— Tenho consciência que fiz por onde chegar a algum lugar. Sei bem disso. Mas sei também que Deus foi bom demais, dando-me além[3]. Quantos fazem por merecer, e nada conseguem? – disse-me Didi certa vez, em um ameno final de tarde. O sol morno e agradável – era início de primavera –, como testemunha privilegiada.
Eram tempos eufóricos. Depois da conturbada morte de Getúlio Vargas, o Brasil tinha um presidente bossa-nova: Juscelino Kubitscheck, de nome complicado e sorriso aberto. Pela primeira vez um presidente virou uma sigla: JK. “Cinqüenta anos em cinco” era seu mote. O Brasil se industrializava a galope. O fogão a gás, o chuveiro elétrico, o Bombril, o detergente, a caneta esferográfica, o automóvel nacional mudavam a paisagem brasileira. Ah, sim, havia também Brasília e alguns arquitetos de gênio, como Oscar Niemeyer. Fundavam-se a bossa nova, o novo teatro, o cinema nacional avançava e ganhava prêmios. Havia até quem sonhasse com o socialismo.
Contra o País de Gales, nas quartas de final, o Brasil teve o seu jogo mais complicado. O sistema defensivo britânico só caiu após uma jogada genial de Pelé, que chapelou um zagueiro na área antes de fazer o seu primeiro gol em Mundiais.
Para a terceira partida, contra a forte equipe da União Sovética, o técnico Vicente Feola resolveu mexer no time, colocando os atacantes Garrincha e Pelé. Três minutos bastaram para mostrar do que essa equipe era capaz.
Fontaine empatou em seguida, mas Didi recolocou a seleção brasileira na frente. No segundo tempo, Pelé desequilibrou. Deu um baile na defesa francesa, fez três gols e garantiu a presença brasileira na decisão.
Nascido no dia 23 de junho de 1981 em Campos dos Goytacazes-RJ Jornalista, Escritor e Compositor. Torcedor do Botafogo do Rio de Janeiro, do Roxinho de Campos dos Goytacazes-RJ e do Arsenal da Inglaterra. Co-Autor do Livro de Crônicas do Botafogo, "A Magia do 7" (Editora Livros Ilimitados, 2011) e Autor dos Livros "Saudosas Pelejas: A História Centenária do Campos Athletic Association" (Edição do Autor, 2012), "Botafogo, Roxinho e Outros Textos Sobre Futebol" (Edição do Autor, 2020) e "Corrupção no Futebol" (Edição do Autor, 2020). Autor das Músicas sobre Futebol: "Oração do Futebol", "Samba do Senta" e "Gol do Maurício"; e do Hino Oficial do Campos Atlético Associação (Roxinho). Criador e Administrador dos Projetos Campos OnLine (@campos.online no Instagram); Campos de Bola (@camposdebola no Instagram); Bola Carioca (@bolacarioca no Instagram e /bolacarioca2020 no Facebook), Coleção Botafogo(/colecaobotafogo no Facebook); Blog Campos Fichas Técnicas (camposfichastecnicas.blogspot.com.br); Blog Pérolas Futebol e Causos (perolasfc.blogspot.com.br); e Blog Estrela Solitária no Coração (estrelasolitarianocoracao.blogspot.com). Fundador, Autor e Editor do Site Viva La Resenha (vivalaresenha.wordpress.com). Produtor do Podcast Camisa Oito (@camisaoito no Twitter).
O resultado foi se fecharem numa defesa inexpugnável até os 26 minutos do segundo tempo, quando Pelé, numa jogada maravilhosa, enfiou a bola nas redes. Depois o Brasil pegou a França, uma das favoritas, que trazia dois monstros sagrados: Just Fontaine, maior goleador da história das Copas, com 13 gols em seis jogos, e Kopa, que teria Didi pela frente. Arrasou: 5 x 2. A partir do segundo tempo a França jogou com 10, pois um de seus volantes se machucou e não se permitiam substituições. Nesse jogo houve várias consagrações. A primeira foi a jogada clássica com que o Brasil abria o placar: Didi servia Garrincha, que passava pelo marcador como chuva por peneira, ia à linha de fundo e centrava para Vavá emplacar.
