Quais Cidades Passaram A Semana Da Arte Moderna?

Quais cidades passaram a Semana da Arte Moderna

Os artistas de vanguarda - influenciados pelas então recentes experimentações estéticas europeias - pretendiam mostrar o Brasil como verdadeiramente era: uma mistura de culturas e estilos.

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“Com certeza os agentes da semana, os artistas que fizeram esse festival, tinham em mente essa ideia de ter impacto na mídia, de fazer barulho, de se alinhar a uma ideia de vanguarda, de desafio das tradições”, disse Heloísa Espada, curadora do Instituto Moreira Salles (IMS), organização que, no ano passado, realizou um ciclo de palestras [disponíveis no site da instituição] para discutir o evento junto com o Museu de Arte Contemporânea (MAC) e a Pinacoteca do Estado.

Apesar das divergências estéticas entre os artistas, um elemento comum reunia o grupo de modernistas: era um ódio voraz contra o Parnasianismo. Os parnasianos, sob a perspectiva dos modernistas, produziam uma poesia hermética, metrificada e, em última instância, vazia.

Mais tarde, em 1928, Oswald de Andrade e Raul Bopp idealizaram a Revista de Antropofagia, inspirados pelo quadro Abaporu. O título da tela significa “antropófago” em tupi-guarani, assim remetendo ao propósito do antropofagismo de assimilar criticamente as vanguardas europeias e recriá-las a partir da cultura brasileira. Difundindo pensamentos combativos e posições radicais, o periódico se consolidou como um dos principais veículos modernistas.

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Vanguardista no terreno da cultura e do comportamento, Tarsila (que não esteve na Semana) destacou-se nas artes visuais, na literatura e por suas posições, conforme indicam as fontes e os depoimentos consultados pela autora do livro. São esses aspectos sublinhados pela obra, que é considerada um dos mais importantes ensaios críticos sobre a biografada, referência do modernismo. A edição traz mais de 300 ilustrações. Editora 34.

Ela destaca o Clube dos Artistas Modernos (CAM), criado em 1932 e liderado por Flávio de Carvalho, e a Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM), que foi fundada em 1932 por Mário de Andrade e reuniu figuras como Sérgio Milliet, Anita Malfatti, Lasar Segall e Tarsila do Amaral. “Essas duas agremiações artísticas formadas na cidade de São Paulo expressam, antes de mais nada, o êxito do associativismo como estratégia de atuação dos artistas na vida cultural do país ao longo da década de 1930”, analisa Zaccara, que também é vice-presidente da Associação Nacional dos Pesquisadores de Artes Plásticas (ANPAP).

O contexto político social marcava o fim da Primeira Guerra Mundial e o período da República Velha no Brasil, sintetizado pelo domínio das elites e pela visão de que as questões sociais eram tema de polícia, conforme preconizava um dos presidentes da época.

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Exemplares contemporâneos estão também na exposição Brasilidade Pós-Modernismo, que já passou pelo Rio de Janeiro (onde recebeu mais de 25 mil visitantes) e agora está no Centro Cultural do Banco do Brasil, em São Paulo, até 7 de março. A mostra contém trabalhos de 51 artistas feitos a partir de 1960 e divididos em seis núcleos temáticos: Liberdade, Futuro, Identidade, Natureza, Estética e Poesia. “A brasilidade se mostra diversificada e miscigenada, regional e cosmopolita, popular e erudita, folclórica e urbana”, analisa Tereza de Arruda, historiadora da arte e curadora.

Construção histórica

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“Da libertação do nosso espírito sairá a arte vitoriosa. E os primeiros anúncios da nossa esperança são os que oferecemos aqui à vossa curiosidade. São estas pinturas extravagantes, estas esculturas absurdas, esta música alucinada, esta poesia aérea e desarticulada”, declarou Aranha durante a abertura da Semana de 22, segundo conta o livro Mário de Andrade e a Semana de Arte Moderna, da coleção Modernismo — do surgimento no mundo à explosão do movimento no Brasil, publicada pela Faro Editorial em novembro de 2021. “O que hoje fixamos não é a renascença de uma arte que não existe. É o próprio comovente nascimento da arte no Brasil”, comemorou Graça Aranha.

