A Dirofilariose, também conhecida como “verme do coração”, é uma zoonose causada pelo nematódeo Dirofilaria immitis, que parasita o sistema circulatório e é transmitido a canídeos (hospedeiros definitivos), felídeos e humanos (ambos hospedeiros acidentais) por meio da picada de diversos mosquitos. O verme existe em muitos países do mundo, com maior incidência normalmente em áreas litorâneas quentes, úmidas e com natureza preservada (CANIN, 2023).
A única espécie de vetor já descrita, capturada no Estado do Rio de Janeiro como vetor primário para cães Aedes (Oc.) scapularis (LABARTHE et al., 1998), foi encontrada em baixa densidade. Por outro lado, C. quinquefasciatus, também capturada com frequência baixa, já foi apontada como vetor primário para gatos no Estado do Rio de Janeiro (LABARTHE et al., 1998), e na Itália (GENCHI et al., 1992). Além disso, sua taxa de infecção natural, no Brasil, varia entre 0,1 e 0,9% (BRITO et al., 2001; LABARTHE et al., 1998) e, a artificial, entre 2,5 e 8,7% (AHID et al., 2000). Apesar da densidade dos vetores influenciar na probabilidade de transmissão, não se pode afirmar que, quando em baixa densidade, aquela espécie não promova a transmissão (LUDLAM et al., 1970; PARKER, 1993). A espécie mais frequentemente capturada, A. aegypti, pode ter sido o vetor da infecção felina na região do Grande Meier, uma vez que já foi apontada como vetor natural em outros países (VEZZANI et al., 2006) e como potencial vetor no Estado do Rio de Janeiro em estudo experimental (SERRÃO et al., 2001). Portanto, qualquer uma das três espécies capturadas em maior frequência pode ter realizado a transmissão, principalmente, porque mosquitos das três espécies já foram capturados no Estado do Rio de Janeiro, contendo sangue canino e felino (GOMES, 2007).
No inseto vetor, a Dirofilaria immitis passa do estágio larval 1 (L1) até o larval (L3), ou larva infectante, quando torna-se apta a ser transmitida para um novo hospedeiro. O tempo necessário de desenvolvimento da microfilária para o estágio infectante no mosquito é temperatura dependente. Em temperatura de 27°C e umidade relativa de 80% o desenvolvimento de L1 a L3 ocorre em 10 a 14 dias, sendo este tempo maior em temperaturas mais baixas (KARTMAN, 1953; SLOCOMBE et al, 1989).
Uma pesquisa conduzida por Labarthe el at. (2014) teve como objetivo reavaliar as taxas de infecção nessas regiões do Brasil e também em localidades previamente consideradas endêmicas. A conclusão do estudo foi uma prevalência geral de 23% dos cães testando positivo para D. immitis, com cidades costeiras de São Paulo e Rio de Janeiro se destacando novamente como as maiores taxas de infecção do país (Figura 1).
INTRODUÇÃO: Em alguns bairros costeiros de São Luís, Maranhão, a prevalência da dirofilariose chega a mais de 40% entre os cães domiciliados. Porém, desconhecem-se os vetores naturais, tanto lá quanto no resto do Nordeste do país. O objetivo do estudo foi identificar os prováveis vetores dessa parasitose. MÉTODOS: Realizaram-se coletas mensais de mosquitos em um bairro costeiro de São Luís, MA, de março de 1996 a maio de 1997, no peridomicílio, tendo cão e homem como iscas. Os mosquitos foram dissecados para a pesquisa de larvas da Dirofilaria immitis. RESULTADOS: Coletaram-se 1.738 mosquitos de 11 espécies. Culex quinquefasciatus, capturada todos os meses, porém menos freqüente na estação chuvosa, correspondeu a 54,5% do total, seguido de Aedes albopictus (20,3%), Aedes taeniorhynchus e Aedes scapularis (ambos 11%). Larvas de D.immitis foram encontradas em 0,1% dos Cx. quinquefasciatus e 0,5% dos Ae. taeniorhynchus. CONCLUSÕES: Ae. taeniorhynchus e Cx. quinquefasciatus foram considerados vetores potenciais da dirofilariose em São Luís. A importância local de Cx. quinquefasciatus como transmissor primário da D. immitis necessita ser melhor avaliada.
Realizaram-se coletas mensais de mosquitos em um bairro costeiro de São Luís, MA, de março de 1996 a maio de 1997, no peridomicílio, tendo cão e homem como iscas. Os mosquitos foram dissecados para a pesquisa de larvas da Dirofilaria immitis.
