A história do Antigo Testamento não é uma história onde tudo é uma mar de rosas. Podemos dizer que é o longo e doloroso relato de como Deus amou Israel como um marido a sua esposa, mas esta esposa escolheu repetidamente se prostituir, entregando-se a ídolos e rebelando-se contra o amor de seu Senhor. É a história de um Deus paciente diante do pecado de seu povo de coração duro.
3. O propósito divino. A nova nação, criada pelo amor e pela graça de Deus, tinha um propósito divino: abençoar todos os povos da Terra. Foram confiadas a Israel as bênçãos de Deus para as nações, especialmente a promessa da vinda do Messias. O povo de Deus manteve viva essa esperança (Lc 2:30, 31). Ele também confiou a Israel Seu plano de estabelecer um reino que nunca desaparecerá e que restaurará a paz e harmonia do planeta. Paulo resumiu o objetivo divino para Israel deste modo: “Deles é a adoção de filhos; deles é a glória divina, as alianças, a concessão da Lei, a adoração no templo e as promessas. Deles são os patriarcas, e a partir deles se traça a linhagem humana de Cristo, que é Deus acima de todos, bendito para sempre! Amém!” (Rm 9:4-5, NIV). Todos esses dons foram confiados aos israelitas, mas destinados a toda a humanidade.
Então fica explicado! Deus escolheu o povo de Israel, justamente porque ele era o menor, e, consequentemente, o mais fraco dos povos. Na verdade, analisando a história do patriarca que deu origem a Israel, Abraão veio justamente de Babilônia, mais precisamente de uma cidade ao sul, chamada Ur dos Caldeus (Gn.11:28). Babilônia é o maior símbolo bíblico da oposição humana contra Deus e é de lá a origem do patriarca dos israelitas.
Porque tu és povo santo ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus te escolheu, a fim de lhe seres o seu próprio povo, acima de todos os povos que há sobre a terra.
Assim como a nação de Israel há milhares de anos, Deus nos escolhe pela graça para que busquemos viver para sua glória em gratidão e adoração. E hoje sabemos muito mais do amor de Deus do que a nação de Israel nos tempos do Antigo Testamento.
Sabemos que em Deus está o perdão de todos os nossos pecados e a salvação, porque “Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). Além disso, por meio de Cristo, fazemos parte da Nova Aliança na qual Deus promete trabalhar em nós para que nunca nos afastemos Dele como os israelitas incrédulos fizeram (Jr 31.31-34; Lc 22.20).
A escolha do Senhor nunca deveria se tornar um motivo de arrogância para os israelitas, mas um motivo de gratidão. Eles deveriam reconhecer sempre que uma vez foram o menor dos povos, e se tornaram uma grande nação exclusivamente por causa do Senhor a quem serviam. Não havia nenhuma outra razão peculiar dentre eles. A glória da escolha e das bênçãos para este povo viriam todos do Senhor.
1. A escolha de Abraão. O chamado de Abraão (Gn 12:1-3) é mais bem entendido em seu contexto: o mundo pós-dilúvio. O recomeço da história humana foi logo comprometido por causa da construção de Babel e a busca por autopreservação (Gn 11:4). As nações da Terra se originaram dessa corrupção espiritual. Nesse cenário, Deus não permitiu que a condição dos povos impedisse nem tornasse ineficaz Seu plano. A solução Dele foi criar uma nova nação por meio da qual cumpriria Seu propósito redentor. Isso não significava que Ele tivesse rejeitado os demais povos, ao contrário. Por meio dos descendentes de Abraão, Deus queria abençoar todas as famílias da Terra. A graça sempre esteve disponível para todos os seres humanos, independentemente de sua etnia. Portanto, a escolha de Israel tinha o propósito de inclusão. Uma evidência disso é que Ele escolheu o Egito como o “útero” no qual as 12 tribos de Israel se desenvolveram e finalmente o povo de Israel nasceu por meio da experiência do êxodo. Infelizmente, em vez de cooperar com o Senhor, o Egito se opôs a Ele e o resultado foi catastrófico. Foi no Sinai então que, enfim, as doze tribos se tornaram o povo de Deus e Yahweh o Deus delas.
Por isso, ler honestamente sobre o pecado de Israel narrado no Antigo Testamento nos faz pensar: como Deus poderia escolher esta nação idólatra como seu povo? Se Deus sabia que esta nação seria tão pecaminosa, má e rebelde, por que Ele deu a eles tantas bênçãos e cuidados especiais que eles certamente não mereciam?
O Senhor escolheu o menor dos povos para mostrar ao mundo que mesmo a nação mais fraca pode se tornar uma referência se o seguir, aprendendo a amá-lo como ensinou os israelitas. Israel foi apenas uma amostra do que o Senhor queria fazer ao mundo todo. Era isso o que Ele quis dizer quando fez a aliança com Abraão de que por meio da sua descendência, abençoaria todas as famílias da terra.
“Não vos teve o Senhor afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o Senhor vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de Faraó, rei do Egito” (Dt 7.7-8) (enfase adicionada).
Você leu certo? Deus escolheu esta nação… porque o Senhor a amou, cumprindo assim a sua promessa feita aos patriarcas, por pura graça. Em outras palavras — e isso pode soar muito estranho para nós — o Senhor diz a eles: “Eu não te amo porque você é maior ou melhor do que os outros. Eu te amo porque te amo”. É um amor tão soberano que nossas mentes finitas e humanas nunca poderão entendê-lo completamente.
“Porquanto aos que de antemão conheceu [amou], também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29).
2. Tudo pela graça. Israel não podia reivindicar superioridade sobre as nações com base na sua eleição, pois a escolha da nação teve como motivação a graça divina. Israel foi escolhido para ser servo das nações. Os israelitas foram chamados mesmo sendo “o menor de todos os povos” (Dt 7:7, NVI). Foram escolhidos por causa da aliança que Deus havia feito com os antepassados deles (Dt 10:15). A eleição ocorreu por causa da graça, não do mérito do povo.