Na composição, o poeta mostra seu caráter modernista, com elementos como verso livre, ausência de um padrão métrico nos versos e uso de linguagem popular e cenários cotidianos.
Quando o autor repete a questão, e logo depois substitui "José" por "você", podemos assumir que está se dirigindo ao leitor, como se todos nós fossemos também o interlocutor.
O trecho coloca hipóteses, através de pretérito imperfeito do subjuntivo, de possíveis maneira de escapar ou de se distrair ("gritasse", "gemesse", "morresse") que não se concretizam. Essas ações são interrompidas, ficam em suspenso, o que é marcado pelo uso das reticências.
A proposta era abandonar o formalismo e a vaidade, assim como os artifícios poéticos da época. Para tanto, adotaram uma linguagem mais corrente, abordando temas da realidade brasileira como modo de valorizar a cultura e a identidade nacional.
Com os versos "quer ir para Minas, / Minas não há mais", o autor cria outro indício da possível identificação entre José e Drummond, pois Minas é a sua cidade natal. Já não é possível voltar ao local de origem, Minas da sua infância já não é igual, não existe mais. Nem o passado é um refúgio.
Integrou a segunda geração modernista (1930 - 1945), que abraçou as influências dos poetas anteriores. Se focou nos problemas sociopolíticos do país e do mundo: desigualdades, guerras, ditaduras, surgimento da bomba atômica.
No verso "Sozinho no escuro / Qual bicho-do-mato" é evidente seu isolamento total. Já em " sem teogonia" a ideia é a de que não há Deus, não existe fé nem auxílio divino. "Sem parede nua / para se encostar": sem o apoio de nada nem de ninguém; "sem cavalo preto / que fuja a galope" traz a falta de um meio de fugir da situação em que se encontra.
Ainda assim, "você marcha, José!". O poema termina com uma nova questão: "José, para onde?". O autor explicita a noção de que este indivíduo segue em frente, mesmo sem saber com que objetivo ou em que direção, apenas podendo contar consigo mesmo, com o seu próprio corpo.
Para compreender o poema na sua plenitude é essencial termos em vista o contexto histórico no qual Drummond viveu e escreveu. Em 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, o Brasil também tinha entrado num regime ditatorial, o Estado Novo de Getúlio Vargas.
O sujeito lírico não sabe como agir, não encontra solução frente ao desencantamento com a vida, como se torna visível nos versos "Com a chave na mão / quer abrir a porta, / não existe porta". José não tem propósito ou lugar no mundo.
O Modernismo brasileiro, surgido durante a Semana de Arte Moderna de 1922, foi um movimento cultural que pretendia quebrar os padrões e modelos clássicos e eurocêntricos, heranças do colonialismo.
Repete que "a noite esfriou" e acrescenta que "o dia não veio", como também não veio "o bonde", "o riso" e "a utopia". Todos os eventuais escapes, todas as possibilidades de contornar o desespero e a realidade não chegaram, nem mesmo o sonho, nem mesmo a esperança de um recomeço. Tudo "acabou", "fugiu", "mofou", como se o tempo deteriorasse todas as coisas boas.
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, no dia 31 de outubro de 1902. Autor de obras literárias de vários gêneros (conto, crônica, história infantil e poesia), é considerado um dos maiores poetas brasileiros do século XX.
Na poesia, queria abolir as formas poéticas mais convencionais, o uso de rimas, o sistema métrico dos versos ou os temas considerados, até então, líricos. Buscava-se maior liberdade criativa.
Em 1942, data de publicação do poema, Drummond vivia o espírito da época, produzindo uma poesia política que expressava as dificuldades diárias do brasileiro comum. Transparecia também suas dúvidas e angústias, assim como a solidão das pessoas do interior, perdidas na cidade grande.
Ele começa colocando uma questão que se repete ao longo de todo o poema, se tornando uma espécie de refrão e assumindo cada vez mais força: "E agora, José?". Agora, que os bons momentos terminaram, que "a festa acabou", "a luz apagou", "o povo sumiu", o que resta? O que fazer?
É um homem banal, "que é sem nome", mas "faz versos", "ama, protesta", existe e resiste na sua vida trivial. Ao mencionar que este homem é também um poeta, Drummond abre a possibilidade de identificarmos José com o próprio autor.
Lista o que é imaterial, próprio do sujeito ("sua doce palavra", "seu instante de febre", "sua gula e jejum", "sua incoerência", "seu ódio") e, em oposição direta, aquilo que é material e palpável ("sua biblioteca", "sua lavra de ouro", "seu terno de vidro"). Nada permaneceu, nada restou, sobrou apenas a pergunta incansável: "E agora, José?".
3 – Pode-se entender que José é uma criatura abandonada. ... A repetição desse verso sugere que, para José, o abandono pode representar até sofrimento físico. 4 – O interlocutor se chama José.
O eu lírico se dirige ao leitor, pois podemos substituir o nome José pelo pronome 'você', além de que o José pode ser o autor da obra que apresenta uma solidão e está desacreditado das coisas. A obra se trata de uma produção bastante famosa do poeta brasileira Carlos Drummond de Andrade.
É a expressão dos sentimentos e composição psicológica de quem está narrando a poesia. Em relação à letra da música "Tem alguém aí?", de Gabriel, O Pensador, o eu lírico é um rapaz jovem, que na tentativa de superar a timidez acaba se envolvendo no mundo das drogas.
Resposta. "Eu lírico" é o termo utilizado para fazer referência à voz, na literatura, que relata e expressa as emoções e opiniões do autor. ... Se é uma poesia escapista, o eu lírico se comportará de maneira a ter aversão pela realidade que vive, preferindo imaginar uma realidade fantasiosa para escapar da vida real.
A) O Eu Lírico se sente extremamente desconfortável e apático em relação ao povo; que lhe causa dor e sofrimento. ... É uma relação de atrito e inconformidade; o eu lírico tenta afastar-se de seu povo, pois este não lhe causa bem algum; muito pelo contrário, a relação faz com que ele sinta-se mal.
Se vê envolvido exclusivamente por baixo, como se o mundo o absorvesse. Sê vê por fora do mundo. Se vê envolvido por baixo e por cima, como se o mundo se dispusesse em torno dele. Se vê unicamente como um ser posto de lado, observando tudo a sua volta.