A história do estranho impressiona profundamente Penélope que, querendo de alguma forma lhe mostrar sua gratidão, ordena às empregadas que lhe façam uma cama e lhe lavem os pés. ... Penélope então chama Euriclea que, vendo uma cicatriz acima do joelho do estranho, reconhece Odisseu nele.
A importância dos poemas de Homero na educação grega foi fundamental, haja vista que as obras desse poeta forneciam exemplos de virtude e heroísmo a serem seguidos. Esse período recebeu esse nome por causa da figura do poeta Homero, considerado o autor das epopeias Ilíada e Odisseia.
Thus possibly our rape and subsequent hanging represent the overthrow of a matrilineal moon-cult by an incoming group of usurping patriarchal father-god-worshipping barbarians. The chief of this group, notably Odysseus, would then claim kingship by marrying the High Priestess of our cult, namely Penelope (Atwood, 2005, p. 165).
Seu reinado era relacionado às estações, pois o rei era escolhido quando o Sol estava no auge (antes do verão) e sacrificado quando a incidência do sol diminua, durante o inverno. Assim, o Sol tornou-se um símbolo da fertilidade masculina e a Lua passou a ser considerada um símbolo do poder e da fertilidade da mulher – e assim a Grande Deusa também passou a ser referida como Deusa Lunar.
Tendo lido Graves, Atwood parece familiarizada com suas teorias a respeito do culto a uma deusa, segundo a qual, nas sociedades primitivas do Neolítico, as mulheres desempenhavam papel dominante nas atividades de plantio e colheita, conectando-se dessa forma ao cultivo da terra e, por extensão, ao processo de dar a vida e alimentar. Devido a esse papel, as mulheres eram consideradas os membros mais importantes da sociedade, e acreditava-se que sua capacidade de gerar vida era algo quase mágico, sendo comumente associada à Natureza. Assim, durante a época em que os homens viviam do cultivo, a figura mítica dominante era a de uma deusa.
Além de perturbar o conteúdo da narrativa principal, questionando a verdade da história contada por Penélope, os capítulos das servas também representam uma quebra na forma do romance. Cada um deles tem uma forma diferente, que pertenceria mais aos gêneros líricos e dramáticos do que propriamente ao épico (ou narrativo): uma canção para pular corda, um lamento, uma canção popular, uma pastoral, uma canção de trabalho de marinheiros (a sea shanty, nomeada na tradução em português de “nau precária”), uma balada, um drama, uma aula de antropologia, uma gravação do julgamento de Odisseu, uma canção de amor e uma despedida (um envoi, no original em inglês).
A mencionada obra de Margaret Atwood pode ser considerada pós-modernista em muitos aspectos: ela descontrói a aura heroica da Odisseia de Homero, obra canônica que, como as outras grandes narrativas épicas da Grécia Antiga, perpetuava as ideias de patriarcalismo e autoridade masculina. Atwood quebra a tradição canônica ao dar voz a Penélope, esposa de Odisseu, trazendo para a luz essa personagem que permanecia marginalizada na obra de Homero, que lhe delegava papel pequeno e passivo em comparação com o de Odisseu. Em The Penelopiad, é Penélope quem narra a história, dando sua perspectiva.
Quanto mais eles caprichavam nessa parte, mais caros eram os presentes devidos por mim. E eu sempre os recompesava. Até uma invenção óbvia serve para reconfortar um pouco, na falta de opções
Penélope é o símbolo por excelência da fidelidade conjugal feminina. Voltando para casa após a última viagem, Ulisses pôde desfrutar novamente de sua esposa e, segundo uma versão, a engravidou de outros dois filhos: Poliporte e Arcesilao.
