem para mim uma significação sexual não quando me represento, mesmo confusamente, sua relação possível aos órgãos sexuais ou aos estados de prazer, mas quando ele existe para meu corpo, para essa potência sempre prestes a armar os estímulos dados em uma situação erótica, e a ajustar a ela uma conduta sexual. Há uma ‘compreensão' erótica que não é da ordem do entendimento, já que o entendimento compreende percebendo uma experiência sob uma idéia, enquanto o desejo compreende cegamente, ligando um corpo a um corpo (1999, p. 217)

As reflexões de Merleau-Ponty apontam para aspectos importantes do estudo da percepção, que hoje são retomados pelos estudos das biociências, ciências cognitivas e inteligência artificial, em especial nos estudos de Varela, Thompson e Rosch (1996), tais como: a percepção emerge da motricidade; o sistema nervoso central tem por função a condução do impulso e não a elaboração do pensamento; a relação circular entre o organismo e o meio, admitindo fenômenos transversais e considerando não apenas os componentes físico-químicos, mas a organização dos elementos. Sobre esse último aspecto, Merleau-Ponty (1942/1975) afirma:

Based on studies of the science of his time, Merleau-Ponty questions about the analysis on the nervous system and the classical postulates on the conduct of the electrical impulse, about the reflect circuit, involving stimulation and response, about the perceptual field and about the question of brain location, being insufficient to match point, like the atomist tradition use to defend, among the exciting, the brain map and the reaction. This review leads to a new understanding of perception that is closer to the contemporary cognitive science. This article, a result of theoretical study on the phenomenology of Merleau-Ponty, aims to present this review on the conceptual understanding, dialogue with the art and science, setting notions and concepts around a phenomenology of knowledge.

Por que o filósofo Merleau-Ponty criticou a filosofia e a fisiologia?

Merleau-Ponty abordou um problema da tradição filosófica que se agudizou após o desenvolvimento das ciências humanas: a discordância entre a visão que o homem pode ter de si mesmo pela reflexão ou consciência e aquela que se obtém relacionando suas condutas às condições externas das quais elas dependem.

Como o filósofo Merleau-Ponty ver a influência da cultura e da natureza nos seres humanos?

Para o filósofo, o Homem é o núcleo dos debates sobre o conhecer, que é criado e percebido em seu corpo. ... No exame minucioso da percepção, Merleau-Ponty converte o processo fenomenológico em uma modalidade existencial, resumindo no 'logos' a estrutura do mundo.

Por que o senso de ambiguidade é uma das características que Merleau-Ponty destaca no filósofo *?

Segundo Merleau-Ponty, quando o ser humano se depara com algo que se apresenta diante de sua consciência, primeiro nota e percebe esse objecto em total harmonia com a sua forma, a partir de sua consciência perceptiva. Após perceber o objecto, este entra em sua consciência e passa a ser um fenómeno.

Qual filósofo escreveu a frase a verdadeira filosofia e reaprender a ver o mundo?

Maurice Merleau-Ponty (1908-1961): "A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo."

O que significa a frase a verdadeira filosofia consiste em reaprender a ver o mundo do filósofo Maurice Merleau Ponty?

"A verdadeira filosofia consiste em reaprender a ver o mundo." Os elementos mais importantes para a filosofia são o questionamento e a reflexão. Para que haja o questionamento, é preciso deixar de lado nossas concepções já prontas sobre as coisas, para que possamos duvidar de nossas próprias crenças.

O que significa a frase a verdadeira filosofia consiste em reaprender a ver o mundo?

“A VERDADEIRA FILOSOFIA É REAPRENDER A VER O MUNDO.” (MERLEAU PONTY) Essa frase nos remete a pensar que a filosofia faz com que as pessoas possam refletir, questionar mais, até a si mesmo, podendo conhecê-la melhor.

Qual a sua compreensão acerca da frase a verdadeira filosofia e reaprender a ver o mundo?

Reaprendendo a Ver o Mundo A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo, pois uma das bases da filosofia é a reflexão, ela está presente em todos os setores do conhecimento. Refletir é ver o mundo com um olhar crítico, apontando para diversas perspectivas: do mito, da religião, da ciência e da arte.

Qual a relação entre a filosofia e nosso cotidiano?

A Filosofia é muito importante para nós, embora muitos não saibam da sua importância. Ela nos ajuda desvendar os mistérios e histórias da nossa existência, e compreender o porquê e a razão fundamental para tudo o que existe.