Leeching é um tratamento medicinal benéfico cada vez mais usado em microcirurgia e cirurgia reconstrutiva para reduzir a coagulação do sangue, aliviar a pressão do sangue acumulado e estimular a circulação sanguínea em operações de recolocação. As desvantagens potenciais incluem sangramento excessivo, reações alérgicas e um pequeno risco de infecção. A terapia com sanguessugas tem uma longa história que remonta à medicina grega e medieval. O ressurgimento do uso de sanguessugas medicinais começou na década de 1980, quando surgiram evidências científicas apoiando o uso dessa terapia para cirurgia microvascular.
Em geral, o tratamento com sanguessugas é feito porque esses animais ajudam a melhorar o fluxo sanguíneo para regiões onde ele diminuiu ou parou, evitando a morte do tecido.
Os retalhos submetidos ao uso de sanguessugas tiveram sobrevida de 86,96%, ao passo que os retalhos de controle sobreviveram cerca de 52,18%. Portanto, o uso de sanguessuga gerou aumento na taxa de sobrevida dos retalhos na ordem de 34,78%. Esses resultados estão de acordo com o teste z de proporção, com p < 0,0134 (tabela 1).
A pesquisa foi realizada no Laboratório Experimental do Instituto de Ortopedia e Traumatologia de Passo Fundo, RS, onde foram utilizados 23 ratos da raça Wistar com peso entre 200 e 400g. Os animais foram submetidos à anestesia com tionembutal 25mg/kg intraperitoneal e complementação com 1ml, caso necessário. Em todos realizou-se tricotomia da parede abdominal e região inguinal bilateral com tricótomos manuais, não sendo utilizados cremes depilatórios, que poderiam ser irritantes às sanguessugas (H. medicinalis).
Após posicionamento em decúbito dorsal, todos os ratos foram submetidos à elevação de dois retalhos epigástricos baseados na veia e artéria epigástrica, um do lado direito e outro do lado esquerdo, na dimensão de 4x6cm cada um. Todos os retalhos foram dissecados pelo mesmo cirurgião sênior. Em seguida, a drenagem venosa dos retalhos foi interrompida pela ligadura da veia epigástrica e pelo clampeamento da veia femoral proximal aos vasos epigástricos com o uso de clamps microcirúrgicos removíveis (figura 1).
Em trabalho de Lee et al, elevaram-se retalhos epigástricos bilateralmente em ratos e ligaram-se os componentes venosos de cada retalho; depois de três horas de oclusão venosa, um dos retalhos foi tratado com sanguessuga. A obstrução venosa foi liberada após seis horas bilateralmente.
Sanguessugas são anelídeos hematófagos parasitas que foram utilizados em vários procedimentos médicos no passado. Na Medicina anglo-saxônica, os médicos, inclusive, tinham o codinome de sanguessugas em virtude da importância desses seres na prática médica antiga. Nicander de Colofon (200-130 a.C.) foi, provavelmente, o primeiro médico a utilizar sanguessugas com fins terapêuticos. O uso delas em sangramento foi promulgado no conceito humoral de doença proposto por Galeno no segundo século(1-2). Em 1976, nos Estados Unidos da América, foi criada uma lei provisória para a comercialização das sanguessugas (Hirudo medicinalis), mas a aprovação pelo FDA (Food and Drug Administration) só ocorreu em 2004(3,4), permitindo o seu uso como um instrumental médico para o tratamento de insuficiências venosas.
Adicionalmente, outras pesquisas pequenas sugerem que a saliva desses animais pode ser utilizada na prevenção de metástase de câncer e aliviar a dor relacionada ao câncer.
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Quando uma sanguessuga se fixa, ela libera um anestésico suave em sua saliva, de modo que a mordida não deve doer. Eles normalmente se alimentam por pelo menos 15 minutos e às vezes podem sugar por uma hora. Uma sanguessuga removerá apenas entre 1 e 2 colheres de chá de sangue. O fato de o sangue continuar a fluir por até dois dias após o tratamento garante a remoção do sangue venoso. Sanguessugas medicinais nunca são reutilizadas.
Ao todo, o tratamento com sanguessugas possui poucos efeitos colaterais. No entanto, existe um risco de infecção bacteriana. Portanto, pessoas imunocomprometidas por doenças autoimunes e fatores ambientais não são candidatas à terapia.
Por esse motivo, sempre que se realiza um retalho microcirúrgico ou um reimplante, a observação pós-operatória é mandatória. Utley et al recomendam observação pela equipe de enfermagem a cada hora nas primeiras 24 horas e a cada duas horas nas 48 horas seguintes(2). Além disso, o cirurgião ou o residente sênior deve também realizar observação a cada oito horas. Esse procedimento é realizado para que se consiga detectar a lesão vascular venosa logo no início e, assim, exista tempo hábil para o seu tratamento, uma vez que lesões venosas tornam-se rapidamente irreversíveis, como demonstraram Angel et al(5).
