Martins Filho, João Roberto. A marinha brasileira na era dos encouraçados, 1895–1910. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2010.
A Revolta da Chibata foi recebida com muita controvérsia pela sociedade brasileira da época. Enquanto alguns setores apoiavam os marinheiros e suas reivindicações, outros condenavam a rebelião como um ato de insubordinação e desrespeito às autoridades militares.
A Revolta da Chibata teve grande influência na luta pelos direitos humanos no Brasil, especialmente na luta contra a discriminação racial e as punições físicas. O movimento inspirou outras lutas sociais no país e contribuiu para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Pelo contrário, os marinheiros há muito tempo já vinham se articulando para lutarem por mudanças no funcionamento interno da Marinha. Prova disso foi a criação do Comitê Geral da revolução.
— O homem do povo, preto ou mestiço, que veste a nobre camisa azul da nossa Marinha, filho ou descendente de antigos escravos, sabe que, para emancipá-los, uma revolução abalou a sociedade, e um regime [a Monarquia] caiu. Esse homem do povo agora sente cair sobre as carnes a chibata aviltante, sente a indigna palmatória magoar-lhe as mãos. Todos os abusos têm, mais cedo ou mais tarde, sua expiação inevitável.
Os marinheiros logo assumiram o controle do Minas Gerais, que estava em trânsito para o Rio de Janeiro, matando quatro oficiais que seguiam a bordo, incluindo o comandante do navio.
“Recrutada na camada social quase toda alheia a qualquer grau de instrução, a nossa maruja infelizmente é dotada de espírito inculto e assim se explica não haver apreendido que a anistia apagava a falta que cometera. Por essa deficiência de compreensão, depois mesmo da ação benevolente e generosa dos poderes públicos, ainda perdurou em seu espírito o estado de indisciplina, de maneira que, em vez de se submeter à ordem, parte da marinhagem continuou na insubordinação. O governo então se viu forçado a dominar os novos movimentos com os meios de força de que dispunha, para acautelar os supremos interesses da ordem pública confiados à sua guarda”.
— A anistia correta é regular, é jurídica, desde que ela oferece aos insurgentes uma medida para pôr termos a um conflito insolúvel — afirmou Ruy Barbosa, tentando convencer o governo de que não se tratava de uma humilhação. — Nas guerras internacionais, os Bonapartes capitulam à frente de dezenas e centenas de milhares de homens sem que se possa atribuir à covardia ou ao medo a inspiração que os leva a erguer a bandeira da paz e se submeter às exigências do inimigo. Nesse caso, aceitar as condições é ceder à razão humana, sem desonra nem quebra do decoro da autoridade.
Só uma correção, para beneficiar meia dúzia de latifundiários não, para manter o poder de meia dúzia de latifundiários, o Brasil império era tão governo marionete dos fazendeiros quanto a república velha. Foi a possibilidade de ter gente de cabeça mais moderna no trono, como a Princesa Isabel e o Conde D’eu que levou ao golpe.
A elite branca hegemônica sempre soube contornar o estorvo da violência nascida da sua desmedida, ora logrando os explorados e sacrificados, ora escondendo a evidência da maldade, ora cooptando intermediários pra pantomima reconciliatória. Mas, apesar de abominável, a mente dessa elite, ontem e hoje, se reproduz nos dominados a ponto destes agirem contra seus mais legítimos e próprios interesses. Eu acendo uma vela praquelas duas crianças do Morro do Castelo. E pro próprio Morro, mais tarde morto a pauladas hidráulicas em nome do progresso. A História é um matadouro.
Dos sobreviventes, a maioria foi forçada a embarcar no navio Satélite, que seguiria em direção ao Amazonas, para trabalhar na produção da borracha. Alguns deles, contudo, nem chegaram ao destino: foram fuzilados a bordo da embarcação.
Embora a escravidão tivesse sido abolida oficialmente mais de vinte anos antes, o uso da chibata pela oficialidade branca reproduzia, de certa forma, a mesma relação estabelecida entre os escravizados e seus senhores até o final do século 19.
Muito marujo negro certamente cresceu ouvindo de seus pais e avós histórias atrozes que eles próprios viveram nos tempos da escravidão. Em 1910, a marinhagem tinha consciência de que, mesmo com a Lei Áurea em vigor, as atrocidades permaneciam — porém com nova roupagem, adaptadas à era do trabalho livre.
— Foi com a minha filha chumbada ao leito, por uma enfermidade que não nos permite sequer movê-la na sua própria cama, que tive esta manhã de ver passar sobre a nossa casa, sob a forma de um projétil de guerra, a triste ameaça de ataque à nossa segurança e à nossa civilização.
Pinheiro Machado chamou-lhe a atenção para o fato de que, entre os quatro navios rebelados, estavam os poderosos encouraçados Minas Gerais e São Paulo, que, recém-comprados, haviam custado uma fortuna. Ou seja, as corvetas que haviam se mantido fiéis ao governo não tinham poder de fogo para enfrentá-los. Ainda que pudessem ser afundados, o governo estava endividado e não podia se dar ao luxo de queimar o dinheiro público que fora investido na aquisição dos novos navios.
A Revolta da Chibata é estudada nas escolas brasileiras como um evento histórico importante na luta pelos direitos trabalhistas e contra a discriminação racial. O movimento é abordado em disciplinas como História e Sociologia, e os estudantes aprendem sobre as causas, consequências e impacto da revolta na história do Brasil.
Os castigos, suspensos pela Armada logo após a Proclamação da República, foram retomados no ano seguinte como forma de controle e punição dos marinheiros —em sua maioria, negros e pobres.
Ninguém consome cultura americana porque quer, as pessoas consomem cultura americana porque é um monopólio. Ninguém que tenha acesso a cultura de qualidade consome as porcarias americanas, a começar pelos próprios americanos, que tem um absoluto nojo se dia indústria de entretenimento.