A tradiçao oral, sempre foi fundamental para a formaçao de nossa cultura, nela sao passados muitos ensinamentos de alguém mais velho para alguém mais novo, transmitindo assim muito conhecimento geralmente de pai para filho, entao, a tradiçao oral contém um nivel muito alto de importancia, tanto quanto a tradiçao por …
Street (1995), ao criticar os estudos tradicionalmente realizados, enumera o que ele denominou "mitos do letramento" presentes nessa produção e que, por se constituírem em um a priori em muitos estudos, impedem que investigações mais profundas sejam realizadas. Inicialmente, o autor identifica a noção de que o discurso escrito se torna significativo pela lexicalização e pela gramática, enquanto o discurso oral realiza essa tarefa por meio de padrões paralingüísticos. Essa concepção reiteraria a "grande divisão". Além disso, Street encontra cristalizada nesses estudos a noção de que o discurso escrito é "conectado" e "coesivo", enquanto o discurso oral é fragmentado e desconectado. Finalmente, identifica o mito de que a linguagem escrita deriva seu significado diretamente das próprias palavras escritas, enquanto a linguagem oral encontra-se mais "embebida" nas pressões sociais imediatas da comunicação face a face.
Numa cultura oral primária, para resolver efetivamente o problema da retenção e da recuperação do pensamento cuidadosamente articulado, é preciso exercê-lo segundo padrões mnemônicos, moldados para uma pronta repetição oral. O pensamento deve surgir em padrões fortemente rítmicos, equilibrados, em repetições ou antíteses, em aliterações e assonâncias, em expressões epitéticas ou outras expressões formulares, em conjuntos temáticos padronizados (...), em provérbios que são constantemente ouvidos por todos, de forma a vir prontamente ao espírito, e que são eles próprios modelados para a retenção e a rápida recordação ou em outra forma mnemônica. (1998, p.45)
Alguns outros contrastes são indicados pelos autores quando analisam as relações entre oralidade e escrita. Para Ong (1998), por exemplo, a escrita está atada ao espaço, enquanto a oralidade está presa ao tempo, em conseqüência da presença ou ausência de suportes materiais para expressar a linguagem: "As palavras escritas são resíduos. A tradição oral não tem tais resíduos ou depósitos" (Ong, 1998, p.17). A escrita, ao contrário da linguagem oral, é linear e completamente artificial. Para o autor, enquanto a oralidade é natural, não existe nenhuma maneira de se escrever "naturalmente": o processo de colocar a expressão oral em sua forma escrita é conscientemente governado por procedimentos articulados (Ong, 1986). Para Ong (1998), as estruturas orais freqüentemente se utilizam mais de elementos pragmáticos (a palavra como ação); as estruturas quirográficas (ou manuscritas) de elementos sintáticos; e o discurso tipográfico desenvolve uma gramática mais elaborada, fixada e dependente da estrutura lingüística.
O processo de cativar a platéia, de deixar registrado nela a realidade da estória, é uma das principais características da educação nas culturas orais. As instituições sociais nessas culturas sobrevivem, em sua maioria, graças ao som, ao que a palavra falada ou cantada pode fazer para converter indivíduos a determinadas crenças, expectativas, papéis e comportamentos. (Egan, 1987, p.451, tradução nossa)
Com a generalização da escrita, outras conseqüências puderam ser observadas em diversas sociedades. Para Cook-Gumperz e Gumperz (1981), o processo de aquisição do conhecimento passou a requerer uma separação entre sua transmissão e as práticas cotidianas. O conhecimento acumulado e a vida diária tornaram-se separados. Nesse processo, grupos específicos foram emergindo e se especializando em preservar, editar e interpretar a informação escrita, utilizando, para isso, uma linguagem criada que se diferenciava daquela utilizada na vida cotidiana. O conhecimento tornou-se, então, aos poucos, descontextualizado e formalizado, e instituições foram criadas especialmente para transmiti-lo, de geração em geração: as escolas. Segundo Ong, o comportamento "estudar" só surge depois da introdução dos sistemas de escrita:
Um exemplo de tradição litúrgica: nas igrejas católicas de rito bizantino, sempre que está de pé, o bispo fica sobre o Aetos (foto acima). Trata-se de um tapete redondo, que traz o desenho de uma águia sobrevoando uma cidade. A cidade murada representa a Diocese; a águia é um lembrete de que, "como uma águia pode ver claramente ao longo de distâncias, por isso deve um bispo supervisionar todas as partes da sua diocese", e defender os fiéis nela contidos (Fonte: Orientale Lumen).
Para Havelock, as epopéias gregas, que podem ser consideradas "imensos repositórios de informação cultural", tinham, além do objetivo de armazenamento de informações, aquele de entretenimento. Essa questão tem implicações no trabalho do pesquisador:
O artigo faz uma revisão crítica dos estudos que se dedicam à análise das relações entre oralidade e escrita e às supostas conseqüências da introdução ou difusão da escrita e da imprensa em sociedades e em grupos sociais. Para isso, os autores caracterizam a emergência do campo de estudos sobre o tema, suas principais abordagens e seu estágio atual.
