Duvido que você não tenha aberto um sorriso ao ver a foto acima. Quando ele passa, não há quem não vire a cabeça. Muitos acenam e alguns tentam estabelecer contato com os ocupantes na base do grito. É inútil, pois a bordo tudo o que se escuta é algo parecido com uma máquina de fazer caldo de cana operando em ritmo de pastelaria lotada.
Boato surgido sabe-se lá quando e onde, porque não há registros nos documentos da Anfavea -- Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, espécie de sucessora do Geia, Grupo Executivo da Indústria Automotiva, entidade criada à época para regular o setor automotivo -- que ateste a tese.
Os primeiros Romi eram equipados com motor dois tempos, de dois cilindros. Para o modelo 1959, o último a ser fabricado regularmente, a fábrica anunciava nas revistas uma velocidade máxima de 95 km/h, um consumo de 25 km/l e garantia que o carro “vence com sobras as subidas mais íngremes”, graças ao novo motor BMW de quatro tempos monocilíndrico, de 298 cm3 e 13 hp de potência.
Tem mais curiosidade e história relacionados ao carrinho: o ex-presidente Juscelino Kubitschek chegou a Brasília em um Romi-Isetta empunhando uma bandeira, que inclusive foi a bandeira que tremulou por todo o caminho. "Essa bandeira, esse instrumento histórico, está ao meu lado", enaltece Penatti.
Em 1952, a Iso Rivolta começou a fabricar o Isetta (diminutivo da marca ISO em italiano), que se tornou o mais conhecido deles. Sua patente foi vendida a fabricantes da Alemanha, França, Espanha, Bélgica, Inglaterra, Áustria e Suécia. Em cada país, o nome dos Isetta era antecedido pelo do fabricante local.
A suspensão é cumpridora, mas não pode fazer milagres com as rodas de aro 10. Mas os freios seguram bem a barra. Abrir o teto de lona é uma necessidade nos dias mais quentes: os grandes quebra-ventos não dão conta de ventilar a cabine.
O projeto do carro data de 1950. Naqueles anos do pós-guerra, a Europa tinha necessidade de carros pequenos, baratos e econômicos. Surgiram então os bubble cars – ou “carros-bolha” –, modelos minúsculos criados para o uso urbano.
Ainda em 1956, o presidente da República, Juscelino Kubitschek, criou o Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), órgão governamental cuja atribuição era criar regras e condições para a implantação da Indústria Automobilística no país. Segundo as normas do GEIA, receberiam incentivos os automóveis convencionais, com, no mínimo, duas portas e quatro lugares.
Quer saber mais detalhes da história e conhecer mais pormenores técnicos do modelo? Assista à nossa vídeo-reportagem, no topo dessa página.
Nesse contexto, em São Paulo, com 2,2 milhões de habitantes, os ônibus "papa-filas" representavam a realidade do transporte público. No começo da década, existiam apenas 299 mil automóveis particulares em todo o Brasil. Esses poucos automóveis eram importados ou montados no país em regime CKD, sistema que, trabalhando com peças importadas, limitava a geração de empregos, valor e distribuição de renda.
O Romi-Isetta se destaca por sua peculiaridade. Com apenas 2,27 metros de comprimento por 1,38 metros de largura, o carro aparenta ser ainda menor do que realmente é. Sua entrada é feita pela parte da frente, já que não possui uma segunda porta. O eixo traseiro é mais estreito que o dianteiro, conferindo ao Romi-Isetta uma aparência única.
De pé sobre o piso do carro e apoiado na capota, com uma ligeira meia-volta já estou instalado no banco para dois lugares. Antes de dar a partida, apanhei um bocado do câmbio – as posições são invertidas (a primeira é para baixo) e as trocas são feitas com a mão esquerda.
O Romi-Isetta possuía algumas características originais. O motor de partida e o dínamo, responsável por alimentar o sistema elétrico de 12 volts, eram combinados em uma única peça. Sob o banco do motorista, havia uma torneirinha que permitia a passagem para a reserva de combustível, com capacidade de 3 litros, do tanque de 13 litros. A transmissão era feita por duas correntes, que transmitiam a força do motor para as rodas traseiras.
O Isetta era um projeto de carro barato e econômico, desenvolvido em 1950 para suprir a demanda de mobilidade da sociedade no pós-guerra na Europa. No Brasil, tornou-se carro design, um objeto de desejo. Artistas e famosos não abriam mão de ter o seu na garagem. Custava o mesmo que um carro maior. Na prática, era algo como um Smart.
A reportagem de Luiz Alberto Pandini, publicada na edição especial de Quatro Rodas Clássicos, em 2004, tentava colocam um ponto final nesse derby se valendo de apuração e do bom senso.
“Trouxemos dois carros, desmontamos e chegamos à conclusão de que era possível fazê-lo aqui”, diz Chiti. “Queriamos chegar a 50.000 carros produzidos por ano, mas o poder de compra da classe à qual ele se dirigia ainda era pequeno e inibiu as vendas.” A Romi, então concentrou-se apenas naquilo que já fabricava antes: máquinas industriais. Atualmente tem sede em Santa Bárbara d’Oeste, SP.
Note que em alguns trechos do vídeo aparecem fotos de caravanas chamadas de "Integração Nacional". O que é isso? "Naquela época, nos anos 1960, alguns carros montados no Brasil e veículos importados da Itália precisavam ir para Brasília. Com a criação da nova capital federal, o governo sentiu a necessidade de construção de estradas que chegassem até lá", conta Vainer Penatti, superintendente da Fundação Romi. "Alguns dos eventos que culminavam em Brasília eram essas caravanas. A que partiu de SP, por exemplo, tinha duas Romi-Isetta junto com outros veículos", completa.
A montagem de cada Romi-Isetta demorava de 50 a 70 horas. A variação, aparentemente grande, é explicável porque o processo poderia ser interrompido pelo final do turno diário ou pela ocorrência de final de semana e feriados. Ao todo, cerca de 90 pessoas lidavam com a linha de montagem.
A produção do Romi-Isetta no Brasil teve início em 1955, quando a Indústrias Romi começou a fabricar a versão brasileira do carro sob licença da fábrica italiana Iso. No entanto, devido à falta de uma segunda porta, o Romi-Isetta não foi considerado oficialmente o primeiro carro nacional. A fabricação do Romi-Isetta continuou até o ano de 1959, quando o último modelo regular foi fabricado.