O que pretendemos deixar bem esclarecido é que nem tudo que é legal (tem amparo da lei) está aprovado por Deus. Ou seja, muitas ‘coisas’ que foram normatizadas para serem vistas como normalizadas eram e continuam sendo pecados. Dentre essas ‘coisas’ podemos citar: a estrutura que estão dando para a família é uma delas; as ideologias (que querem forçar a implantação) sobre sexualidade e casamento é outra.
Por que Deus Permitiu a Poligamia no Antigo Testamento? A Poligamia na Bíblia é um assunto que desperta muita curiosidade e dúvida nas pessoas. A poligamia é a prática de se ter mais de uma esposa ou marido dentro de um casamento. Sabemos que muitos personagens bíblicos tiveram mais de uma mulher, e diante disto, geralmente surgem algumas perguntas: O que é a poligamia? Como entender a poligamia na Bíblia? Por que Deus permitiu a poligamia? Por que homens piedosos tiveram mais de uma mulher na Bíblia?
Em linhas gerais, a poligamia era praticada com base em diferentes motivações. Os reis geralmente praticavam poligamia para estabelecer alianças políticas, como aconteceu com o rei Salomão ao se casar com a filha de Faraó, e rei Acabe ao se casar com a princesa Jezabel (1 Reis 3:1; 16:31). Outras vezes a poligamia era praticada para aumentar a descendência de um homem. Naquela época quanto mais filhos um homem tivesse melhor seria, especialmente por causa das constantes guerras que aumentam em muito as taxas de mortalidade (cf. Juízes 8:30; 1 Crônicas 7:4). Ainda com base nesta questão da descendência, muitas vezes um homem também recorria a uma segunda esposa por causa da esterilidade de sua primeira mulher. Finalmente, havia também aqueles que se casavam com outras mulheres por sentimento ou por algum tipo de paixão.
Não, a poligamia não é aceitável! Mesmo no período da Antiga Dispensação quando os casamentos poligâmicos eram tolerados por Deus, as Escrituras retratam de forma bastante clara suas terríveis consequências, que destroem a unidade e harmonia familiar e podem até levar seus envolvidos à ruína (Gênesis 16:4; 29:30; 30:1-26; 1 Samuel 1:5-8; 2 Crônicas 11:21). Já na época do Novo Testamento, o próprio Jesus apontou para o casamento monogâmico como sendo o padrão original de Deus para o matrimônio, e que qualquer comportamento contrário a isto, é resultado da dureza do coração do homem (Mateus 19:1-9).
Então muitas especulações têm sido levantadas para tentar explicar o porquê de Deus ter tolerado a poligamia. As principais delas apontam para o fato de que naquela época uma mulher que não tivesse um marido estava completamente desamparada. Inclusive, muitas delas, acabavam recorrendo à prostituição como meio de sobrevivência. Combinado a isto, também é verdade que a população de homens era muito menor que a população de mulheres. Os homens estavam constantemente envolvidos em guerras, e rotineiramente muitas mulheres acabam tornando-se viúvas. Portanto, devido a uma sociedade corrompida pelo pecado e envolvida em diversas limitações, Deus parece ter tolerado a poligamia e permitido uma regulamentação na Lei nesse sentido, especialmente em misericórdia às mulheres e seus filhos, a fim de protegê-las de uma situação ainda pior resultante da depravação total da humanidade.
Exclui-se, pois, a poligamia, de modo absoluto. Quando examinamos o registro escriturístico, percebemos que todos os casos de poligamia ou concubinato representaram sério fracasso do homem na observância do modelo e do plano originais de Deus. A primeira referência à poligamia encontramos em Gênesis, na vida de Lameque, filho de Metusael, que, além de ostentar um espírito terrivelmente vingativo contra as pessoas com quem tivera atritos, segundo Gn 4:23-24, gabava-se de ter duas esposas. Depois dele não há menção de outro casamento poligâmico senão na época de Abraão. No caso de Abraão, Sara é sempre mencionada como a sua única esposa, enquanto ela viveu. Mas, ao convencer-se de que não poderia dar filhos a seu marido, presenteou-o com sua serva Hagar, para que a representasse no leito conjugal.
O que fez, na verdade, foi apaixonar-se por Raquel; a seguir, uma coisa conduziu a outra, e ele acabou tendo quatro “jogos” de filhos, ou quatro “ninhadas”. Esses se tornaram os ancestrais das doze tribos de Israel; Deus foi soberanemente gracioso em aceitá-los segundo seu plano, para multiplicar a descendência de Abraão. Mas o lar de Jacó foi infeliz, pelo menos de início, dilacerado pelo ciúme e pela dissensão, marcado pela crueldade e falsidade.
