Bleger (1984) utiliza uma definição de instituição dada por Fairchild, onde relata: “Organização de caráter público ou semipúblico que supõe um grupo diretório e, comumente, em um edifício ou estabelecimento físico de alguma índole, destinada a servir a algum fim socialmente reconhecido e autorizado.
Os que freqüentam o período da manhã têm um café da manhã e almoçam no fim do período. Aqueles que freqüentam o período da tarde almoçam quando chegam e têm um lanche antes da saída.
Segundo o que nos informa o autor, toda instituição tende a ter a mesma estrutura que o problema que deve enfrentar e para o qual foi criada. Desse modo, foi-nos possível compreender a dinâmica institucional, que, diante da percepção de jovens ativos, capazes de se posicionarem diante de um problema a ser resolvido, que deixavam de ser objetos passivos para se tornarem sujeitos de suas ações e atos, se viu obrigada a reformular suas próprias convicções e objetivos. Esse fato, como era esperado, levou à emergência de inúmeras estratégias de resistência através de sucessivas atuações institucionais de desvalorização de nosso trabalho. Tais atitudes, no entanto, serviram para mostrar o quanto nosso trabalho grupal estava sendo produtivo como agente mobilizador e transformador, tanto no âmbito subjetivo quanto institucional.
O estudo das instituições engloba três capítulos fundamentais: o estudo da estrutura e dinâmica das instituições, o estudo da psicologia das instituições e a estratégia do trabalho em psicologia institucional. …
Núcleo de Estudos em Saúde Mental e Psicanálise das Configurações Vinculares - NESME
Palavras-chave: Psicanálise; Grupo; Instituição; Equipe de trabalho; Sofrimento psíquico.
Assim sendo, "todos os fatores que compreendem a investigação e a ação devem ser incluídos como variáveis do fenômeno mesmo que se estuda e que se vai modificando enquanto se estuda. Cada passo dado na ação deve, por sua vez, ser investigado em seus efeitos, incluindo o fato de que sua própria investigação já é uma atuação" (Bleger,1984, p.25).
É interessante observar que os integrantes desse grupo inicial eram tidos, pela instituição, como os mais difíceis de serem encaminhados a uma empresa, e, por isso, permaneciam excluídos e segregados dentro da própria instituição. Tal segregação foi claramente observada durante os encontros semanais do grupo, na medida em que este se dividia abertamente em dois segmentos: um, dos meninos bem comportados e bem vistos pela instituição, e outro, dos meninos malvistos e rebeldes. Dessa mesma forma, em nossos encontros, os jovens do primeiro grupo sempre se mostravam dispostos a participar das atividades, enquanto os jovens do segundo grupo permaneciam inertes e desmotivados. Foi interessante observar que esses jovens, ao notarem a participação das estagiárias nas atividades propostas, ou seja, ao perceberem a implicação das mesmas no desenrolar do grupo, se "arriscaram" a fazer o mesmo, desencadeando, a partir daí, um processo de transformação tanto interno quanto institucional, processo que teve, como primeiro movimento, a escolha de um nome para o grupo: GRUPO JOVEM, o que marcou o momento inicial da construção de uma identidade própria, aspecto fundamental para que esses jovens começassem a se perceber como cidadãos.
Bleger (1988) foi mais um autor, apoiado em Pichon-Rivière e Jacques, que desenvolveu estudos voltados à compreensão dos grupos nas instituições. Nomeia o estudo que faz da instituição de psicanálise operativa, definida como a psicanálise aplicada realizada fora do contexto clínico individual. Para Bleger, toda instituição possui objetivos implícitos e explícitos, conteúdos latentes e manifestos e uma organização própria para satisfazer tais objetivos.
Para Bleger (1988), o grupo é um conjunto de indivíduos que interagem, partilhando determinadas normas na realização de uma tarefa. Mas é também uma sociabilidade estabelecida sobre um fundo de indiferenciação. Os estratos da personalidade que permanecem em estado de indiferenciação estão presentes na constituição, organização e funcionamento de todos os grupos, na forma de uma não-interação. A este tipo de relação, Bleger (1988) deu o nome de sociabilidade sincrética, em oposição a uma sociabilidade por interação. O nível da sociabilidade sincrética revela-se em um grupo por meio da comunicação pré-verbal, de um estado de fusão no qual não existe discriminação entre o Eu e o não-Eu. A sociabilidade sincrética é um tipo de pano de fundo sobre o qual se desenvolvem as interações propriamente ditas. Bleger (1988) dá o exemplo de um grupo de pessoas aguardando o ônibus em uma fila em silêncio. Ainda que não haja relação de interação, a sociabilidade sincrética está presente nas regras e normas que regem o comportamento dos indivíduos naquele momento. Uma relação "muda" da qual todos participam e a partir da qual podem – ou não – desenvolver outros tipos de interação.
