Quem assistiu Rocky III com certeza vai se lembrar de uma das melhores músicas internacionais dos anos 80: Eye Of The Tiger, gravada pela banda Survivor. Aliás, quem não assistiu também — afinal, o riff que abre a canção se tornou um clássico.
Lançada em 1977, Tigresa foi a sétima faixa do álbum Bicho, disco inspirado, segundo o próprio Caetano, por uma viagem a Nigéria e pelo choque cultural resultante do que encontrou por lá.
O verso me falou que o mal é bom, e o bem, cruel é interessante se levarmos em consideração o contexto da época em que o “bem” significava a repressão e o “mal” era tudo o que fosse considerado subversivo.
A canção certamente bebe das influências tribais, e é mais uma daquelas em que o cantor faz homenagem às suas musas pessoais, com uma letra que enaltece a figura de uma mulher enigmática e liberta, uma “Tigresa”, comparação mais do que adequada nesse caso.
Talvez por isso, a música ganhou fama na voz de uma das musas da música nacional, Gal Costa, que lançou sua versão no álbum Caras e Bocas naquele mesmo ano, e seria também a figura central da letra de Vaca Profana, outra canção de peso de Caetano.
Os versos, cheios de sensualidade e duplo sentido, mostram o quanto essa mulher agora vive plenamente a sua liberdade sexual e que, mesmo com muito ódio no coração, ela encontra espaço para espalhar prazer e amor.
Ainda assim, o sujeito da canção afirma ter sido marcado mais pela presença física da mulher do que pelas coisas que ela disse, consideradas como besteiras de menina.
Assim, há uma evolução natural do interesse dela por política no passado: consciente e liberta, ela agora dança livremente na discoteca, sabendo que o movimento do seu corpo negro também é político.
A letra traz o ponto de vista de um eu lírico que conta suas experiências e conversas com a mulher do título, que o conquistou e fisgou seu coração só para depois seguir seu caminho, deixando o narrador com nada mais do que a canção que fez para ela.
Impressionados com a qualidade da cena, Sullivan e Peterik entenderam que a música deles precisaria superar a do Queen para funcionar. O tecladista contou que começou a criar o famoso riff de guitarra e a criar os acordes para os socos que viam na tela.
A versão de Gal fez muito sucesso e até serviu como trilha da personagem Cínthia Levy, na novela Espelho Mágico, exibida pela Rede Globo entre junho e dezembro de 1977, interpretada pela atriz Sônia Braga, mais uma das divas do cantor.
Uma curiosidade é que a versão de Eye Of The Tiger que foi incluída no filme é uma demo. Inclusive, a faixa conta com sons de tigre que foram retirados da versão que entrou para o álbum de 1982.
A música Tigresa foi escrita na época da [discoteca] Dancin’ Days. Zezé tinha as unhas pintadas de preto. A figura física da Tigresa veio muito mesmo de Zezé. E ela sabe disso. Mas a canção não é sobre ela só. Tem muito Sônia e pensamentos sobre as mulheres daquele tempo.
Durante muitos anos, todos diziam que a musa inspiradora era unicamente Sônia Braga, até o cantor revelar que a canção talvez tenha mais da Zezé Motta; tem de algumas mulheres cujos nomes nem sei, mas que eu via naquela altura, no Dancin’ Days, na noite.
Gostou de ler nossa análise da música Tigresa? Então aproveita e vem conferir também uma seleção de 66 frases do Caetano para inspirar seu dia!
Apesar disso, segundo o próprio Caetano, Tigresa “tem muito mais de Zezé Motta”, cuja personalidade lhe chamou atenção nas baladas da Dancing Days, boate famosa no Rio de Janeiro na época.
Lançada em 24 de julho de 1982, Eye Of The Tiger ficou seis semanas no Hot 100 da Billboard, além de alcançar a primeira posição no Reino Unido e na Austrália. No Brasil, foi a 23ª música mais tocada nas rádios naquele ano.
Aqui, o cantor menciona a boate carioca Dancin’ Days, que pertencia ao jornalista e produtor musical Nelson Motta, como o local onde se manifesta uma espécie de resistência cultural.
Desde seu lançamento, muito se especulou sobre quem seria a musa inspiradora da música Tigresa.
Lembrando que Caetano afirmou ter se inspirado nas mulheres daquele tempo, a maioria influenciada por ideais feministas e/ou contraculturais, como o próprio musical Hair, os versos acima mais uma vez falam da emancipação feminina.