Para se conhecer propriamente o objetivo do Manifesto devemos olhar para trás e entender um pouco da história do nosso país. Antes do movimento que deu origem ao manifesto, a cultura brasileira reproduzia o que se passava no estrangeiro, isto é, os artistas basicamente faziam cópias daquilo que viam no exterior.
Como o autor observa em depoimento posterior, a antropofagia foi um "lancinante divisor de águas" no modernismo brasileiro. Não apenas por causa do ato de conscientização que significa a "descida antropofágica" - o deslocamento do objeto estético, ainda predominante na fase pau-brasil, para discussões relacionadas com o sujeito social e coletivo - como também pelas opiniões divergentes que gera e que é causa de futuros desentendimentos entre os modernistas. Sem dúvida, o caráter assistemático e o estilo telegráfico utilizados pelo escritor para dar forma a seu ideário antropofágico de certo modo contribuem para a ocorrência de uma série de mal-entendidos. No entanto, a multiplicidade de interpretações proporcionada pela justaposição de imagens e conceitos é coerente com a aversão de Oswald de Andrade ao discurso lógico-linear herdado da colonização européia. Sua trajetória artística indica que há coerência na loucura antropofágica - e sentido em seu não-senso.
A resenha discute diferentes leituras do Manifesto Antropofágico no contexto de revisões do Modernismo Brasileiro propiciadas pelo Centenário da Semana de 22 e coloca em perspectiva crítica as representações do negro e do indígena presentes na metáfora antropofágica.
The review discusses different readings of the Anthropophagic Manifesto in the context of revisions of Brazilian Modernism propitiated by the Centennial of the Semana de 22 and puts into critical perspective the representations of black and indigenous people present in the anthropophagic metaphor.
Ao pé da letra a junção das duas palavras significa canibalismo, que aqui ganha um sentido metafórico, simbólico. O canibalismo do índio tinha como objetivo incorporar os dons do inimigo, as características positivas da vítima.
BACHMANN, Pauline; CARRILLO-MORELL, Dayron; MASSENO, André; OLIVEIRA, Eduardo Jorge de. (Eds.). Antropofagias: um livro manifesto! Práticas da devoração a partir de Oswald de Andrade. Lausanne: Peter Lang, 2021.
O Manifesto Antropófago foi escrito em 1928. Ele é considerado o principal texto do movimento tendo sido publicado na primeira edição da Revista de Antropofagia (lançada em 1928).
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Trata-se, portanto, de um gesto de intertextualidade, de uma escancarada apropriação da cultura do outro para adaptação na realidade local. Esse movimento é ao mesmo tempo uma forma de homenagear o autor original e um exercício de criatividade ao se fazer a reinterpretação de uma oração clássica.
Nos dois casos, há uma afirmação de que aquilo que foge das regras europeias seja automaticamente vinculado às nossas origens, sobretudo ao indígena, como assinala Carrillo-Morell ao falar sobre a arquitetura de Niemeyer:
O trecho acima faz uma constatação polêmica uma vez que o país já havia proclamado a independência em setembro de 1822. Mais de cem anos depois do famoso anúncio, Oswald provoca os brasileiros sugerindo que nós afinal não havíamos conquistado a tão desejada autonomia.
O Manifesto Antropófago, brilhantemente desenvolvido por Oswald, clamava aos artistas brasileiros por originalidade e criatividade. Ele pretendia celebrar o nosso multiculturalismo, a miscigenação.
A resenha discute diferentes leituras do Manifesto Antropofágico no contexto de revisões do Modernismo Brasileiro propiciadas pelo Centenário da Semana de 22 e coloca em perspectiva crítica as representações do negro e do indígena presentes na metáfora antropofágica.
Nota-se, no entanto, que não se trata de se opor pura e simplesmente à civilização moderna industrial; antes, Oswald acredita que são alguns dos benefícios proporcionados por ela que tornam possíveis formas primitivas de existência. Por outro lado, somente o pensamento antropofágico é capaz de distinguir os elementos positivos dessa civilização, eliminando o que não interessa e promovendo, por fim, a "Revolução Caraíba" e seu novo homem "bárbaro tecnizado": "A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls". Mediante a oposição de emblemas culturais e símbolos míticos, o autor reconta de forma metafórica a história do Brasil: Padre Vieira (1608-1697), Anchieta (1534-1567), a Mãe dos Gracos, a corte de D. João VI, a Moral da Cegonha surgem ao lado da potência mítica de Jabuti, Guaraci, Jaci e da Cobra Grande. Na nova imagem forjada o passado pré-cabralino é emparelhado com as utopias vanguardistas, pois "já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista" em nossa idade de ouro.