Pessoa que mora em instituições para idosos (casas de repouso, asilos ou abrigos) ou em residência inclusiva (moradia para jovens e adultos com deficiência, oferecida pelo Serviço de Acolhimento Institucional).
Em uma das reuniões, alguns integrantes da equipe verbalizaram o cansaço e desânimo da equipe com expressões como: "dá uma sensação de impotência na gente, né?", "me sinto de mãos atadas", e "dar tratamento psicológico para quem não tem nem o que comer e chega com fome aqui". Estes fragmentos denotam o sofrimento institucional presente nas equipes, conforme formulou Kaës (1988). Consideramos que o grupo de formação favorece a sensibilização dos participantes quanto às vivências emocionais no trabalho, possibilita a expressão das tensões e sentimentos, funciona como um facilitador para que os integrantes reflitam e aprimorem as práticas de trabalho.
Por outro lado, ultrapassando as indicações individuais, a questão da obrigatoriedade remetia, novamente, ao âmbito institucional e à forma impositiva e desqualificante com que a instituição tratava seus jovens. Tal movimento (re)produzia, de certa forma, a mesma dinâmica social segregadora e excludente com a qual esses jovens se vêem confrontados diariamente em suas vidas. Nesse ponto, uma transformação operada pelo grupo foi crucial. Diante da resistência em participar das atividades propostas pelas estagiárias, foi aberta uma discussão sobre o tema. Os jovens começaram, então, a dar suas opiniões sobre o grupo e sobre quais atividades gostariam de desenvolver. Após uma votação, as propostas do grupo foram levadas para a direção da instituição, o que permitiu a reavaliação de algumas regras institucionais e o alcance de um consenso. Nesse processo, os jovens puderam experienciar uma atitude ativa e responsável diante de um problema a ser solucionado. Por seu turno, a instituição também abriu um espaço para rever e reformular suas atitudes e regras perante aqueles jovens.
Dissemos sim e não. Sim, ajudamos. Não, não é bem deste jeito que podemos ajudar” - (Rufatto, 1999)
Para Bleger, a instituição não é somente um instrumento de organização, regulação e controle social, é também instrumento de regulação e de equilíbrio da personalidade; da mesma maneira que a personalidade tem organizadas dinamicamente suas defesas, parte destas se encontram cristalizadas nas instituições. Se por um lado é necessária a mediação do ser humano para que as instituições existam, por outro elas têm um papel destacado na estruturação da personalidade.
FREUD, S. Totem e Tabu. In: _______. Edição Standard Brasileira das Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1974. v. 13, p. 11-191. Original publicado em 1913. [ Links ]
ENGLISH, H. B.; ENGLISH, A.C. H. Diccionario de psicología y psicoanálisis. Buenos Aires: Paidós, 1977. [ Links ]
Além disso, Bleger faz uma distinção entre a psicologia institucional e o trabalho psicológico em uma instituição. Sua opção é pelo desenvolvimento da psicologia institucional que tem como característica o trabalho com a instituição enquanto totalidade, utilizando o método clínico.
Já em Freud (1921), podemos encontrar uma preocupação com o funcionamento dos grupos e das instituições. Em 1913, vinculou as funções do ego com as funções das instituições sociais. Sua obra Totem e Tabu mostra como se forma a instituição originária da sociedade humana, baseando-se na hipótese de que o assassinato do pai primitivo e a instauração consecutiva dos dois primeiros tabus – não matar o totem e não possuir as mulheres do clã – dão origem a todas as normas posteriores da sociedade, fundando a primeira instituição social e a civilização. Neste caso, a renúncia pulsional e o surgimento da comunidade de direito tem função e significado tanto no espaço psíquico singular, como no espaço psíquico do grupo. Em Psicologia das Massas e Análise do Ego (1921), Freud afirma que a identificação é o que há de comum entre dois ou mais indivíduos, o que possibilitaria o agrupamento e as instituições.
