O Brasil perdeu nesta última terça-feira (27) o lendário Orlando Drummond, ator e dublador responsável por uma infinidade de personagens que marcaram gerações. Ele faleceu aos 101 anos de idade em casa em decorrência de falência múltipla dos órgãos. E, com 70 anos dedicados à carreira e responsável pela voz de centenas de personagens icônicos, não é exagero dizer que ele se tornou eterno.
É claro que ele vai ser sempre lembrado pelo Seu Peru, personagem que criou ainda em 1952 para a Escolinha do Professor Raimundo, quando o programa ainda era só uma esquete de rádio. Só que, tão marcante quanto seus bordões humorísticos, foram suas dublagens. Do Socoby-Doo que conhecemos a vilões como Gargamel e Vingador, sua voz se tornou imortal. Não por acaso, Drummond era reverenciado entre dubladores como uma lenda.
O desenho do Ursinho Pooh podia não ser o favorito das crianças — principalmente as mais velhas, que queriam ver histórias um pouco mais aventurescas —, mas isso não apaga o belo trabalho de Orlando Drummond com o personagem Corujão. Ainda que fosse um dos coadjuvantes da série, a sua interpretação do personagem casou muito bem com o estilo paizão da coruja, que volta e meia aparecia para aconselhar Pooh, Leitão e Tigrão. É um raro caso de uma voz que te abraça.
Orlando foi bastante conhecido pelo personagem Seu Peru da Escolinha do Professor Raimundo bem como por dublar os personagens Scooby Doo, Alf (em Alf: O ETeimoso), Popeye, Vovô Cão e Dr. Urso Marrom (Peppa Pig) e Vingador (em Caverna do Dragão), entre outros.
Abrimos nossa lista com um personagem que não é tão conhecido quanto o outro cachorro interpretado pelo Drummond, mas que mostra bem a genialidade do ator. Ao longo da década de 1970, o estúdio Hanna-Barbera fez uma série de desenhos animados parecidos na carona do sucesso de Scooby-Doo e coube ao nosso lendário dublador emprestar sua voz para boa parte deles.
Orlando iniciou sua carreira no ano de 1942 como contrarregra e com auxílio de Paulo Gracindo começou a atuar como dublador, após o mesmo perceber o potencial de Orlando para tal. Posteriormente, atuou em alguns filmes como Rei do Movimento (1954) e Angu de Caroço (1955) até chegar à carreira de dublador, a qual exerce desde o fim dos anos 50. Interrompeu o trabalho como dublador em junho de 2015 após sofrer um acidente.
Veio a falecer em sua casa no Rio de Janeiro no dia 27 de julho de 2021, aos 101 anos, devido a uma falência múltipla de órgãos. Dias antes de falecer, começou a apresentar perda de memória e de apetite.
Outro vilão que ficou eterno graças a esse monstro da dublagem foi o velho Gargamel, da série clássica dos Smurfs. Reprisando mais uma vez sua voz sombria, ele deu vida ao feiticeiro que queria capturar os homenzinhos azuis para fazer uma poção. E, diferente do que vimos com o Palpatine, ele ainda consegue puxar o tom para a comédia e fazer com que essa combinação funcione muito bem.
Na dublagem pra TV, começou em 1958 na ZIV, e também na Cinelab, aonde funcionava os estúdios da Herbert Richers. Nos anos de 1960, além de atuar na Herbert Richers, esteve na Rio Som, Cine Castro e TV Cinesom.
Para muitos, o melhor trabalho de Orlando Drummond. Não há como assistir à série do alienígena folgado que cai na Terra e vai viver com uma família americana sem ser com a nossa lenda da dublagem. E não apenas pela sua voz, mas pela personalidade que ele deu ao personagem. O jeito de falar, as gírias, as reações… Drummond se aproveitou de todo o seu conhecimento e experiência com comédia para deixar o boneco de pelúcia muito mais carismático do que ele poderia ser em outro idioma.
Diante de tudo isso, como muitos fãs pontuaram nas redes sociais após a notícia de seu falecimento, chega a ser injusto dizer que ele morreu. Na verdade, Orlando Drummond viveu. Viveu e marcou vidas, memórias e corações com cada um dos seus personagens, imprimindo uma personalidade própria a cada um deles.
E isso deixou claro o quanto Drummond sempre foi um mestre. Apesar de estar dando voz a personagens bastante parecidos, ele conseguiu imprimir personalidades, entonações e jeitos de falar completamente diferentes entre eles. Assim, por mais que a sua voz fosse irreconhecível, era fácil separar o Bionicão do Scooby-Doo e de todos os outros cães que invadiam a programação infantil da época.
Assim, para homenagear essa voz imortal, o Canaltech relembra alguns dos seus trabalhos mais marcantes e que certamente serão para sempre lembrados por todos. Vida longa ao mestre, porque gênios assim vivem para sempre.
Ao longo desses 70 anos de carreira, Drummond se especializou em criar personagens com vozes amedrontadas — algo que poucos conseguem fazer com tanta maestria. Além do Scooby-Doo, isso fica bastante claro em He-Man e Os Defensores do Universo, onde o ator fez o medroso tigre Pacato.
Orlando Drummond morreu em casa, de falência múltipla dos órgãos, segundo informações do G1. Em maio, o ator ficou internado para tratar uma infecção urinária, mas recebeu alta no mês seguinte. Drummond foi um dos primeiros vacinados contra a Covid no Rio.
A brincadeira deu certo e ele eternizou essa interpretação a ponto de outros dubladores que assumiram o personagem tentarem emular o que ele fez lá atrás. Além disso, ele se tornou tão associado a Scooby-Doo que chegou a entrar no Guinness Book, o livro dos recordes, como o ator que mais tempo passou dublando um mesmo personagem — foram mais de 35 anos.
E a voz que ele imputa ao personagem traduz muito bem o clima do desenho, já que mantém esse tom quase vilanesco — afinal, estamos falando do Ceifador Sinistro —, mas que está claramente de saco cheio de servir de babá para os dois pentelhos.
Entrou para o Livro Guinness dos Recordes por dublar Scooby Doo por mais de 35 anos. Entretanto, na série Scooby Doo - Mistério S/A, Orlando dublou Scooby apenas na 1ª temporada por causa de uma exigência da Warner, sendo substituído então por Reginaldo Primo.
Dublou ativamente até 2015, quando sofreu um acidente doméstico. Depois disso, se afastou da dublagem, mas em 2019 dublou novamente um comercial da Renault. No mesmo ano, recebeu várias homenagens ao completar 100 anos. Foi homenageado no Bloco Versão Brasileira, no Carnaval do Rio. Também recebeu a Medalha de Mérito Pedro Ernesto da Câmara Municipal do Rio de Janeiro e fez uma participação especial na nova versão da Escolinha do Professor Raimundo.