Os autores buscam também, nessa perspectiva, apontar as características e os principais efeitos da escrita. Ong afirma que a conseqüência principal e mais geral da introdução da escrita foi o que denominou "separação". Inicialmente, a escrita separa o conhecido do conhecedor, promovendo a "objetividade" da linguagem: entre esses dois pólos, a escrita interpõe um objeto tangível, o texto. A imprensa e os meios eletrônicos continuaram, de forma intensificada, esse processo de separação. Além disso, para ele, ao contrário do que ocorre nas culturas orais, a escrita separa a interpretação do dado. Para exemplificar essa questão, o autor argumenta que as pessoas que vivem em culturas de oralidade primária apresentam dificuldades em entender o que os letrados denominam "repetição palavra por palavra". Pesquisas realizadas mostraram que elas, quando demandadas a repetir exatamente o que haviam dito, fazem, na verdade, uma interpretação do que inicialmente disseram, acreditando que houvessem repetido.
A relação entre a oralidade e a escrita é tema de estudo de várias áreas de conhecimento e, dependendo da abordagem escolhida, esses termos podem aparecer em uma relação de oposição ou de integração. A oposição entre escrita e oralidade foi utilizada como a grande divisão que separa as sociedades históricas e pré-históricas, civilizadas e selvagens. Os etnólogos que estudaram os costumes ameríndios, africanos e dos habitantes da Oceania mostraram que a narrativa mítica sempre prevaleceu sobre a análise lógica, os rituais de iniciação sobre as transmissões formais, o ver fazer e o ouvir dizer sobre o procedimento científico. Contudo, a crença de que a oralidade induziria a um pensamento pré-lógico deixou de ser dominante após o fim do colonialismo. A Psicologia, por sua vez, descreveu a gênese das funções psicológicas e simbólicas, analisando como o discurso oral de uma criança se transforma em discurso interior, isto é, em pensamento. Esse processo acontece tanto com crianças que vivem em sociedades ágrafas (sem escrita) quanto com crianças que convivem cotidianamente com a escrita. Já a Sociologia analisou a face oculta da cultura escolarizada, os saberes inscritos em redes de poder, a violência simbólica das classificações eruditas vinculadas exclusivamente ao domínio da escrita.
O modo de pensar oral seria também mais agregativo do que analítico. Essa característica é expressa, por exemplo, na grande carga de epítetos ("Odisseu, o astuto", por exemplo) e outras fórmulas (como provérbios e frases feitas) que caracterizam a expressão oral e que são rejeitadas pela "alta" literatura, por provocarem, em sua avaliação, redundância e monotonia na linguagem. Para Ong, na medida em que as expressões agregativas são utilizadas, resta pouco espaço para o questionamento das adjetivações: a opinião já viria avalizada, cristalizando, de certo modo, o pensamento. Ong afirma, ainda, que o pensamento oral é redundante e pouco original. A repetição do "já-dito" pelo falante atende a certas expectativas do ouvinte em relação aos mesmos temas e às mesmas formas. Para o autor, a eliminação da redundância demanda uma tecnologia que implique a utilização de um espaço de tempo maior: a escrita. Com ela, a mente é forçada a tornar o pensamento mais lento, oportunizando a reorganização da linguagem, eliminando as repetições desnecessárias. Essa característica estaria, para o autor, mais presente quando o falante se encontra diante de uma grande audiência do que em situações de conversações face a face. Ong argumenta que, em uma apresentação oral, quando há uma pausa no pensamento do falante, é mais fácil para ele, e mais compreensível para os ouvintes, repetir a idéia pronunciada anteriormente do que parar e apenas dar continuidade ao discurso com a emergência da idéia seguinte. Como quarta característica do pensamento oral, Ong aponta o seu caráter conservativo e tradicionalista. Nas sociedades orais, há um grande investimento de energia na transmissão da cultura de geração a geração. O conhecimento tem que ser continuamente repetido para que as novas gerações possam, "arduosamente", aprender. Em conseqüência dessa necessidade, as sociedades orais geram um padrão de pensamento altamente tradicionalista e conservativo, inibindo, assim, a experimentação intelectual:
A Tradição a que estamos nos referindo aqui é a Sagrada Tradição, a Palavra de Deus que os Apóstolos receberam de Cristo e transmitiram oralmente à Igreja. Esta não deve ser confundida as tradições estabelecidas pelos homens da Igreja, ao longo do tempo.
Segundo Havelock, o desenvolvimento crescente, a partir dos anos 60, de pesquisas no campo de estudos que investiga as relações entre o oral e o escrito, coloca, na atualidade (o texto foi escrito em 1987), os conceitos de oralidade e de oralismo em uma situação diferente da que ocupavam anteriormente, ganhando maior importância acadêmica. Esses conceitos contribuem para a caracterização de sociedades que, dispensando o uso da escrita, têm-se valido da linguagem oral em seus processos de comunicação. As expressões têm sido utilizadas também para identificar um certo tipo de consciência, supostamente criada pela oralidade (Havelock, 1995). Essas preocupações têm sido centrais nos estudos realizados nesse campo.
