Cunhã–Poranga É a mulher mais bela das tribo do Caprichoso, tem na sua essência a garra, o mistério e o espírito guerreiro das lendárias Amazonas, expressando em sua dança os sentimentos de amor e paixão.
Parintins é uma cidade localizada no Estado do Amazonas e faz fronteira com o estado do Pará. O lugar é uma ilha, conhecida como Tupinambrana, descoberta em 1796. É o palco da maior manifestação cultural do Norte brasileiro, o Festival Folclórico de Parintins.
O registro mais antigo até agora encontrado data do século XIV a.C. e está escrito em símbolos cuneiformes da língua acadiana. O pedaço de barro escrito foi achado em Jerusalém por arqueólogos israelitas.
“A gente conta no Bumbódromo de uma forma muito lúdica a história primitiva dos povos, a colonização, a invasão… é como uma aula sobre nossa identidade, como o brasileiro foi gerado, abordando história, geografia e ciências. A gente fala sobre desmatamento e ensina a ‘desmatar’. Mostramos o homem branco desmatando com machado e máquinas. Por outro lado, a gente mostra o correto, com o exemplo das tribos indígenas e com o curupira, o protetor da mata. Nossas canções [chamadas no festival de toadas] são sobre como preservar, sobre a Amazônia. É a forma de inserir na cultura esse debate tão importante”, explica Isabelle, de 28 anos.
“A floresta é a grande maloca [habitação por várias famílias indígenas] do mundo inteiro. Hoje fala-se muito sobre aquecimento global para o mundo todo, para os brancos principalmente. Mas nós aqui já falamos sobre isso desde o começo dos anos 1990, principalmente na arena. Falamos sobre como o homem desmata, a questão do carbono, dos combustíveis, da água, das terras indígenas… é tudo o que as pessoas vêm ouvindo, mas de uma forma cantada e divertida”, conta a cunhã do-poranga do Garantido.
O plano inclinado é, basicamente, uma superfície plana que tem um de seus lados elevados, formando um ângulo com o chão. Uma rampa ou uma esteira rolante de um prédio, que vai de um andar ao outro, são exemplos de planos inclinados.
“Toda vez que eu viajo as pessoas acham que a Amazônia é o Pantanal, até mesmo quem é do Brasil. Na época das queimadas, no ano passado, me perguntavam se a situação já tinha normalizado aqui. Sempre falo pras pessoas conhecerem a Amazônia. É tudo muito lindo, e ver é melhor do que ouvir falar. As pessoas precisam ter a noção de que a gente mora aqui, mas não é só nosso. O compromisso de cuidar não é só de quem é daqui”, destaca Marciele.
O Boi Caprichoso foi fundado no dia 20 de outubro de 1913. A sua origem remonta a uma disputa entre duas famílias de fazendeiros da região: a família Monteverde e a família Cid. Ambas as famílias tinham a tradição de soltar bois durante as festividades juninas. A competição entre os dois grupos tornou-se acirrada e, para formalizar a disputa, a família Cid fundou o Boi Caprichoso.
“O item cunhã-poranga representa a índia mais bonita da aldeia. Ela é uma guerreira e, ao mesmo tempo, tem carisma. Mas a gente vai além disso, da cultura para a representatividade. A importância da cunhã-poranga para o festival é poder levantar a bandeira da resistência indígena, mostrar que a gente está lutando, sempre aqui, que ninguém vai largar a mão de ninguém. A gente sai da arena para o mundo real”, afirma Marciele, de 27.
“O mundo todo falou da Amazônia durante a pandemia, vários artistas internacionais, mas nós já sabíamos. Nós, amazônidas, acreditamos que ainda existe um grande preconceito com o povo da floresta no Brasil inteiro, não somos ouvidos como deveríamos. Fazemos parte de um Brasil que é esquecido, somos vistos como minoria. As pessoas querem lutar pela Amazônia agora. Não tem que lutar quando a floresta está em fogo, mas quando ainda está em pé”, acredita.
Entre os itens levados à arena estão as cunhãs-porangas de cada boi, que são como “rainhas de bateria”, representando força e beleza. Em conversa com Quem, para o projeto Um Só Planeta, Isabelle Nogueira (Garantido) e Marciele Albuquerque (Caprichoso) destacam a importância do Festival de Parintins para a conscientização ambiental e preservação da Amazônia.
Os bois Garantido e Caprichoso, do Festival Folclórico de Parintins, proporcionam anualmente uma das maiores manifestações culturais do mundo. O evento, famoso pelo espetáculo e pela competitividade entre os bois, leva para 35 mil pessoas no Bumbódromo do município (a 369 quilômetros de Manaus), enredos sobre a preservação da natureza e histórias da colonização do Brasil.
Os ícones do Caprichoso e do Garantido ensinam em seus perfis no Instagram as atitudes sustentáveis que adotaram, desejando cada uma que seus mais de 100 mil seguidores adotem a mesma consciência ambiental.
“São os pequenos hábitos que a gente acha que não vai ter impacto, como diminuir o uso da sacola plástica e corrigir alguém quanto ao desperdício de água. Sempre descubro que posso fazer mais. Meu papel como cunhã-poranga e influencer, já que o item me trouxe esse presente, é usar minha voz para mostrar às pessoas que a gente vai ter consequências boas ou ruins do modo como tratamos a natureza”, conclui Marciele.
Tradicionalmente realizada no último fim de semana de junho, o evento foi cancelado pelo segundo ano consecutivo por conta da Covid-19. Para manter a essência da cultura popular, será feita a Parintins Live 2021 neste sábado (26), um ato simbólico e sem competição. A a live será transmitida a partir das 22h (Brasília) pela TV A Crítica no YouTube.
As cunhãs afirmam ter intimidade com a natureza, algo que acreditam ser comum ao povo amazônida. Segundo elas, a relação com o meio ambiente está ligada ao seu instinto de preservação.
Hoje, o Festival Folclórico de Parintins é um evento de proporções gigantescas que atrai turistas de todo o mundo. Durante o festival, o Boi Caprichoso e o Boi Garantido competem em várias categorias, como melhor galera (torcida), melhor toada (música), melhor alegoria, entre outras. Cada noite de apresentação segue um enredo, que é mantido em segredo até o início do festival.
No dia a dia, Isabelle e Marciele percebem que brasileiros e estrangeiros sequer entendem a localização da Amazônia e como os biomas são divididos. As cunhãs acreditam que parte do desinteresse em preservar a floresta vem do desconhecimento sobre as riquezas naturais. “O brasileiro viaja o mundo todo, mas não vem para a Amazônia, para Manaus. Claro que fora do Brasil tem lugares incríveis, mas tem gente que diz que aqui é quente, tem muito mosquito e não tem o que fazer”, diz Isabelle.
“Aqui no Amazonas, nos municípios ao redor, os caboclos e ribeirinhos têm um amor pela Amazônia que não é ensinado. Eles nascem com isso. Cresci no interior de Juruti, na fronteira do Pará com o Amazonas. Minha família até hoje vive da roça, mas não se vê nenhuma queimada ou área desmatada que não seja replantada. Trago isso comigo dos meus ancestrais. Procuro rever minhas ações, o que tenho feito e o que posso fazer para contribuir para a Amazônia, e tento conscientizar quem convive comigo e meu público sobre questões ambientais. Quero que eles consigam ver a mesma importância que eu vejo na preservação”, reflete Marciele.