Kaës (1988/1991) refere-se a um espaço psíquico próprio da vida institucional, ou seja, formações psíquicas produzidas e originadas na vida da instituição que satisfazem necessidades tanto dos sujeitos singulares como do conjunto. Esses espaços psíquicos comuns e compartilhados, denominados por ele de “aparelho psíquico grupal”, são processos psíquicos inconscientes mobilizados na produção do vínculo, produzidos pelo conjunto, e podem ser demonstrados, por exemplo, pelos sintomas partilhados ou pelos significantes comuns. O aparelho psíquico grupal possibilita “a articulação entre a economia, a dinâmica e a tópica do sujeito singular de um lado, e de outro, a economia, dinâmica e a tópica psíquicas formadas para e pelo conjunto” (KAËS, 1988/1991, p. 30).
O conceito de Psico-Higiene, de José Bleger, baseia-se na proposta de que o psicólogo deve ultrapassar a atividade psicoterápica, que visa o doente e a cura, e praticar a psico-higiene, que foca uma população sadia e a promoção da saúde.
Nesse ponto, cabe, certamente, um olhar para os objetivos da instituição: sua finalidade maior é a de inserir adolescentes pobres no mercado de trabalho local, atendendo, assim, uma necessidade da comunidade e das famílias de terem mais um membro empregado. É interessante, aqui, destacar o discurso que constitui, subliminarmente, as redes simbólicas a partir das quais a instituição e seus atores se percebem: a instituição é pobre e, portanto, não possui recursos financeiros suficientes para a ampliação de seus quadros profissionais e para realizar melhorias em seus cursos. Há um pedido explícito a todas as pessoas (inclusive funcionários) para que façam doações de materiais e trabalho voluntário. Esse discurso perpassa a instituição - pobre, carente, necessitada, sem possibilidades de transformação - e o adolescente que dela se beneficia - pobre, carente, passivo e desamparado. Assim, quando ouvimos dos jovens que o maior valor do trabalho é o dinheiro que esse pode proporcionar, e ouvimos, da instituição, que a prioridade é empregar os jovens, pois somente através da bolsa-estágio a instituição pode se manter, percebemos que a prioridade institucional não estava na formação profissional desses jovens, mas na manutenção da própria instituição. Sendo assim, fica claro aquilo que Bleger (2001) pontuou: "o grupo se burocratizou, entendendo por burocracia a organização na qual os meios se transformam em fins, e deixa-se de lado o fato de se ter recorrido aos meios para conseguir determinados objetivos ou fins" (p.115).
O presente artigo propõe uma reflexão sobre o trabalho em Psicologia institucional. Utilizando-se da perspectiva teórica de Bleger, é apresentada uma experiência de trabalho desenvolvida em uma instituição localizada na cidade de Nova Friburgo, Estado do Rio de Janeiro, cujo principal propósito é profissionalizar adolescentes visando a seu ingresso no mercado de trabalho local. Como conclusão, são destacadas a importância e a pertinência do trabalho da Psicologia institucional, o qual permite uma significativa transformação tanto subjetiva, ao possibilitar, aos atores institucionais, a construção de suas próprias vidas, quanto institucional, ao tornar sua dinâmica mais flexível e menos cristalizada no exercício de um poder autoritário.
1) SABER INSTITUÍDO E INSTITUINTE: OS SABERES INSTITUÍDOS SÃO AQUELES QUE SÃO APRESENTADOS POR UM PODER MAIOR: INSTITUIÇÃO, NORMAS, LEIS, BUROCRACIA. JÁ OS SABERES INSTITUINTES SÃO OS QUE SÃO TECIDOS ATRAVÉS DAS EMOÇÕES, DAS BRINCADEIRAS, DAS RELAÇÕES COM OS OUTROS.
Significado de Instituído adjetivo Fundado; que se conseguiu instituir, estabelecer: partido instituído pelo povo.
6 formas de incluir o autocuidado no dia a dia
AUTOCUIDADO: TEORIAS E PRÁTICAS DO BOM ENVELHECER. ... Tem a finalidade de proporcionar ao idoso informações importantes sobre o entendimento das fases do corpo e suas alterações fisiológicas decorrentes do processo de envelhecimento, visando a mudança do seu estilo de vida para o bem viver.
Para OREM (1980), o autocuidado é a prática de atividades que o indivíduo inicia e executa em seu próprio benefício, na manutenção da vida, da saúde e do bem- estar. Tem como propósito, as ações, que, seguindo um modelo, contribui de maneira específica, na integridade, nas funções e no desenvolvimento humano.