A poligamia era praticada nos tempos do Antigo Testamento, inclusive por homens tementes a Deus. No entanto, o primeiro caso de poligamia registrado na Bíblia foi com a pessoa do impiedoso Lameque, descendente de Caim (Gênesis 4:19). O importante patriarca Abraão também praticou a poligamia (Gênesis 16:1-3; 25:1-6), assim como seus netos, Esaú e Jacó (Gênesis 26:34,35; 28:9; Gênesis 29:21-35). Nos tempos dos juízes de Israel, o notável Gideão foi poligâmico (Juízes 8:30), enquanto que o pai do profeta Samuel também possuía duas esposa: Ana e Penina (1 Samuel 1:1,2). No período da monarquia, a poligamia também caracterizou o casamento de muitos reis. Durante esse período, obviamente os casos que mais chamam a atenção são: o rei Davi, com várias esposas e concubinas (1 Samuel 25:40-43; 2 Samuel 3:2-5; 5:13; 2 Crônicas 14:3); e o rei Salomão, que teve setecentas esposas e trezentas concubinas (1 Reis 3:1; 11:1-3).
O sucessor do monarca tomá-la-ia. Presumivelmente, porém, os filhos tratariam de todas as esposas de seu pai como pensionistas respeitáveis, no palácio, e não entrariam em um relacionamento incestuoso com elas. Na verdade, a poligamia era contrária à vontade de Deus, ao ideal estabelecido pelo Senhor, no entanto, por causa do que Cristo chamou de “dureza do vosso coração” (Mt 19:8), ela era tolerada (At 17:30) – de modo especial no procedimento de um líder político cuja dinastia se desfaria caso ele não conseguisse tornar-se pai de um filho com sua primeira esposa. Essa situação poderia dar origem a uma guerra civil, com derramamento de sangue e esfacelamento do reino.
2. POR QUE AINDA HOUVE CASAMENTOS MÚLTIPLOS (POLIGAMIA) EM ISRAEL, DEPOIS DA CONCESSÃO DOS DEZ MANDAMENTOS? Assim diz o sétimo mandamento “Não adulterarás” (Ex 20:14). De que modo essa ordem teria afetado a vida de patriarcas como Abraão, que recebeu Hagar da parte de sua própria esposa, Sara, para ser sua substituta no leito conjugal? Ou a existência de Jacó, que não só se casou com Lia e Raquel, mas também tomou concubinas a Bilha e Zilpa, servas de suas esposas e com elas teve filhos?
Todavia, de vez em quando se ouviam referências ocasionais a homens que tomavam várias esposas, até mesmo no caso de cidadãos comuns, como foi o exemplo do pai de Samuel, Elcana. Entretanto, com o passar do tempo, prevaleceu no seio do povo de Deus uma compreensão melhor a respeito do casamento. A partir da época do retorno do exílio babilônico (cerca de 537 a.C.), deixa-se de ouvir sobre poligamia entre o povo de Deus; os livros pós-exílicos do AT não a mencionam. À época de Cristo, a monogamia era a regra geral entre os gregos e romanos, bem como no meio dos judeus. A afirmação de Jesus do princípio de “uma só carne” no casamento (que só faz sentido num contexto de monogamia) encontrou pronta aceitação entre seus irmãos israelitas (Mt 19:5-6). Norman Geisler tem um excelente resumo da posição bíblica sobre esta questão:
Isso significa que a escrava tornou-se concubina de Abraão, e não sua esposa legítima. No entanto, até mesmo essa tentativa de “ajudar a Deus” a cumprir sua promessa, segundo a qual Abraão se tornaria o pai de uma grande nação, veio a tornar-se causa de amargura e de dissenção dentro de sua própria casa; por fim, Hagar precisou ser mandada embora, carregando seu filho Ismael (Gn 21:12-14). O filho de Abraão, Isaque, casou-se com uma única esposa, Rebeca, sendo fiel a ela durante toda a sua vida.
De que modo poderíamos conciliar esse fato com a monogamia que Jesus ensinou com tanta clareza em Mt 19:9, e como entender seu ensino segundo o qual Criador teria planejado uma só esposa para o homem desde o começo da raça humana? Gn 2:23-24, versículos os quais Cristo salientou (Mateus 19:8), ensina que a monogamia é a vontade de Deus para o homem. Tendo Adão sido presenteado com uma esposa, Eva, assim desejou o Senhor, segundo registra a Bíblia.
“Existe ampla evidência, até mesmo no AT, de que a poligamia não era o ideal de Deus para o ser humano. Vê-se que a monogamia era o desejo óbvio do Senhor para o homem, quando examinada de diversas perspectivas:
Foi só por causa da traçoeira manobra de seu sogro que ele caiu num laço e casou-se também com Lia. Mais tarde, surgiu entre as irmãs uma rivalidade por causa da fertilidade de Lia e esterilidade de Raquel. E ambas usaram o expediente infeliz de Sara: presentearam Jacó com suas servas Bilha e Zilpa, as quais passaram a partilhar o leito conjugal no lugar das esposas legítimas. Entretanto, no que dizia respeito a ele, não houve de sua parte nenhum desejo de tornar-se um polígamo.
Portanto, não é possível que um marido constitua uma unidade com seu cônjuge, se tiver outra mulher – ou outras esposas. Esse ponto é bem esclarecido numa analogia de Efésios 5:23 “porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo salvador do corpo”. A implicação aqui é que só existe uma única igreja, a qual tem um relacionamento com o Noivo celestial semelhante ao de uma esposa com seu marido. Jesus não é a cabeça de muitas igrejas diferentes; ele tem apenas um corpo místico – não vários – pelo que sua única igreja é vista como o antítipo de um casamento monogâmico.