Este homem franzino, de fala mansa, começou a aprender capoeira na infância, pelos 8 ou 10 anos, por piedade de um velho africano, chamado Benedito. Este senhor se compadeceu do então menino, que recebia uma surra cotidiana de outro menino maior e passou a ensinar-lhe algo de “mais-valia” do que empinar pipas, a capoeira.
Em relação às musicalidades, parece inusitado – em referência à imagem dos dias atuais – Mestre Pastinha (1968, p.35) ter dito que:
Pastinha sempre expressou seu amor incondicional pela capoeira. Ele afirmava que nasceu para a capoeira e que só deixaria a arte quando morresse. Ele enxergava na capoeira muito mais do que apenas um esporte ou uma forma de luta, mas sim como uma forma de expressão, cultura e espiritualidade. Ele acreditava que a capoeira conseguia transformar vidas e de unir pessoas de diferentes raças, classes e origens.
Mestre Bimba e Mestre Pastinha são figuras históricas da capoeira brasileira, tendo contribuído de maneira significativa para o desenvolvimento e reconhecimento dessa arte marcial. Ambos nasceram na Bahia, estado que é considerado o berço da capoeira, e dedicaram suas vidas para preservar e aprimorar essa prática.
Mestre Bimba também foi responsável por introduzir elementos de outras artes marciais, como o boxe e a luta livre, na capoeira. Ele acreditava que essas influências tornavam a prática mais eficiente e moderna, o que gerou polêmica entre os capoeiristas mais tradicionalistas. No entanto, sua abordagem inovadora e seu comprometimento em divulgar a capoeira como uma arte marcial legítima foram fundamentais para o reconhecimento da capoeira como um esporte nacional.
Vicente Ferreira Pastinha, o Mestre Pastinha, nasceu em 5 de abril de 1889, na Rua do Tijolo em Salvador, na Bahia. Filho do espanhol José Señor Pastinha e da baiana Eugênia Maria de Carvalho, Vicente foi apresentado à capoeira ainda criança.
Tanto foi perseguida que se tornou a arte de desarmar policiais, de dar golpes rápidos e silenciosos, de enganar adversários e escapar ileso de situações perigosas. Ao mesmo tempo que estava intrinsecamente unida com a espiritualidade, a ritualidade e a expressão corporal e linguística do povo brasileiro. Continha sua ginga, a brincadeira, a malícia e a musicalidade: a liberdade e fluidez dos corpos e mentes. A medida que era reprimida, se tornava cada vez mais sagrada e cada vez mais praticada.
Infelizmente, em 71, sua academia foi expulsa do lugar que habitava no Pelourinho pelo governo. Pastinha e seus discípulos sofreram um golpe da Ditadura, que havia afirmado que precisaria fazer uma reforma no prédio, os retiraram de lá e nunca mais o devolveram. Hoje o local ainda é o restaurante do Senac da região, numa época de avanço dos cursos técnicos e profissionalizantes no país e de uma repressão muito forte de movimentos culturais e sociais.
Registros – que são escassos, graças ao descaso proposital dos estudiosos burgueses – afirmam que a capoeira tem o seu germe africano no N’golo, a Dança da Zebra, um combate cerimonial que representa um rito de passagem para a vida adulta das mulheres, que era praticado no sul de Angola e que realmente apresenta semelhanças com a arte atual. Quando chegou aqui no Brasil, assim como toda expressão de identidade negra, foi perseguido e massacrado, logo, se desenvolveu de maneira clandestina e defensiva, sempre a espreita do perigo iminente da repressão.
Após a morte de Pastinha, a luta de Angola ficou em profundo luto. O Brasil se tornou um terreno muito infértil para a capoeira tradicional, o que isolou e enfraqueceu os mestres aqui presentes. A maior parte dos mestres, inclusive discípulos de Pastinha, migraram para o exterior – como Europa e América do Norte – e lá perpetuaram com maior sucesso os seus ensinamentos.
Assim como todo jovem e todo trabalhador que tem seus instrumentos de arte confiscados pela polícia – como são em muitos casos de batalhas de rap e poesia, onde microfones e caixas de som são criminosamente pegos por policias – Besouro representa uma juventude que anseia por arte até os dias de hoje e representa o medo de uma burguesia que compreende o perigo de uma roda onde se troca conhecimento e experiência, onde se pode desenvolver ideais revolucionários.
Até o final da escravidão, já havia se tornado um problema de saúde pública para o Estado burguês, principalmente nas capitais portuárias, como Rio de Janeiro e Salvador, onde se encontravam o grande aglomerado da classe trabalhadora da época. Não a toa a capoeira foi proibida dentro da Constituição brasileira, dois anos após a abolição da escravatura, em 1890.
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A história de vida e os ensinamentos de Mestre Pastinha, junto com a de outros mestres, que tenham sido seus alunos ou não, da Capoeira Angola ou Regional, motivou outras pessoas a praticar a capoeira, que se disseminou pelo país e pelo mundo, tornando-se um dos maiores símbolos da cultura brasileira.
A partir dos anos de 1910, Mestre Pastinha busca a emancipação da capoeira. Já reconhecido por todos os grandes mestres da Bahia, ele é proclamado por eles o guardião da capoeira, já que tinha uma visão prática e uma didática excelente para organização da capoeira, produzindo diversos manuscritos sobre a tradição da Capoeira de Angola e sua filosofia.
Seis anos depois, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) conferiu à Roda de Capoeira o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
A partir desse fato vale ressaltar que, por mais que teimem as novas academias de capoeira e a espetacularização da violência do MMA, a capoeira nunca foi uma arte de brutalidade ou de movimentos acrobáticos, mas, desde os seus primórdios, foi um jogo de estratégia, uma arte que se desenvolveu a partir de praticantes que sempre eram mais fracos e estavam mais desarmados que seus adversários, mas que usando a astucia e a agilidade – ou como dizia Pastinha, a mandinga – conseguiriam vencê-los. A capoeira é, portanto, a luta dos oprimidos e explorados.
Já Mestre Pastinha, cujo nome verdadeiro era Vicente Ferreira Pastinha, nasceu em 5 de abril de 1889, também em Salvador. Ele aprendeu capoeira ainda criança, treinando com o mestre Benedito. Pastinha desenvolveu um estilo próprio de capoeira, conhecido como Angola, que valorizava a tradição e a musicalidade da prática. Ele fundou a primeira academia de capoeira Angola do Brasil, em 1941, e foi um dos principais defensores da preservação da cultura africana na capoeira.