A floresta ombrófila densa é a vegetação mais predominante na Mata Sul Pernambucana e localiza-se depois da Baixada Litorânea. Era classificada anteriormente como floresta subperenifólia e caracteriza-se por ser uma formação densa, alta (20 a 30 m), rica em espécies vegetais. Ocorre, principalmente, em solos como Latossolos e Argissolos, ambos Amarelos e Vermelho–Amarelos, normalmente com baixa fertilidade natural. O problema é que a ocupação e uso das terras em toda a Mata Sul, especialmente com a cultura da cana-de-açúcar, fez com que esta vegetação fosse praticamente toda devastada, conforme observações em campo. Restam, apenas, poucas áreas com remanescentes, cuja característica é permanecer sempre verde onde raramente as culturas necessitam de alguma irrigação complementar (Figura 1).
1.Formação aluvial: não varia topograficamente e apresenta sempre os ambientes repetitivos, dentro dos terraços aluviais dos flúvios. Trata-se de formação ribeirinha ou floresta ciliar que ocorre ao longo dos cursos de água ocupando os terrenos antigos das planícies quartenárias. Esta formação é constituída por macro, meso e microfanerófitos de rápido crescimento, em geral de casca lisa, com o tronco cônico e, por vezes, com a forma característica de botija e raízes tabulares. Apresenta com freqüência um dossel emergente uniforme. É uma formação com bastante palmeiras no estrato dominado e na submata, e nesta ocorrem nanofanerófitos e alguns caméfitos no meio de plântulas da densa reconstituição natural do estrato dominante. Em contrapartida, a formação apresenta muitas lianas lenhosas e herbáceas, além de grande número de epífitas e poucas parasitas.
Além de ser uma das regiões mais ricas do mundo em biodiversidade, a Mata Atlântica fornece serviços ecossistêmicos essenciais para os 145 milhões de brasileiros que vivem nela.
This study aimed to characterize the remnants of Ombrophilous Dense Forest in Santa Catarina state. The dataset used in this study was provided by Project of Floristic and Forest Inventory of Santa Catarina, coming from 197 sample units that consist of basic clusters. The basic cluster was composed of four subunits of 20 x 50 m, in which all individuals with DBH ≥ 10 cm were measured. The forest structure was characterized through phytosociological parameters and indices. Based on structural data of the species, cluster analysis and ordination were performed in an attempt to identify groups of watersheds and altitude ranges. It was identified 577 species belonging to 226 genera and 83 families. The most representative families in number of species and individuals were Myrtaceae, Lauraceae and Fabaceae. Species of disturbed areas as Alchornea triplinervia, Caseria sylvestris and Miconia cinnamomifolia were dominant in the forest. Cluster analysis resulted in the identification of three vegetation types along the altitudinal gradient: Lowland Ombrophilous Dense Forest (< 30 m a.s.l.), Submontane (30 - 500 m) and Montane (> 500 m). Floristic and structural variations could be detected between the three vegetation types. In lowland communities, the presence of Anacardiaceae and Clusiaceae was more expressive and the average height of trees was higher. In montane environments, there was an increase in the number of individuals, basal area and diversity, as well as a greater representation of Cyatheaceae, Lauraceae and Rubiaceae. The occurrence of Arecaceae was remarkable in submontane forest. Spatial groups could not be defined based on structural data of watersheds.
O presente trabalho teve por objetivo caracterizar os remanescentes da Floresta Ombrófila Densa, no estado de Santa Catarina. O conjunto de dados utilizado neste estudo foi disponibilizado pelo projeto Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina, sendo oriundo de 197 unidades amostrais do tipo conglomerado. Os conglomerados foram constituídos por quatro subunidades de 20 x 50 m, nas quais foram mensurados todos os indivíduos arbóreo-arbustivos com DAP ≥ 10 cm. A estrutura da floresta foi caracterizada com o emprego de parâmetros e índices fitossociológicos. Com base na densidade das espécies, foram realizadas análises de agrupamento e ordenação na tentativa de identificar grupos de bacias hidrográficas e faixas de altitude. Foram encontradas 577 espécies, pertencentes a 226 gêneros e 83 famílias. As famílias mais representativas em número de espécies e indivíduos foram Myrtaceae, Lauraceae e Fabaceae. Espécies de áreas perturbadas como Alchornea triplinervia, Caseria sylvestris e Miconia cinnamomifolia estão dentre as que dominam a floresta. Por meio da análise de agrupamento, foi possível identificar três formações ao longo do gradiente altitudinal, aqui denominadas: Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas (< 30 m), Submontana (30 - 500 m) e Montana (> 500 m). Variações florísticas e estruturais puderam ser detectadas entre as três formações. Em comunidades das terras baixas, a presença das famílias Anacardiaceae e Clusiaceae foi mais expressiva e a altura média das árvores foi superior. Nos ambientes montanos, observou-se um aumento no número de indivíduos, área basal e diversidade, além da maior representatividade das famílias Cyatheaceae, Lauraceae e Rubiaceae. A ocorrência de Arecaceae foi marcante nos patamares submontanos. Grupos espaciais não puderam ser seguramente definidos a partir de dados estruturais de bacias hidrográficas.