Mas em 1954 a nova camisa afundou num dos grandes fiascos da seleção brasileira. Na Alemanha, o Brasil foi desclassificado depois de uma vitória, um empate e uma derrota por 4 x 2 para os maravilhosos húngaros. Estes, os favoritos, terminariam derrotados na final pelos alemães, num jogo em que saíram vencendo por 2 x 0 e perderam por 3 x 2. Para completar, o Brasil se classificara em 1958 depois de um empate sofrido com o Peru, em Lima, em 1 x 1, gol de Índio (centroavante do Flamengo), e uma vitória medíocre contra o mesmo time por 1 x 0, no Maracanã, gol de Didi, de falta.
O povo imperava nas ruas. E imperou, para receber sua corte e seus reis sobre os caminhões de bombeiro em quase todas as capitais brasileiras. Para quem viu e ouviu, foi de encher a alma. Éramos felizes e mal nos dávamos conta.
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O povo deste lado do mundo ouvia tudo pelo rádio. Havia tevê em poucas cidades do Brasil, e apenas de alcance local. O jeito era grudar no rádio ou ir para a rua e ouvir pelos alto-falantes na frente dos jornais e estações de rádio, onde multidões se aglomeravam, vibravam, roíam as unhas ou choravam. Ou amaldiçoavam em coro, como nos estádios. Um mês depois, a filmagem dos jogos passava nos cinemas, nos cinejornais que antecediam os filmes. Tinha gente que ia ver cinco ou seis vezes o mesmo filme só para ver de novo o jogo.
Com 13 gols marcados em seis partidas, Just Fontaine foi o maior artilheiro na Suécia. Ele marcou mais gols que os dois segundos colocados juntos (Pelé, do Brasil, e Rahn, da Alemanha, ambos com seis). É até hoje o recordista em uma mesma edição da Copa do Mundo. Em 1958, Fontaine marcou gol em todos os jogos e levou a França até a terceira colocação. Só na partida contra a Alemanha Ocidental, ele fez quatro. Os outros gols foram marcados nos jogos contra Escócia, Irlanda do Norte, Paraguai, Iugoslávia e Brasil.
O "Aranha Negra" teve participação decisiva na boa campanha da União Soviética no torneio (6º lugar). Mesmo tendo sofrido seis gols, fez fama defendendo pênalti na vitória sobre a Áustria e fechando o gol para garantir o 1 a 0 sobre a Inglaterra que levou os soviéticos às quartas de final. Sua principal característica era a excelente colocação embaixo da trave, além de possuir muita agilidade e reflexo.
O Brasil jogava a final da Copa do Mundo de 1958 contra a Suécia, país anfitrião, no dia 29 de junho, em pleno verão, mas debaixo de um frio de 10 graus. Aos 4 minutos do primeiro tempo o goleiro sueco Svensson alçou a bola para um zagueiro. Em poucos e precisos passes, sem que nenhum brasileiro tocasse na bola, ela chegou aos pés do atacante Liedholm. O sueco deixou o goleiro Gilmar estatelado: 1 x 0 para os donos da casa. A defesa brasileira congelou. Era a segunda vez que o Brasil disputava uma final de Copa. A primeira, em 1950, debaixo do calor do Rio de Janeiro, Maracanã lotado, fora uma catástrofe. O time da casa perdeu para os uruguaios precisando de um empate para ser campeão.
O País de Gales quase não foi à Copa, mas fez bonito. A equipe ficou em segundo lugar no seu grupo das eliminatórias, perdendo a vaga para a Tchecoslováquia. Graças às confusões na Ásia, porém, os galeses ganharam uma segunda chance. Os países muçulmanos se recusaram a enfrentar Israel, que iria ao Mundial sem entrar em campo. Para evitar isso, a Fifa promoveu um duelo entre País de Gales e Israel. Os europeus venceram os dois jogos por 2 a 0 e se classificaram. Na Suécia, fizeram ótima campanha, caindo somente nas quartas de final, diante do campeão Brasil.
A seleção brasileira finalmente conseguiu se impor aos rivais e faturar a primeira Copa, acabando de vez com o "complexo de vira-latas", termo cunhado por Nelson Rodrigues para definir o sentimento de inferioridade em relação aos europeus. A conquista só foi possível graças à combinação de uma inédita organização dos dirigentes com uma das melhores gerações de craques que o país já produziu.
Depois do gol-fantasma de Liedholm e da “caminhada do século” de Didi, o Brasil desembestou e impôs novo 5 x 2, gols de Vavá (2), Pelé (2) e Zagalo. Dois gestos encantaram o mundo: os brasileiros deram a volta olímpica com a bandeira da Suécia; e, a pedido dos jornalistas, o capitão Bellini ergueu a taça para ser fotografada. A partir daí o gesto, que não existia antes, ficou consagrado e repetido por todos os vencedores.