Graduada em História da Arte pela Universidade Federal de São Paulo. É pesquisadora no grupo de estudos: Identidade nacional e modernidade brasileira: Estudo crítico, pesquisa e formação, projeto contemplado pelo Edital Proac expresso 2021 - Estudos e pesquisas culturais.
Professor adjunto do Departamento de História da Arte da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e membro do Grupo de Pesquisa Crítica e Política da Arte Contemporânea (CNPq).
IMBROISI, Margaret; MARTINS, Simone. Manifesto Antropofágico. História das Artes, 2023. Disponível em: <https://www.historiadasartes.com/nobrasil/arte-no-seculo-20/modernismo/manifesto-antropofagico/>. Acesso em 05 Dec 2023.
Esse processo tinha a ver com a pesquisa pela nossa identidade nacional, com o objetivo final de promover uma independência cultural. Através da intertextualidade e do movimento de se beber em várias fontes se procurava alcançar uma cultura própria autônoma.
O desejo era devorar o que vinha de fora, assimilar a cultura alheia. Não negar a cultura estrangeira, pelo contrário: absorvê-la, degluti-la, processa-la e mistura-la para dar origem ao que é nosso. Podemos identificar nesse cenário um movimento centrípeto, de trazer o exterior para dentro de nós.
Não se trata mais de um processo de assimilação harmoniosa e espontânea entre os dois pólos, como de certa forma o autor pregava no Manifesto da Poesia Pau-Brasil de 1924. Agora o primitivismo aparece como signo de deglutição crítica do outro, o moderno e civilizado: "Tupy, or not tupy that is the question. (...) Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago".1 Nesse sentido, o mito, que é irracional, serve tanto para criticar a história do Brasil e as conseqüências de seu passado colonial, quanto para estabelecer um horizonte utópico, em que o matriarcado da comunidade primitiva substitui o sistema burguês patriarcal: "Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud - a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama".2
O Movimento Antropofágico foi uma corrente de vanguarda que marcou a primeira fase modernista no Brasil. Liderado por Oswald de Andrade (1890-1954) e Tarsila do Amaral (1886-1973), a finalidade principal era de estruturar uma cultura de caráter nacional.
O Modernismo no Brasil foi um amplo movimento cultural que repercutiu fortemente sobre a cena artística e a sociedade brasileira na primeira metade do século XX, sobretudo no campo da literatura e das artes plásticas.
pergunta:É correto afirmar que, em SONHO DE UM SONHO, a) o sonho transforma-se em pesadelo devido ao riso mau e à fúria contra os tranqüilos.
Gíria é uma linguagem utilizada por um determinado grupo social(sufistas,rap,cantores)uma linguagem muito usada no cotidiano,é uma linguagem informal pelo fato de ter um sentido figurado diferente. ... Jargão é uma linguagem utilizada por grupos profissionais ou socioculturais.
Jargão é uma linguagem específica de uma atividade ou um grupo específico de uma determinada área profissional ou pessoal, podem ser de termos técnicos à gírias próprias.
Gírias tomam conta do vocabulário dos jovens Para eles, esse jeito de falar é uma forma de identificação do grupo. ... As gírias variam de acordo com o lugar. Mas refletem sempre a identidade de um grupo. São a marca dos jovens, a linguagem que eles usam para se comunicar.
“Falar errado” não é um pecado mortal, é apenas uma consequência dos vários percalços pelos quais as pessoas podem ter passado ao longo da sua vida escolar (quando passaram pela escola) ou de uma escolha proposital do emissor, como fizeram Bandeira e outros modernistas.
A expressão "tá ligado", na gíria, significa "Entende". Nos meios meios evangélicos, pode significar "forças do céu e da terra em comunhão", ou "milagre assegurado".