É uma vegetação que praticamente não existe mais, conforme observações de campo, pois sua localização geográfica correlaciona-se com ambientes onde a ocupação e uso agrícola são muito intensivos. É uma formação higrófila, densa, de porte médio, onde podem ser constatadas espécies tais como Caraipa sp. (camaçari), Erythryna sp. (mulungu), Inga sp. (ingá), Acrocomia intumescens Drude (macaíba), entre outras. Relaciona-se, principalmente, com os Neossolos Flúvicos e alguns Argissolos.
Este tipo de vegetação é caracterizado por fanerófitos, justamente pelas subformas de vida macro e mesofanerófitos, além de lianas lenhosas e epífitas em abundância, que o diferenciam das outras classes de formações. Porém, a característica ecológica principal reside nos ambientes ombrófilos que marcam muito bem a “região florística florestal”. Assim, a característica ombrotérmica da Floresta Ombrófila Densa está presa a fatores climáticos tropicais de elevadas temperaturas (médias de 25º) e de alta precipitação, bem distribuídas durante o ano (de 0 a 60 dias secos), o que determina uma situação bioecológica praticamente sem período biologicamente seco. Além disso, dominam, nos ambientes destas florestas, latossolos distróficos e, excepcionalmente, eutróficos, originados de vários tipos de rochas.
A avaliação conjunta dos resultados obtidos através das análises de agrupamento e ordenação permitiu a definição de três formações e seus respectivos limites altimétricos: (1) Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas - abaixo dos 30 m s.n.m.; (2) Floresta Ombrófila Densa Submontana - entre 30 e 500 m s.n.m.; (3) Floresta Ombrófila Densa Montana - acima dos 500 m s.n.m.
A altura média apresentou redução com o avanço aos patamares superiores, havendo diferença significativa entre a formação Montana com as florestas situadas abaixo de 500 m. É provável que a ocorrência da neblina e a diminuição da temperatura em altitudes mais elevadas sejam os fatores mais preponderantes na limitação do crescimento das árvores (LACERDA, 2001), enquanto Blum (2006) constatou que com a elevação da altitude, tanto a altura média como o diâmetro médio diminuem. Zacarias (2008) observou diferença significativa da altura entre duas florestas da formação aluvial com condições edáficas distintas, fato que aponta também a influência de fatores edáficos na altura média das árvores das florestas.
As observações realizadas, através dos levantamentos executados pelo projeto RADAMBRASIL, nas décadas de 70 e 80 e os estudos fitogeográficos mundiais confiáveis, iniciados por Humbold em 1806 na ilha de Tenerife e contidos na vasta bibliografia, permitiram estabelecer faixas que se estreitavam de acordo com os seguintes posicionamentos:
Na Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas foi observada a menor diversidade (H'= 4,14 nats/ind e J = 0,79) com 183 espécies e 52 famílias. Em seguida, a Floresta Ombrófila Densa Montana (H'= 4,97 nats/ind e J = 0,79) apresentou 451 espécies e 79 famílias, incluindo áreas em transição com a Floresta Ombrófila Mista, registrando-se, por isso, a ocorrência de espécies como Araucaria angustifolia, Lithrea brasiliensis, Matayba elaeagnoides, Ocotea pulchella e Podocarpus lambertii. Caracterizada pela maior riqueza com 476 espécies e 78 famílias, a formação Floresta Ombrófila Densa Submontana (H'= 4,81 nats/ind e J = 0,77), por representar a classe intermediária entre as outras duas formações, abrange espécies de ambas, o que explicaria em parte, a maior diversidade registrada. A maior área amostral nesta formação também pode ter contribuído com tal diversidade.
Buscando-se detectar grupos distintos na Floresta Ombrófila Densa em Santa Catarina, aplicou-se a técnica de agrupamento hierárquico em duas situações relacionadas aos aspectos geográficos, envolvendo a altimetria e bacias hidrográficas.
Na Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina foram identificadas 577 espécies, reunidas em 226 gêneros e 83 famílias. Também foram encontradas 10 espécies exóticas, sendo: Citrus reticulata Blanco (dois indivíduos), Citrus x limon (L.) Osbeck (oito), Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl. (três), Eucalyptus sp. (25), Hovenia dulcis Thunb. (103), Magnolia champaca (L.) Baill. ex Pierre (três), Morus nigra L. (dois), Persea americana Mill. (um), Pinus sp. (71) e Psidium guajava L. (dois).
