A ministra da Cultura Margareth Menezes anunciou mais nomes que vão compor sua gestão na cerimônia de posse nesta segunda-feira (2).
Em 2004, Margareth criou a Associação Fábrica de Cultura, organização cultural voltada aos moradores da Ribeira e expandiu o trabalho com quatro sedes na península de Itapagipe, em Salvador. Ela também é a embaixadora brasileira da Unesco, órgão das Nações Unidas que visa preservar e promover a produção cultural no país.
Na sexta-feira passada, Margareth jantou, em Salvador, com amigos da área cultural. Apesar de confirmar que será a próxima ministra da Cultura do país, a cantora ainda não se pronunciou sobre os planos para o setor.
"Como diz a Fernanda Montenegro, quando ela foi convidada por Sarney para ser ministra da Cultura —eu a fui sondar—, o lugar de artista é na trincheira da criatividade, não é nos gabinetes das repartições públicas, oficiais", disse Barreto, acrescentando que preferia ver o retorno de Juca Ferreira, que chefiou a pasta nos governos de Lula e Dilma.
A cantora Maria Gadú também comemorou. "Margareth vem como um respiro e um símbolo. Mulher, preta, baiana. Passou por teatro, atuou internacionalmente como movimentador cultural. Fez turnê com David Byrne. Não é só esse lance de ser artista. Ela circula há tantos anos colocando o Brasil em outro panorama. Chegou a hora de o Brasil recolocar Margareth no panorama."
O último álbum de inéditas lançado pela cantora é "Autêntica", de 2019. Com 13 faixas, o disco é produzido por Tito Oliveira, tem foco na ancestralidade afro-brasileira e traz canções autorais e de outros artistas, como "Capim Guiné", do BaianaSystem.
O fotógrafo e produtor de cinema Luiz Carlos Barreto, por exemplo, criticou a escolha do presidente. Ele disse a este jornal que o ministério deve ser chefiado por um "gestor que conheça bem as entranhas de Brasília", não um artista.
A cantora se consolidou nos anos seguintes, fazendo pontes entre a música negra baiana e a jamaicana, gravando com Jimmy Cliff, e absorvendo temas de religiões de matriz africana em sua estética. Desde o começo da década de 1990, Margareth tem uma carreira fora do Brasil, tendo feito shows de abertura e cantado na banda de David Byrne, ex-vocalista do Talking Heads, além de ter sido indicada ao Grammy, nos Estados Unidos, e se destacado no nicho da world music.
Antes de se aliar ao PT, nos anos 1990, a cantora era mais próxima da direita, na Bahia, tendo apoiado os governos do grupo político de Antonio Carlos Magalhães, do PFL. Ela já se referiu a ACM como "um dos motivos de maior orgulho da Bahia". Ela passou a apoiar o PT depois da vitória do governador Jaques Wagner, em 2006.
"Estávamos tristes, com medo de perseguidos e algumas vezes humilhados. Mas agora abrimos mais uma vez os olhos para este encanto único que é o Brasil, nossa casa que estava sendo demolida de dentro para fora, a partir da sua alma, que é a cultura", disse ela, no evento.
Nos anos 2000, Margareth firmou o conceito de afro-pop brasileiro, gravando um de seus maiores sucessos até hoje, "Dandalunda", de Carlinhos Brown. Entre os grandes nomes do axé e do samba-reggae que saíram da Bahia, a artista é uma das pioneiras, além de ser a mais reconhecida no exterior e quem mais tem ligações com a música e a cultura negra.
Algumas alas do PT também se opuseram à escolha e defendiam, por exemplo, que a deputada federal Jandira Feghali fosse indiada para o cargo.
Seu nome ganhou tração para o cargo com o apoio de Rosângela Silva, a Janja, logo antes de o presidente eleito começar a divulgar seus futuros ministros.
Atuou na Coordenação Geral de Pesquisa e Editoração da Biblioteca Nacional, responsável pela edição de catálogos e fac-símiles no período entre 2006 e 2011, e foi membro do Conselho Nacional de Política Cultural do Ministério da Cultura de 2015 a 2017.
Margareth ocupa a pasta numa tentativa da gestão petista de repetir a fórmula de Gilberto Gil, que comandou o ministério entre 2003 e 2008 —embora o cantor já tivesse uma vivência na política institucional quando assumiu a pasta.
Margareth chegou a se apresentar com gigantes da música mundial, como os guitarristas Jimmy Page, do Led Zeppelin, e Ron Wood, dos Rolling Stones, além das frequentes parcerias com os conterrâneos tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil, entre muitos outros.