Quando houver disponibilidade, esse procedimento cirúrgico deve ser o de escolha para cães que estiverem com alta carga parasitária e para pacientes de alto risco. Antes de eleger este método de tratamento, deve ser realizado o ecocardiograma para visualizar o coração direito e a artéria pulmonar direita, determinando assim o número de nematóides adultos e a localização dos mesmos (VETSMART, 2023).
Vale ainda ressaltar que as infecções humanas são raras e de difícil diagnóstico, uma vez que os parasitas não permanecem viáveis por longos períodos. Assim, o sinal mais frequente é uma lesão única pulmonar que raramente causa sintomas, o que faz com que seu achado se deva a exames rotineiros para acompanhamento de outras patologias ou apenas check-ups de saúde.
Dirofilaria immitis preferably infects canids and can, in lower frequency, be found in cats (Felis catus Linnaeus, 1758). The parasite may be transmitted by various Culicidae species. Motivated by an autochtone feline heartworm case diagnosed in the region of Engenho Novo - RJ (S 22º 90' e WO 43º 27'), the following issues were surveyed: 1) the local Culicidae fauna and; 2) the ocurrence of microfilaremic dogs. The mosquito study was conducted from April 2003 through May 2004, by peri-domiciliary and intra-domiciliary captures. A total of 672 mosquitoes (female) of the following species were caught: Aedes aegypti (Linnaeus) (561/672 - 83.5%); Culex quinquefasciatus Say (96/672 - 14.3%); Aedes (Oc.) scapularis (Rondani) (12/672 - 1.8%) and Aedes albopictus (Skuse) (3/672 - 0.4%). Only A. aegypti and C. quinquefasciatus specimens were captured year-round. A total of 235 canine blood samples were collected during the Campanha de Vacinação "Rio Sem Raiva" in October 2003. No microfilaria could be found in any of the examined samples (Knott´s and NAN techniques), even though only 3.4% of the dogs received chemoprophylaxis and the majority of them frequently traveled to endemic areas. The presence of vectors associated to a possible dog mobility, may have provided the right scenario for the feline D. immitis infection to happen in the studied area.
Após a picada, as microfilárias seguem para a corrente sanguínea do animal, onde permanecem por algum tempo antes de seguir para o coração e o pulmão. Uma vez no coração, os vermes jovens se desenvolvem, crescem e liberam microfilárias L1 no sangue. As microfilárias podem permanecer no sangue durante períodos longos de até 2 anos, enquanto os vermes adultos podem viver no animal por períodos maiores ainda, de até 7 anos.
Embora a D. immitis infecte principalmente canídeos, é possível que felinos também sejam contaminados após picada de mosquito infectado.
Para a análise estatística só foram considerados os mosquitos com freqüência acima de 2% do total. Usou-se teste de coeficiente de correlação para dados não-paramétricos e a média de Williams14 para avaliação da freqüência mensal dos mosquitos.
À Rosele Ribeiro e Celina Ribeiro (in memorian), por abrirem as portas de sua casa. À Maria Inês Dória Rossi, pela ajuda com o gráfico. À Heloisa Diniz, pelos mapas. À Núbia Karla de Almeida, pela estatística. A Mauro Salles Tupinambá, por todo apoio à realização deste trabalho. Ao Dr. Nicolau Maués da Serra Freire, pela identificação do exemplar de D. immitis. A todos os Médicos Veterinários que contribuíram para a realização deste estudo.
A total of 1,738 mosquitoes belonging to 11 species were collected. Culex quinquefasciatus, the only species collected every month, was more frequently in the dry season. It accounted for 54.5% of the total, followed by Aedes albopictus (20.3%), Ae. scapularis (11%) and Ae. taeniorhynchus (11%). D. immitis larvae were detected in 0.1% of the Cx. quinquefasciatus dissected (L3 in the Malpighian tubules) and 0.5% of the Ae. taeniorhynchus (L2 in the Malpighian tubules).
São desconhecidas as espécies de mosquitos transmissoras de D. immitis em grande parte do mundo. No Brasil, só recentemente descobriram-se os vetores na Região Sudeste. Lourenço-de-Oliveira e Deane10 (1995) encontraram larvas do parasita nos tubos de Malpighi de Ae. taeniorhynchus e Ae. scapularis, sugerindo que esses mosquitos sejam vetores da dirofilariose na baixada litorânea do Rio de Janeiro. Essas espécies são consideradas oportunistas, já que normalmente se alimentam em uma variedade de animais domésticos, além do homem (Edman5, 1985; Consoli e Lourenço-de-Oliveira2, 1994). Mais tarde, Labarthe et al.7,8 (1998) consideraram esses mosquitos como vetores primários e Cx. quinquefasciatus como secundário da dirofilariose canina em outra área costeira do Rio de Janeiro.