Graves não só assemelha os aspectos de Odisseu aos de um rei sagrado como também interpreta a posição de Penélope como a de líder do culto da deusa, portanto uma sacerdotisa. Para ele, algumas versões de mitos que acusam Penélope de ser a mãe do deus Pã (cujo pai seria Hermes ou algum dos seus pretendentes de Ítaca) poderiam ser referência a orgias religiosas. Segundo essa linha de pensamento, ela não teria sido fiel a Odisseu, mas o traído e retornado à Mantinea – revoltando-se contra ele por ter sido forçada a mudar-se para Ítaca, o que contrariava o costume matrilinear.
Então sua esposa Penélope decidiu ordenar a Euriclea que arrastasse o leito conjugal dos cônjuges de maneira a mostrá-lo a ele. Esse pedido foi feito para provocar o marido e realmente entender se ele era mesmo o verdadeiro Ulisses.
E Penélope é sábia porque consegue mascarar sua decepção, investigar os sinais de beleza antiga naquele rosto desgastado e admirá-lo, esplêndido e sedutor, com os olhos do coração e não com os sentidos. ... Meu nome é Penélope, companheira de Ulisses, filho de Laertes, rei de Ítaca. "É a última transgressão."
Partindo dessas discussões acerca do mito, este artigo propõe uma análise da re-visão que Margaret Atwood faz da Odisseia – grande mito da filosofia universal, traduzido e celebrado com tanta frequência por grandes autores da literatura de língua inglesa desde o século XVI – em A odisseia de Penélope. Começaremos argumentando que, ao reler Homero, Atwood subverte os traços constitutivos do gênero épico e desconstrói a grande narrativa do herói ao dar voz a Penélope e às doze servas enforcadas por Ulisses no seu retorno a Ítaca. Em seguida, ensaiaremos algumas considerações acerca das implicações decorrentes da reescrita do mito homérico por uma escritora mulher canadense contemporânea.
De acordo com essa teoria, Graves acredita ser possível identificar algumas alegorias nas histórias de Odisseu e Penélope. Por exemplo: Odisseu conquistou o direito de casar-se com ela após vencer uma corrida, da mesma maneira que os reis sagrados escolhidos pela Ninfa costumavam ser os vencedores de alguma competição. Assim, Odisseu teria se tornado rei sagrado ao casar-se com Penélope (supostamente a Ninfa tribal) e evitado o sacrifício ritual após o período de seu reinado – dessa maneira, todas as suas aventuras e os perigos que enfrentou seriam metáforas para a morte ritualística que ele evitara.
Both acts, the hanging and the genital-tearing-off, would have ensured the fertility of the crops. But usurping strongman Odysseus refused to die at the end of his rightful term. Greedy for prolonged life and power, he found substitutes. Genitals were indeed torn off, but they were not his – they belonged to the goatherd Melanthius. Hanging did indeed take place, but it was we, the twelve moon-maidens, who did the swinging in his place (Atwood, 2005, p. 167).
As palavras de Odisseu As palavras de Odisseu Assim Odisseu dirigiu estas palavras aos pretendentes: "Vocês pensaram que eu estava morto e, portanto, vieram para cortejar minha esposa e minhas servas, mas agora que voltei, vocês morrerão por minhas mãos." ... Neste momento o velho revela sua verdadeira identidade aos pretendentes, ele é Odisseu de Ítaca.
Esse rei sagrado era escolhido pela rainha (geralmente após ganhar uma corrida, luta ou competição de arco e flecha) para reinar com ela até a época de seu sacrifício. Assim, qualquer que fosse a causa, a morte do rei era uma certeza, pois se acreditava que ela traria fertilidade às plantações. Após o sacrifício, outro homem seria escolhido para ser o amante da Ninfa tribal e o ciclo seria reiniciado.
Para Graves, o estudo da mitologia grega deveria levar em consideração os sistemas político-religiosos que existiam na Europa Antiga, nos quais os povos eram governados por uma mulher que servia como rainha e líder espiritual, possuindo tanto poder político quanto religioso. Essa líder (que Graves denomina Ninfa tribal) podia escolher um amante por ano: um homem que poderia liderar ao seu lado como rei, mas que seria sacrificado ao término do ano.