Como costuma acontecer nos bastidores da Igreja Católica, o processo que pretende beatificar e, no futuro, tornar santa a princesa brasileira Isabel (1846-1921) ainda tem muito mais sussurros ao pé do ouvido do que declarações públicas.
Na segunda, entre 1876 e 1877, um conflito político entre grupos maçons e católicos abalou sua popularidade como chefe da nação, e por causa do estresse ela sofreu um aborto e decidiu se retirar para Petrópolis (RJ). Já na terceira oportunidade, em 1888, entrou para a história definitivamente ao sancionar a Lei Áurea.
"A mobilização em reconhecê-la como santa já existia desde que ela era viva. Sua vida era profundamente fundamentada pela fé", acrescenta padre Nascimento. "Logo após a morte, esse reconhecimento foi crescendo."
"Na real, ela tinha uma personalidade autoritária. E a mesma coisa se dá com o catolicismo dela: era ultracatólica e, mesmo que por criação liberal defendesse que as religiões poderiam conviver, claramente era muito engajada na crença de que a Igreja Católica era o canal de salvação de todos os homens", explica o historiador.
O declínio veio para a princesa antes que ela pudesse assumir, de fato, o trono que havia herdado do pai. Foi expulsa do país após a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889. Inclusive, o fato de ela ser mulher se somou à baixa popularidade política e ao fim da escravidão como motivos que impulsionaram militares a conspirar para depor a Corte.
Notaram como tudo se desenrolou até maio de 1888? Não foi necessariamente a bondade, humanidade e heroísmo da princesa Isabel e dos políticos da época. Foi necessário muita luta, muita pressão interna e externa e até mesmo a inviabilidade econômica de se manter o regime escravagista para que a Lei Áurea fosse promulgada.
A Princesa Isabel foi a terceira mulher da história a ocupar o cargo de chefe de estado no Brasil, mas nunca de maneira definitiva. Exerceu, por três vezes, o cargo de regente, durante as ausências do pai, o Imperador. Na primeira, em 1871, coube a ela homologar a Lei do Ventre Livre, um dos primeiros passos rumo ao fim da escravidão.
E aqui estamos nós, 133 anos após a assinatura da Lei Áurea, lutando contra o racismo e os traços perversos da escravidão que nos permeia através do racismo. Aqui estamos nós, buscando trazer luz à história de luta e resistência da conquista da nossa liberdade, não pela benevolência imperial da princesa branca, mas pelo sangue e luta de nossos antepassados.
Ao longo da infância e da adolescência, aprendeu sobre astronomia, química, geografia, desenho, dança, piano, economia, geografia, e foi alfabetizada também em francês. Mesmo sendo a sucessora, porém, teve pouco contato com o dia a dia da política durante sua formação intelectual.
Bom, seguindo na História, os grupos abolicionistas brasileiros ganharam um novo fôlego em conjunto às pressões inglesas para o fim da escravidão no Brasil, o que resultou nos passos seguintes do país rumo à abolição.
Normalmente, é aberto pela diocese onde o candidato aos altares morreu — como a princesa passou os últimos anos da vida exilada na França, onde morreu há cem anos, em 14 de novembro de 1921, a arquidiocese do Rio solicitou uma transferência de foro.
Já no exílio, Isabel mobilizou o episcopado brasileiro para que, em 1900, fosse produzido no país e remetido ao papa um abaixo-assinado solicitando a definição do dogma da Assunção da Santíssima Virgem.
A princesa, portanto, patrocinou esse quilombo e ajudou escravos a se emanciparem. Só isto já evidencia seu papel na causa abolicionista. Mas ela fez muito mais.
Paralelo a esses acontecimentos, a Europa vivia a segunda fase da conhecida Revolução Industrial que, junto a conflitos entre alguns países como Alemanha e Itália, fez crescer a emigração de trabalhadores para o Brasil.
O cortejo saiu do Palácio São Cristóvão e seguiu para a capela do Paço Imperial, onde foi realizada a cerimônia. Princesa Isabel e Conde D'eu passaram a residir no bairro carioca das Laranjeiras.
"A Igreja não fabrica santos. O que fabrica santos é a própria santidade do indivíduo", ressalta. "E quem reconhece a santidade de uma pessoa é o povo. É o povo que cria essa devoção e a fama de santidade vai se espalhando."
Coautor do livro Alegrias e Tristezas: Estudos Sobre a Autobiografia de D. Isabel do Brasil (Linotipo Digital Editora) e fundador do Instituto Cultural D. Isabel A Redentora, o historiador e advogado Bruno da Silva Antunes de Cerqueira ressalta que a princesa, ainda em vida, chegou a ser chamada de "Santa Isabel Brasileira", em um discurso político ocorrido na Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, no centro do Rio, em celebração à abolição.