Certamente, enquanto descia a tela do seu celular despretensiosamente, você já se deparou com algum vídeo de alguém espremendo cravos e espinhas. Esse tipo de conteúdo é cada vez mais acessado e até páginas específicas sobre o assunto foram criadas nos últimos anos.
Você já imaginou que existe muita gente que gosta de ver vídeos que mostram pessoas espremendo cravos e espinhas em outras pessoas? Pois é, isso existe e esse ato é motivo de prazer e relaxamento por parte de quem vê essas imagens. Trata-se de um público fiel. Louco, não é? Pode ser nojento também, mas tem gente que gosta disso. E para esse gosto existem explicações científicas, de ordem psicológica.
Apesar de satisfatório para o cérebro, espremer cravos e espinhas pode ser extremamente prejudicial à pele. Segundo a dermatologista Edileia Bagatin, coordenadora do Departamento de Cosmiatria da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), a ação é sempre errada, independentemente das circunstâncias. "Não se deve nunca manipular essas lesões por duas questões. Primeiro, porque você agrava o processo inflamatório, você traumatiza. Segundo, porque você pode ferir a pele e aprofundar essas lesões e aí provocar o desenvolvimento de cicatrizes".
Para a psicóloga Monica Machado, especialista em psicanálise e saúde mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, quando a pessoa assiste a algum conteúdo, está concentrando energia em algo que quer para si mesma. "É como se estivéssemos liberando algo de ruim, como se nossa angústia estivesse sendo retirada de dentro de nós. Pelo olhar da ciência, o ato de espremerem cravos faz com que o cérebro libere grande quantidade de dopamina, esse hormônio provoca a sensação de prazer e aumenta a motivação pelo ato de assistir", diz.
O melhor é mesmo procurar ajuda de um profissional para tratar a acne. "Em casa, o que a pessoa pode fazer é uma higiene não exagerada. Se lavar muito a pele, principalmente com sabonetes para pele oleosa, com água quente, você vai danificar mais ainda a barreira cutânea, e isso pode aumentar a inflamação, facilitar as infecções e a dermatite de contato", diz ela.
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Goste ou não de ver esses vídeos, sempre haverá uma explicação no mundo da psicologia humana. Os que se afligem ao ver tais cenas podem apresentar dificuldade em encarar situações de nojo e entrar em contato com as suas emoções, medos e sentimentos negativos. Tudo muito louco, realmente.
De acordo com o YouTube, o interesse pela palavra "cravo" bateu recorde de buscas em 2021 e teve alta de mais de 10% se comparado a 2019. Já as buscas por "espinha" aumentaram nove vezes nesse período e também bateram recorde em 2021. Esses assuntos têm mais interesse na busca do site do que outros termos de destaque da vertical como depressão, dieta e ansiedade.
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Além disso, Bagatin ressalta que, muitas vezes, as pessoas espremem cravos e espinhas com as unhas contaminadas, o que eleva o risco de danos causados à pele. "Nem sempre tomam o cuidado de lavar muito bem as mãos antes de mexer nas espinhas, essa unha pode estar contaminada com bactérias e você pode levá-las para esse local e acabar transformando uma doença inflamatória em uma doença infecciosa, que seria uma foliculite bacteriana".
As explicações para esses atos não param por aí. Sair por aí espremendo cravos alheios pode significar um comportamento compulsivo, caracterizado por atos repetitivos e excessivos cuja finalidade é obter alívio. Existe um imenso número de compulsões tais como o jogo, compras e até mesmo o sexo. Em termos simples, trata-se de uma espécie de vício.
“A dor física é mais suportável. A coisa mais difícil de enfrentar é a dor emocional que a gente não consegue descobrir de onde vem”, explica ela.
Gomes ressalta que a sensação de satisfação proporcionada por esses vídeos, para quem gosta, é curta, mas pode ser potencializada quando a pessoa comenta e compartilha o conteúdo. "Dura aqueles instantes, mas pode ser potencializada quando a pessoa, por exemplo, compartilha ou fala sobre o conteúdo, acionando a memória e tendo ali, como se fosse um flashback daquela sensação agradável".
Fato é que ninguém fica imune a vídeos de cravos e espinhas espremidos. E o que, para alguns, pode causar uma sensação de nojo e repulsa, para outros pode ser imensamente satisfatório. Mas isso não quer dizer que a pessoa que acessa esse tipo de conteúdo espontaneamente tem algum tipo de transtorno psicológico. Muito pelo contrário. Segundo a psicóloga Lais de Meneses Carvalho Arilo, do HU-UFPI (Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí), filiado à Ebesrh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), não existem evidências científicas que associem esse comportamento diretamente a algum problema.
Fontes: Silvana Coghi, dermatologista da Rede de Hospitais São Camilo SP; Andressa Sato, dermatologista do Fleury Medicina e Saúde; Lais de Meneses Carvalho Arilo, psicóloga do HU-UFPI (Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí); Fernando Gomes, neurocirurgião do Hospital das Clínicas de São Paulo; Monica Machado, psicóloga e especialista em psicanálise e saúde mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.
Claro que a ligação não é tão direta assim, mas o TOC é uma das maneiras de se entender o fascínio pelo conteúdo, digamos, dermatológico. “A relação com esses tipos de vídeos é que o paciente, ao assistir à retirada cistos e cravos, transfere o alívio. É como se estivessem retirando algo dele, só que sem a lesão na própria pele. E existem níveis diferentes disso.”
Quando não é em vídeos exibidos pelo You Tube, esse prazer é buscado por casais de namorados, desses que vivem espremendo espinhas uns nos outros. Mas afinal, vale a pena repetir a pergunta: por que algumas pessoas sentem tanto prazer vendo cravos sendo espremidos?