Já durante as apresentações de 1922, modernistas foram vaiados pelo público e incompreendidos pela imprensa. “Em música são ridículos, na poesia são malucos e na pintura são borradores de telas”, opinou o jornalista e crítico Oscar Guanabarino.

“Ao contrário de todas as iniciativas individuais e coletivas que tinham acontecido antes, foi a primeira vez que isso atraiu a fúria dos araras. No tempo deles, a semana teve importância não tanto pelas obras que foram apresentadas - e muitas delas nem era modernas. Mas como essa estratégia de propaganda gerou uma reação em cadeia na imprensa”, acrescentou o professor do IEB e curador da exposição Era uma Vez o Moderno, em cartaz na Federação das Industrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

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O fato dessa mentalidade ter florescido em meio à ditadura militar, que se instaurou no Brasil a partir de 1964, fomentou experiências que ultrapassaram as fronteiras das exposições. Se antes a ideia era abolir a passividade do espectador diante da obra e torná-lo um participante, o con- texto de autoritarismo fez com que os artistas estimulassem o engajamento na esfera social. “O clima político da época incentivou o público a olhar o mundo de um jeito diferente em todos os âmbitos: social, político e econômico”, diz Braga.

A edição apresenta uma coletânea de textos publicados originalmente em jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro ao longo de 1922, ano de realização da Semana. Os artigos selecionados ajudam a entender os debates e a recuperar as polêmicas envolvendo escritores, artistas, críticos, jornalistas, entre os quais Oswald e Mário de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Plínio Salgado e Lima Barreto. Editora Edusp.

Um exemplo dessa politização é a obra Seja marginal seja herói, de Oiticica. A poesia-bandeira não apenas representa a transgressão de valores burgueses como carrega um recado claro: aquele que vive à margem, não envolvido pelos dogmas do centro, consegue enxergar (e compreender) melhor a própria sociedade. Elaborada em 1968, a pintura sobre tecido reproduz a foto do corpo de Alcir Figueira da Silva, um homem que se suicidou após assaltar um banco e ser alcançado pela polícia. “Que diabólica neurose o teria levado a preferir a morte à prisão?”, questionou Oiticica em texto apresentado naquele mesmo ano. Para ele, Alcir era um anti-herói que simbolizava o quanto a sociedade precisava de uma reforma completa.

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A curadora destaca também a diversidade de linguagens, interlocutores e contextos por meio da qual a brasilidade se expressa, e o fato de que essa pluralidade carrega traços que ganharam os holofotes por aqui há cem anos. “A tendência atual é voltada para questões direcionadas ao cotidiano, com muitos aspectos já almejados na Semana de Arte de 22”, avalia.

A despeito das críticas, o evento gerou frutos, como a união de artistas. “Mesmo que tenha sido muito mais um acontecimento local e efêmero, ele deixou uma marca que delimita a consolidação do modernismo no Brasil por meio dos vários grupos que foram criados nos anos seguintes”, observa Madalena Zaccara, professora na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e líder do grupo de pesquisa Arte, Cultura e Memória.

Tudo isso foi contribuindo para que o evento passasse a ter um caráter positivo, de enaltecimento. “A gente vai vendo o quanto, na verdade, o assunto da semana vai surgindo ao longo da história de acordo também com as conveniências de cada época. Acho que falar da Semana de Arte Moderna de 1922, cem anos depois, é lembrar de como os assuntos vão sendo construídos e de quais são os interesses em falar sobre esses assuntos”, disse.

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Os principais nomes do evento foram os escritores Mário de Andrade, Menotti del Picchia e Oswald de Andrade e os artistas Anita Malfatti e Di Cavalcanti. A ideia era provocar a imprensa, fazer muito barulho, para apresentar ideias de vanguarda.

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“É preciso sublinhar uma questão que me parece de fundamental importância: o modernismo no Brasil não começa com a semana. Essa ideia de que a semana vem, apresenta obras que marcam uma ruptura em relação ao que estava sendo feito, é uma ideia falsa. Houve muitas iniciativas antes da semana e depois da semana e, ao conjunto de todas essas iniciativas, algumas individuais, outras coletivas, a gente dá o nome de modernismo brasileiro”, explicou Bagolin.

A oposição a essa mentalidade colonial expressou-se em trabalhos artísticos da Semana, mas esbarrou em limites ao ter em seus protagonistas nomes ligados às elites econômicas de então.