A partir da década de 1980, o uso de sanguessuga tornou-se cada vez mais comum como terapia para microcirurgia e também como cirurgia microvascular e reconstrutiva. Após esses tipos de cirurgias, o sangue venoso pode ter dificuldade para sair da área afetada por causa das veias danificadas, e o sangue rico em oxigênio não pode entrar. Como resultado, a pele fica roxa ou azul e sente frio. Sanguessugas se fixam nessas áreas descoloridas e frias.
De acordo com uma pesquisa de 2004, existem diversas substâncias presentes na saliva das sanguessugas, incluindo cerca de 60 proteínas distintas que podem ser benéficas à saúde humana. De fato, um estudo descobriu que as sanguessugas podem melhorar a função arterial entre os idosos.
Todos os retalhos foram submetidos a seis horas de oclusão venosa; em um lado foi utilizado H. medicinalis; o lado contralateral serviu de controle. Imitando-se o aparecimento da insuficiência venosa clínica, a H. medicinalis foi utilizada três horas após a oclusão venosa, colocada no retalho de maneira aleatória (figura 2).
As sanguessugas medicinais usadas na sanguessuga são semelhantes em aparência aos vermes gordos e pretos e geralmente são da espécie Hirudo medicinalis. Eles são fracos, vivem na água e variam em tamanho de 0.5 a 2 polegadas (1.27 a 5.08 centímetros). Essas sanguessugas são cultivadas e mantidas em um ambiente estéril em um hospital ou clínica para reduzir o risco de infecção. Apesar da pequena chance de serem infectados por uma sanguessuga medicinal, alguns pacientes podem receber um antibiótico preventivo durante a sanguessuga.
A mordida da sanguessuga não dói, pois a saliva dela contém substâncias que anestesiam a área da ferida. As espécies predadoras podem ter dentes ou apenas mandíbulas, que elas usam para esmagar as presas.
Outras espécies são usadas na Medicina, como a H. troctina, na África do Norte; H. nipponia, no Japão; H. quinquestriata, na Austrália; Poecilobdella granulosa, Hirudinaria javanica e Hirudinaria manillensis, no Sudeste Asiático; Haementeria officinalis, no México; Macrobdella decora, nos Estados Unidos da América; Limnatis nilótica, no Egito, Israel e Líbano; Haementaria amazon, na Amazônia (Eldor et al)(1). Há mais de 650 espécies, mas poucas aderem à pele de mamíferos. Além da propriedade de sucção(1-2), as sanguessugas também apresentam substâncias ativas secretadas em sua saliva (hirudin), as quais são: hialuronidase, colagenase, antiagregante plaquetário e substâncias trombolíticas. Essas substâncias permitem sangramento, mesmo após o término da sucção.
Completadas seis horas de oclusão venosa, todos os retalhos tiveram seus clamps removidos da veia femoral proximal. Todos os animais foram ressuscitados com injeção subcutânea de 20ml de soro fisiológico na região dorsal e foram observados diariamente por cinco dias, para análise de retalhos, sendo, então, sacrificados com injeções intracardíacas de lidocaína a 2%, tendo morte instantânea (tabela 1, figura 3).
Assim, os animais são capazes de chupar o sangue da pessoa em tratamento por cerca de 20 a 45 minutos por vez. Esse tipo de verme é capaz de inchar cinco a dez vezes o seu peso corporal quando cheias de sangue. Porém, durante a terapia, o volume retirado contabiliza apenas uma pequena porção de sangue extraído, até 15 mililitros por sanguessuga.
A taxa de necrose foi de 72% no grupo de controle e no grupo tratado com sanguessuga, de 40,9%, ao passo que a taxa de sobrevivência foi de 16% no grupo de controle e de 51% no grupo tratado com sanguessuga(15). Portanto, houve taxa de sobrevida dos retalhos submetidos ao tratamento com sanguessuga de 35% (n = 22). No presente estudo, respectivamente, verificou-se taxa de necrose de 47,82% no grupo de controle e de 13,94% no grupo tratado com sanguessuga. Já a taxa de sobrevivência no grupo de controle foi de 52,18% e no grupo tratado com sanguessuga, de 86,96%, resultando em taxa de sobrevivência dos retalhos submetidos ao tratamento com sanguessuga de 34,78% (n = 23), o que demonstra semelhança com os estudos de Lee et al(15).