Prevenção, Diagnóstico e Controle da Dirofilariose em Cães. American Heartworm Society, 2014. Disponível em: <https://d3ft8sckhnqim2.cloudfront.net/images/documents/2014_AHS_Canine_Guidelines.Portuguese.Pesquis%C3%A1vel.pdf?1457714957>. Acesso em 11 Out 2021.
O dano promovido ao longo do tempo para as artérias pulmonares, ventrículo direito e todas as estruturas vasculares adjacentes aos pulmões muitas vezes levam ao desenvolvimento da doença em sua forma grave, geralmente identificada pelos sinais clínicos, que incluem tosse, dispneia e intolerância ao exercício. A dirofilariose pode evoluir e ser fatal em estágios mais avançados.
Devido ao seu efeito filaricida sobre a L4, as lactonas macrocíclicas podem ser utilizadas em baixas doses, tendo baixa toxicidade. Para todos os fármacos a base de lactona macrocíclica, que são administrados de forma oral ou tópica, recomenda-se o uso de doses com intervalos de 30 dias. Após esse período, a eficácia destes produtos contra L4 é reduzida ou incerta. Helmintos jovens, que podem estar presentes a partir de 52 dias pós infecção são menos suscetíveis aos fármacos quimioprofiláticos (MACCALL et al, 2001).
Como infecções por D. immitis não são frequentes na região do Grande Meier, tanto Médicos Veterinários quanto proprietários deixam a população animal sem prevenção, concentrando grande quantidade de animais susceptíveis. Muitos desses hospedeiros susceptíveis circulam livremente entre áreas enzoóticas e indenes, garantindo a possibilidade de introdução do parasito na região estudada, onde há mosquitos de espécies vetoras (GUERRERO et al., 1992; LABARTHE et al., 1997). Os mosquitos locais, em baixa densidade populacional, são atraídos tanto por cães quanto por gatos (GOMES, 2007), o que demonstra que a ocorrência de dirofilariose felina na região, provavelmente casual, é possível. Entretanto, portadores de microfilaremia não foram encontrados, o que pode parecer bizarro. Considerando-se que: 1) a gata que originou o estudo apresentou sintomatologia compatível com a infecção em novembro de 2002; 2) em gatos, os parasitos levam aproximadamente quatro meses para chegar às artérias pulmonares e ventrículo direito (DILLON, 2001; DILLON, 2003); 3) a sintomatologia felina ocorre com maior frequência e gravidade quando os parasitos Aedes (Oc.) scapularis chegam ao hábitat (sintomatologia precoce) ou quando morrem (TESKE, 1971; DILLON, 1984; DILLON, 1996; DILLON, 2001; CALVERT et al., 2003; DILLON, 2003; NELSON et al., 2005; ATKINS; LISTER, 2006) e; 4) a expectativa de vida dos parasitos, em gatos, é de aproximadamente dois anos (MCCALL et al., 1992; DILLON, 2001; DILLON, 2003; BAY, 2004; ATKINS; LISTER, 2006), pode-se admitir que a infecção da gata tenha ocorrido entre junho - julho de 2002 (caso a sintomatologia tenha sido precoce), ou no verão de 2000/2001 (caso a sintomatologia tenha sido pela morte dos parasitos adultos). Portanto, é admissível que, passado tanto tempo, o cão ou cães portadores de microfilaremia que infectaram os vetores já não estivessem mais na região, impossibilitando encontrar o animal reservatório.
Alguns cães como da raça Collie e de outras raças que são deficientes em Glicoproteinas-P são sensíveis a uma variedade de medicamentos comumente usados na medicina veterinária, incluindo as lactonas macrocíclicas, pois sua toxicidade já foi relatada em caso de uma overdose ou em uso combinado com outros fármacos inibidores de Glicoproteinas-P (Pulliam et al, 1985). Essas intoxicações ocorreram na maioria das vezes quando lactonas macrocíclicas, de uso em bovinos, foram acidentalmente ingeridas ou administradas em cães com erro no cálculo da dose. Esta prática não é recomendada na bula destes medicamentos, sendo contra-indicada sua utilização em cães. As dosagens quimioprofiláticas padrão das lactonas macrocíclicas aprovadas para cães apresentam segurança no seu uso em todas as raças de cães (MEALEY, 2008).
Ae. taeniorhynchus e Cx. quinquefasciatus foram considerados vetores potenciais da dirofilariose em São Luís. A importância local de Cx. quinquefasciatus como transmissor primário da D. immitis necessita ser melhor avaliada.