Este ano a primeira morte pelo vírus HIV (agente causador da imunodeficiência adquirida) completou 40 anos. Em meio a uma nova pandemia, a lembrança de outros tempos desafiadores para a Medicina é uma moeda com duas faces bem diferentes. De um lado, carrega o medo pelas mortes que não podem ser evitadas. Do outro, traz a esperança de que a cada dia estamos mais perto de encontrar a cura para mais uma doença.
Em 1991, conquistamos outro marco histórico: o Ministério da Saúde deu início à distribuição gratuita de retrovirais pela rede pública. Nesse mesmo ano, a Fiocruz foi convidada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para participar da Rede Internacional de Laboratórios para Isolamento e Caracterização do HIV-1.
Os 40 anos desde os primeiros casos identificados de Aids (síndrome da imunodeficiência humana adquirida, na sigla em inglês) vêm, no Brasil, com a notícia de aprovação de um novo medicamento pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que combina duas substâncias em um só comprimido –avanço que pode significar mais praticidade para soropositivos.
A partir desta década, a mortalidade pela doença diminuiu em 33%. E isso mostrava que o avanço da Medicina e os esforços das entidades sociais, públicas e civis, estavam sendo bem-sucedidos. Portanto, ainda havia muito a ser feito.
O primeiro caso de HIV no Brasil foi registrado na cidade de São Paulo, mais especificamente no Hospital Emílio Ribas, em 1980. Porém, foram necessários ainda mais dois anos para que o diagnóstico fosse classificado como AIDS.
Quase 10 mil pessoas morreram por complicações da AIDS em 2019. Dez mil vidas perdidas pela falta de uma postura preventiva massificada em nossa sociedade, que nos impede de zerar os índices de novos casos da doença. Portanto, manter viva a história do árduo caminho que nos trouxe até aqui não tem por intenção causar pânico, mas sim respeitar a memória dos que se foram.
Embora hoje seja uma doença cujo controle é possível e cujos infectados podem viver vidas saudáveis, foi responsável pela morte de cerca de 36,8 milhões de pessoas desde o início da epidemia, em 1981, segundo o Unaids (Programa para Aids da ONU, na sigla em inglês).
Junto à virada do século, cinco companhias farmacêuticas decidiram reduzir o preço de remédios antirretrovirais que estavam sendo utilizados em países em desenvolvimento, condição à qual o Brasil enquadrava-se. Nessa época, a disparidade de casos entre gêneros era grande, sendo o dobro de casos registrados em homens.
No fim de dezembro de 2022, 29,8 milhões de pessoas (76% [65% – 89%] de todas as pessoas vivendo com HIV) estavam em terapia antirretroviral. Em 2010, esse número era de 7,7 milhões.
Em 2017, a Anvisa autorizou farmácias de norte a sul do país a venderem autoteste para HIV. Neste mesmo ano, o PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) também passou a ser disponibilizado pelo SUS.
A doença foi pano de fundo para uma série de produções, caso do premiado "Clube de Compras Dallas" (2013), que rendeu o Oscar de melhor atuação para Matthew McConaughey, e do musical "Tick, Tick... Boom!" (2021), com direção de Lin-Manuel Miranda.
Com a morte de Cazuza pela doença em 1990, os pais do cantor fundaram uma ONG para cuidar de crianças e adultos portadores do vírus HIV, acolhendo-os e oferecendo remédios e cestas básicas. Após 30 anos funcionando, porém, a Organização anunciou o encerramento das atividades.
Novos medicamentos surgiram nesta época e, em 1996, a prescrição do tríplice esquema de antirretrovirais, que combinava dois inibidores transcriptase reversa e um de protease, foi regulamentada. Logo depois, a Lei 9.313 estabeleceu a distribuição gratuita destes aos portadores de HIV.
Em 1988, com a promulgação da nova Constituição Federal, marcando a volta do regime democrático, foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS). Infelizmente, também foi neste ano que se registrou o primeiro caso entre a população indígena e o país já acumulava mais de quatro mil casos da doença.
Já em 1994, o Ministério da Saúde firmou acordo com o Banco Mundial a fim de impulsionar as ações de controle e prevenção da AIDS no Brasil. Um ano depois, em 1995, foi criado o Simpósio Brasileiro de Pesquisa em HIV/AIDS (Simpaids).
Em meio às boas notícias, o Brasil saiu à frente na América Latina, sendo o primeiro país do continente a isolar o HIV-1. Tal feito foi obra dos pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, em 1987. Neste mesmo ano, deu-se início a administração do AZT para pacientes aidéticos no mundo e foi quando a Organização das Nações Unidas estabeleceu 1º de dezembro como Dia Mundial de Luta contra a AIDS.
Globalmente, a prevalência media de infecção por HIV entre a população adulta (idades entre 15-49) era de 0,7%. Entretanto, a prevalência média foi maior entre as populações-chave. Sendo:
Na prática, estes dados revelam que além da especialização em Infectologia, o profissional que escolher o combate ao HIV para sua carreira precisa ter empatia e estar disponível para dialogar com os seus pacientes. Assim, o sofrimento psicológico de haver contraído o vírus poderá ser paulatinamente amenizado a cada consulta.
Após o isolamento do vírus dois anos antes, por uma companhia francesa, em 1985 surgiu o primeiro teste sorológico para diagnóstico do HIV, baseado na detecção de anticorpos no organismo do portador e em bancos de sangue. Finalmente, em 1986, foi criado o Programa Nacional de DST e AIDS do Ministério da Saúde.
Ativistas gays dos Estados Unidos da organização Act Up, formada em reação à epidemia, chegaram a protestar dentro da catedral St. Patrick's, em Nova York, contra um cardeal que lutava contra a distribuição de camisinhas e a educação sexual em escolas. O episódio ficou conhecido como Ação Pare a Igreja, do inglês "Stop the Church Action".