Uma história de privação de liberdade, torturas, estupros e outras violações de direitos de pessoas com deficiência terminou em 1º de abril de 2021. O hospital psiquiátrico funcionou por 122 anos e chegou a ter 16 mil moradores, entre 1960 e 1970.
A violência era o principal método de manutenção do poder estatal, onde aqueles que questionavam a autoridade tinham aumento na intensidade da violência que recebiam, demonstrativo ao coletivo do caminho que deveria ser seguido.
Curioso, Conceição preferia os livros a engatar prosa hostil com os colegas que gostavam de brigar e de se corromper, fazendo contrabando de objetos. Percebendo as condições precárias e a mistura de presos violentos com outros nem tanto, não demorou para que concluísse o óbvio: era ilusão esperar que alguém saísse do Juquery minimamente são.
Alguns pacientes eram largados no Hospital Central com nome incorreto para não serem rastreados de volta à família. "Não era raro encontrar ficha de paciente com a inscrição 'Ignorado'. Quando a pessoa se dizia chamar Maria, por exemplo, nós a chamávamos de 'Maria Ignorada'", conta.
Para ele, as instituições prisionais só existem “porque ainda temos uma sociedade debilitada focada no sistema de classes, onde o lugar de prender os portadores de sofrimento mental, o jovem pobre, o jovem negro, é a prisão”.
As marcas deixadas por todo esse processo nos familiares, na sociedade e nos funcionários são enormes, sendo o Estado o maior protagonista dessa violência e não sendo responsabilizado por tais atos, dando a sensação de ser algo intocável, a favorecer a submissão e o silêncio da população.
Com a comunidade médica brasileira abraçando, na primeira metade do século 20, a política da exclusão, o Juquery cresceu. Em torno dele cresceu também Franco da Rocha. Até quase o final do século 20, a cidade era o dormitório dos trabalhadores do manicômio.
A lei 10.216, de 2001, que estabelece a Política Nacional de Saúde Mental, também conhecida como Lei Paulo Delgado, extinguiu o modelo de internação compulsória e os manicômios pelo tratamento em liberdade, numa Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que envolva a reinserção social com a participação da família e a …
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Mas , apesar de tudo, as políticas do Governo continuam querendo fechá-lo, alegando que é “segregador”, “anulador de liberdades”, “violento”, enfim, um MANICÔMIO. Um hospital psiquiátrico nada mais é do que um hospital que atende doentes com problemas mentais que tenham repercussão mental/comportamental.
Não são poucos os funcionários do Juquery que viraram pacientes, mas a imagem ficou marcada à brasa na memória de Conceição. O ex-colega falava e agia como se ainda fosse cantineiro, e apontava para um montinho de fezes no canto. Eram os "doces" juninos que estava preparando, como nos velhos tempos.
“O Manicômio Judiciário nasceu com o intuito de separar os criminosos que não podiam responder pelos seus atos perante a Justiça comum, porque tinham cometido esses crimes motivados por problemas psicológicos, psiquiátricos ou mentais”, disse o autor.
Descemos de carro pelas ruas estreitas do Jardim Progresso, em direção ao portão principal do complexo. Conceição apontava para os prédios e dizia qual era a função de cada um deles.
A amizade com Antônio Borges, um paciente do Manicômio, o poupou de presenciar uma tragédia em 1983. Dias antes, Borges o chamou de canto e o advertiu para não aparecer no plantão de domingo. O capa-branca foi jogar futebol no dia da rebelião, que teve um saldo sangrento: seis presos e um funcionário foram metralhados por policiais militares que vieram "contê-la". Dois dos PMs, inclusive, estiveram envolvidos no Massacre do Carandiru, em 1992.
O autor se recorda, ainda, que o interno era alegre e uma boa pessoa, mas que estava em uma condição desumana, sem perspectiva alguma. Tal fato o deixou extremamente abalado e triste.
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Os entrevistados afirmaram ter tido contato com essa prática que embora camuflada era facilmente percebida, pois os encarcerados no hospício vinham sem identificação, eram trazidos pela polícia, vinham do Manicômio Judiciário para algum tratamento clínico. Relataram os maus-tratos recebidos e as marcas deixadas.
Conceição tinha acabado de ser transferido do Manicômio Judiciário para uma das Colônias Masculinas — que ficava afastada das demais unidades do hospital — e testemunhava o começo do desmonte do Juquery, que entre os anos 1960 e 1970 chegou a ter mais de 15 mil internos.
A questão dos presos políticos foi relatada pelos entrevistados com muito temor e resistência, pois acreditavam que esse era o ponto de maior vulnerabilidade devido a se tocar em tema considerado proibido e que os colocariam em risco de perseguições e punições, mesmo tanto tempo depois do ocorrido.