As florestas e demais ecossistemas que compõem a Mata Atlântica são responsáveis pela produção, regulação e abastecimento de água; regulação e equilíbrio climáticos; proteção de encostas e atenuação de desastres; fertilidade e proteção do solo; produção de alimentos, madeira, fibras, óleos e remédios; além de proporcionar paisagens cênicas e preservar um patrimônio histórico e cultural imenso.
Atendo-se ainda apenas à relação das 20 espécies mais importantes, nota-se que 13 apareceram somente na formação de Terras Baixas, sete na Submontana e 13 na Montana. Estas espécies foram registradas nas outras formações também, mas de forma bem menos expressiva, o que faz delas fortes indicadoras das formações onde apresentaram alta representatividade fitossociológica. Destaca-se que a Calophyllum brasiliense foi a única espécie com alto valor de importância que apresentou comportamento restrito, sendo a segunda espécie mais importante da formação de Terras Baixas. Esta espécie é frequentemente encontrada abaixo dos 30 m (KLEIN, 1978; CARVALHO et al., 2006; GALVÃO et al., 2002; ZACARIAS, 2008), onde se situam as planícies litorâneas sujeitas às inundações (Leite e Klein, 1990).
O presente trabalho teve por objetivo caracterizar a estrutura do componente arbóreo-arbustivo da Floresta Ombrófila Densa e distinguir grupos florístico-estruturais, identificando as variações fisionômicas existentes entre os mesmos.
3.Formação submontana: situada nas encostas dos planaltos e/ou serras entre os 4° de latitude N e os 16° de latitude de S a partir dos 100 m até 600 m; de 16° de latitude S a 24° de latitude S de 50 m até 500 m; de 24° de latitude S a 32° de latitude S de 30 m até 400 m. O dissecamento do relevo montanhoso e dos planaltos com solos medianamente profundos é ocupado por uma formação florestal que apresenta fanerófitos com altura aproximadamente uniforme. A submata é integrada por plântulas de regeneração natural, poucos nanofanerófitos e caméfitos, além da presença de palmeiras de pequeno porte e lianas herbáceas em maior quantidade. Suas principais características são os fanerófitos de alto porte, alguns ultrapassando os 50m na Amazônia e raramente os 30 m nas outras partes do País.
A estrutura do componente arbóreo-arbustivo foi analisada através dos parâmetros fitossociológicos (densidade, dominância, frequência e valor de importância), conforme proposto por Müeller-Dombois e Ellenberg (1974).
As variáveis que apresentaram diferença significativa ao nível de 95% de probabilidade foram altura média, densidade, área basal, número de espécies e de famílias (Tabela 5). Estas diferenças estruturais entre as formações consideradas refletem as adequações das comunidades florestais às variações dos fatores abióticos ao longo do gradiente altitudinal.
2.Formação das terras baixas: situada entre os 4° de latitude N e os 16° latitude S, a partir dos 5 m até os 100 m acima do mar; de 16° de latitude S a 24° de latitude S de 5 m até 50 m; de 24° de latitude S a 32° de latitude S de 5 m até 30 m. É uma formação que em geral ocupa as planícies costeiras, capeadas por tabuleiros pliopleistocênicos do Grupo Barreiras. Ocorre desde a Amazônia, estendendo-se por todo o Nordeste até proximidades do rio São João, no Estado do Rio de Janeiro.
A floresta ombrófila densa aluvial, classificada anteriormente como floresta perenifólia de várzea, é um tipo de vegetação que relaciona-se com ambientes situados nas margens de alguns cursos de água, periferia de brejos, bem como em baixadas úmidas, e até mesmo em áreas alagadas temporariamente. Também é conhecida sob as designações de floresta ciliar, floresta de galeria e floresta ribeirinha.
Tal tipo vegetacional foi subdividido em cinco formações ordenadas segundo hierarquia topográfica que refletem fisionomias diferentes de acordo com as variações ecotípicas das faixas altimétricas resultantes de ambientes também distintos. Estes variam 1º centígrado para cada 100 metros de altitude.
O componente arbóreo-arbustivo da Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina apresenta expressiva diversidade florística. No entanto, encontra-se constituída majoritariamente por florestas secundárias dominadas por espécies de áreas perturbadas como Alchornea triplinervia, Caseria sylvestris, Cecropia glaziovii, Miconia cabucu e Miconia cinnamomifolia, ao mesmo tempo em que espécies que determinavam a estrutura original da floresta agora são encontradas com baixa representatividade. A altitude demonstrou ser um importante fator condicionante na variação florística-estrutural da floresta, observando-se a formação de basicamente três grupos dentro do gradiente altitudinal estudado, havendo diferença significativa entre os seus descritores estruturais e espécies preferenciais associadas. Sugere-se a realização de estudos complementares, como a análise da regeneração, para extrair informações mais conclusivas sobre a dinâmica sucessional e a permanência das espécies na floresta.