“É preciso falar que houve uma construção histórica da narrativa da Semana de Arte Moderna como um evento fundador do nosso modernismo. Isso foi construído, principalmente, com ajuda da Universidade de São Paulo (USP), a partir do início dos anos 70, sobretudo quando a universidade comprou o acervo da família do Mário de Andrade e esse acervo foi para o IEB. Começa-se então a ver uma série de pesquisas, que se transformam em teses de mestrado e doutorado, em duas áreas sobretudo: a área de teoria literária e a área de ciências sociais”, explicou Luiz Armando Bagolin.

Quais artistas fizeram parte da Semana de Arte Moderna de 1922 Brainly?

Participaram da Semana nomes consagrados do modernismo brasileiro, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti DelPicchia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos,Tácito de Almeida, Di Cavalcanti entre outros.

Quais artistas fizeram parte desta Semana de Arte Moderna de 1922?

Alguns artistas que participaram da Semana de Arte Moderna de 1922:

  • Mário de Andrade (1893-1945)
  • Oswald de Andrade (1890-1954)
  • Graça Aranha (1868-1931)
  • Victor Brecheret (1894-1955)
  • Plínio Salgado (1895-1975)
  • Anita Malfatti (1889-1964)
  • Menotti Del Picchia (1892-1988)
  • Ronald de Carvalho (1893-1935)

Quais foram os artistas precursores do modernismo no Brasil eles fizeram parte de qual evento?

A Semana de Arte Moderna, que aconteceu no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922. Além disso, esse evento é considerado o marco inicial do Modernismo brasileiro.

O que os artistas brasileiros demonstraram durante a Semana de Arte Moderna?

Durante a Semana de Arte Moderna, os artistas brasileiros demonstraram que queriam ter liberdade de expressão e de criação, além de uma identidade própria. ... O Modernismo não tinha um padrão bem estabelecido e que os artistas queriam mesmo era o novo, liberdade para criar e para se expressar.

Por que Tarsila não participou da Semana de Arte Moderna?

De 1920 a 1922, estudou na Académie Julien, em Paris. Assim, não participou da Semana de Arte Moderna de 1922, já que estava na França quando o evento ocorreu. ... Por causa desse convívio, em 1922, pintou os retratos de Mário de Andrade e de Oswald de Andrade, em estilo expressionista.

Por que a Semana de Arte Moderna não ocorreu no Rio de Janeiro e sim em São Paulo?

A Semana de Arte Moderna ocorreu em São Paulo e não no Rio de Janeiro pois a capital paulista estava se desenvolvendo e ainda não tinha sofrido tantas influências do estrangeirismo quanto a capital carioca.

Qual foi a importância da semana de arte moderna para a arte brasileira?

Alvo de muitas críticas, a Semana de Arte Moderna só ganhou sua importância com o passar dos anos, e o seu principal legado foi desprender a arte brasileira da reprodução de padrões europeus, dando início à construção de uma cultura essencialmente nacional.

Quais obras foram expostas na Semana de Arte Moderna de 1922?

Entre as obras e artistas que marcaram esse período, destacaram-se a pintura art nouveau Di Cavalcanti, a poesia de Mário de Andrade e as esculturas de Victor Brecheret.

Qual a relação da Semana de Arte Moderna de 1922 com a implantação da República no Brasil?

A relação da semana da arte moderna de 1922 e a implantação da República no Brasil está no fato de que naquele ano faziam 100 anos desde a Proclamação da Independência, evento que rompeu os laços de Brasil e Portugal. ... eu movimento foi de valorizar a arte brasileira.

Quais acontecimentos contribuíram para o surgimento da arte moderna?

Na arte moderna vê-se a influencia da revoluçaõ industrial ,das maquinas a vapor do aumento das velocidades ,da fotografia ,do cinema e do aviaõ do estudo da mente,entre outros elementos que contribuiram para a mudança do pensamento e das atitudes .

Como foi que tudo surgiu por que a arte existe?

A arte provavelmente surgiu com os primeiros registros abstratos humanos, o que nos leva à pré-história, período no qual surgiram as artes rupestres. ... Ou seja; a arte era uma forma de registro da própria realidade sobre a vida e o mundo naquele período.