De modo semelhante à Havelock (1988, 1995), para Ong (1998), o fato de, em uma cultura oral, as palavras estarem restritas ao som não determina apenas os modos de expressá-las, mas também os processos de pensamento e de estocagem do conhecimento: "sabemos o que podemos recordar" (p.44). Nessas culturas, um interlocutor é virtualmente essencial: afinal, é difícil falar para si próprio durante muito tempo. O pensamento contínuo em uma cultura oral está atado, assim, à comunicação. Sobre o processo de memorização nas culturas orais, diante da impossibilidade de registrar o conhecimento adquirido por escrito, Ong afirma que:
Muitos estudos realizados no campo da oralidade e letramento afirmam que, com a introdução da escrita nas culturas de oralidade primária, ocorreram transformações profundas em todas as dimensões da vida social e cultural. Alguns autores, como Goody (1977), chegam a considerar o advento da escrita como um fato divisor entre o pensamento "selvagem" e o pensamento "civilizado".
O que existe é a tradição oral. Para essas religiões tradição oral é uma riqueza que o povo carrega, e que traz a essência da religião, os fundamentos, a doutrina. É através dessa oralidade que as pessoas mais velhas são responsáveis pela transferência de saberes. … A tradição oral é a herança mais preciosa da religião.
As especificidades das sociedades de oralidade primária e dos modos de pensamento orais determinam, também, como já foi referido, maneiras particulares de transmissão do conhecimento e da cultura. Essa questão também tem sido objeto de vários estudos. Para Havelock, a transmissão da cultura, quando se toma um paradigma teórico da antropologia, pode ser descrita da seguinte maneira:
Na realidade, as culturas orais produzem realizações verbais impressionantes e belas, de alto valor artístico e humano, que já não são sequer possíveis quando a escrita se apodera da psique. Contudo, sem a escrita, a consciência humana não pode atingir o ápice de suas potencialidades, não é capaz de outras criações belas e impressionantes. A cultura escrita, como veremos, é imprescindível ao desenvolvimento não apenas da ciência, mas também da história, da filosofia, ao entendimento analítico da literatura e de qualquer arte e, na verdade, à explicação da própria linguagem (incluindo a falada). (Ong, 1998, p.23)
Muitos pesquisadores têm afirmado que as relações entre oralidade e escrita são muito mais complexas do que alguns estudos podem fazer supor. As grandes dicotomias estabelecidas entre oral e escrito têm sido, para eles, incapazes de explicar as intrincadas relações existentes entre as diferentes formas de linguagem, as características e os modos de pensamento em culturas diversas. Afirmações como as que sustentam que somente os letrados possuem capacidade de abstração; que a introdução da escrita e, mais tarde, da imprensa, constituíram marcos divisores na história da humanidade; ou, ainda, que as culturas podem ser divididas em "orais" e "escritas", sem que seja considerada a coexistência do oral e do escrito na mesma época e no mesmo lugar, têm sido problematizadas e investigadas com maior profundidade em vários estudos.
A tradiçao oral, sempre foi fundamental para a formaçao de nossa cultura, nela sao passados muitos ensinamentos de alguém mais velho para alguém mais novo, transmitindo assim muito conhecimento geralmente de pai para filho, entao, a tradiçao oral contém um nivel muito alto de importancia, tanto quanto a tradiçao por ...
São os textos que transmitem, conforme a fé dos seguidores, uma mensagem do Transcendente, onde pela revelação, cada forma de afirmar o Transcendente faz conhecer aos seres humanos seus mistérios e sua vontade, dando origem às tradições.
O que existe é a tradição oral. Para essas religiões tradição oral é uma riqueza que o povo carrega, e que traz a essência da religião, os fundamentos, a doutrina. É através dessa oralidade que as pessoas mais velhas são responsáveis pela transferência de saberes. ... A tradição oral é a herança mais preciosa da religião.
Os registros escritos são os maiores ensinamentos passados a partir de uma religião entre os séculos.
Resposta: Livros sagrados são conjuntos de textos que são considerados de inspiração divina ou recebidos diretamente de Deus. Também são, muitas vezes, referenciados como sagradas escrituras ou, simplesmente, escrituras.
Vamos relembrar as funções dos textos sagrados escritos! São elas: - registrar a tradição como forma de preservar a experiência religiosa original, assim a religião organizará sua estrutura religiosa, seus ritos, símbolos, mensagens, etc.
Muitas religiões possuem textos sagrados. Entre os mais conhecidos, estão as diversas Bíblias cristãs, o Alcorão islâmico, o Torá judaico e muitos outros.
Então, nos textos Sagrados Escritos do judaísmo, do cristianismo e do islamismo (Torá Bíblia, Alcorão) estão as narrativas da criação e outras histórias, orações, hinos e ensinamentos para os seguidores.
Assim, o que caracteriza um texto como sagrado é o reconhecimento, pelo grupo que o acolhe, de que transmite uma mensagem ou, ainda, de que favorece uma aproximação, uma religação, entre os adeptos e o sagrado. ... Culturas ágrafas, por exemplo, possuem o texto oral, que, pela chegada da escrita, foi ou não registrado.