Quais Instrumentos Tocados Por Adoniran Barbosa?

Quais instrumentos tocados por Adoniran Barbosa

Lápis, canetinha, tinta, papel e cartolina. Gravador de som - computador com microfone, softwarede gravação ou equipamento de som que seja possível gravar voz e sons do ambiente. Cds ou mídia com músicas de Adoniran Barbosa interpretadas por ele. Fotos, livros de história, vídeos: materiais de referência para pesquisa. 

João Rubinato era o nome verdadeiro de Adoniran Barbosa. Este se formou pelo primeiro nome de um companheiro de boemia e o sobrenome do cantor Luiz Barbosa, sambista carioca de sucesso nos anos 1930, que o paulista admirava. Pela forma como se apresentava publicamente, pode-se dizer que Adoniran Barbosa foi o mais bem-acabado e o mais longevo personagem do ator João Rubinato, que nele forjou uma personalidade artística para uso próprio, confluência de caipiras, italianos e proletários que compunham, em grande medida, o meio popular da cidade de São Paulo entre as décadas de 1930 e 1960. Esse personagem se caracteriza pelo humor tragicômico, a autoironia, a visão da capital paulista com amor mas sem o ufanismo típico de um período em que ela se tornava rapidamente a cidade mais rica e mais influente do Brasil. A persona do compositor e cantor apresenta-se com frequência identificada à massa de pobres da metrópole (maloqueiros, desempregados, trabalhadores informais, trabalhadores formais explorados pelo capital, vítimas da especulação imobiliária, malandros, vagabundos que perambulam pelas ruas). Seus sambas quase sempre contam histórias tristemente cômicas, comicamente tristes, envolvendo personagens marcantes. Suas melodias privilegiam o tom menor e costumam estender-se por vários compassos sem repetição, evitando o refrão e os paralelismos. Os próprios instrumentos musicais parecem dialogar uns com os outros, sendo que na canção “Mulher, patrão e cachaça” eles chegam a ser personalizados e até a receber sobrenomes.

Uma obra como a de Adoniran Barbosa, para além de seu óbvio valor estético, tem ainda a possibilidade de fomentar o debate sobre o chamado preconceito linguístico, que ainda subsiste amplamente no Brasil, mesmo nas salas de aula e nos meios de comunicação de massas, onde se espera uma defesa clara dos valores da democracia e da cidadania. Nas aulas de português, tem persistido uma abordagem de caráter normativo-prescritivo de uma língua abstraída de situações concretas. Recentemente assistimos ao fenômeno dos professores de português que ocupavam espaço em programas de televisão e colunas de jornal ensinando as formas “corretas” de se expressar, com exemplos de “erros” in abstracto colhidos justamente em canções populares e em entrevistas com pessoas nas ruas das cidades grandes. E também houve uma onda de publicação de livros com títulos do tipo Não erre mais! ou Manual da falta de estilo, de autoria de gramáticos prescritivos, que se apresentavam como guias iluminados ensinando o “bom uso” do português “de uma vez por todas”.

Nesse momento é importante contextualizar a época em que o artista viveu e concebeu sua obra, trazendo elementos que facilitem a compreensão dos alunos de como eram as coisas no passado. Você pode apresentar discos de vinil e uma vitrola, fotos de lugares da cidade no século passado comparando com imagens atuais, pesquisar como as pessoas se vestiam etc. Estabeleça relações dos fatos históricos com o desenvolvimento da carreira do artista. Adoniran Barbosa encontrou no rádio a maneira de expressar sua obra, pois esse era o principal veículo de comunicação da época. No enredo de suas canções são retratadas também situações do dia a dia do imigrante e do trabalhador.

Adoniran Barbosa and the people’s right language

Adoniran Barbosa and the people’s right language

É provável que somente nas letras do compositor paulista se possam encontrar rimas assim, maravilhosamente disparatadas, distorcidas, inesperadas, corretíssimas: “dodói/ my boy”, “cachaça/ se acha”, “Dito/ ovo frito”, “não me amole/ conversa mole”, “dando dó na gente/ uma mão atrás outra na frente”, “agogô/ infezô”, “apertado no pé/ Vila Ré”, “soluçar/ nupciar”, “ponhado/ recado”, “descobriu/ Rio”, “xadrez/ Inês”, “Brás/ mais”, “quatro e meia/ as horas vareia”, “quarenta/ aguenta”, “oração/ bão”, “os conselho das muié/ se Deus quisé/ Deus não qué”, “ali/ mim”, “Mooca/ maloca”, “João Saracura /prefeitura”, “muito cínica/ vai para as clínica”, “bolso de trás/ como é que faz”, “eu faço jus/ apagar a luz”, “Irene/ querosene”, “incrível/ combustível”, “Pafunça/ bagunça/ pronunça”, “carabina/ estricnina”, “automóver/ revórver”.

Adoniran Barbosa formou-se como artista num tempo anterior à televisão, nas décadas de 1930 e 1940, quando o rádio exercia grande influência cultural. Para os auditórios das grandes estações de rádio, dirigiam-se os talentos em busca de sucesso e popularidade através da música e da dramaturgia então transmitida para o grande público. Tendo tido um início de carreira pouco auspicioso como compositor e cantor, Adoniran acabou por engajar-se como ator em esquetes radiofônicos, interpretando diversos tipos populares, muitos deles criados por Oswaldo Molles, redator radiofônico que exerceu grande influência sobre a forma como ele via o lumpemproletariado da capital paulista. Muito especialmente ao longo dos anos 1940, em virtude do sucesso de suas interpretações tanto entre o público presente no auditório da Rádio Record quanto nas casas que recebiam as emissões, Adoniran Barbosa se dedicará muito mais ao trabalho de ator que ao de cantor e compositor. Anos mais tarde, ele atuará também na televisão e no cinema, em várias produções, buscando uma realização mais “séria” no campo da arte dramática, chegando a interpretar o personagem Mané Mole no aclamado O cangaceiro (1953), dirigido por Lima Barreto, Palma de Ouro de melhor filme no festival de Cannes, na França. Sobre a década de 1940 e a influência de Molles sobre Adoniran, escreve Ayrton Mugnaini Jr. (2002, p. 48):

Além de adentrarem também pelo campo do nonsense, esses termos e expressões remetem ao fascínio cultivado no Brasil pelas coisas estrangeiras. Com nosso desastroso ensino de idiomas estrangeiros na educação básica, com a má assimilação das línguas de herança familiar pelos filhos e netos de imigrantes e com as modas recorrentes de inclusão de estrangeirismos em nossa linguagem, era natural que um compositor da estirpe de Adoniran se aproveitasse disso como recurso expressivo e humorístico: “alô, my boy”, “charápi” (shut up), “Umas coisas assim em latim:/ ‘Qualquer um de vodis aqui presente/ Tem alguma coisa a falar contra esses bodis?’”, “Gioconda, piccina mia/ Va brincar in mare nel fondo/ Ma attenzione co il tubarone, hoi visto?/ Hai capito, mio San Benedito?”.

Em Qualquer Lugar

Esse é um momento muito rico do trabalho, pois é possível contar com a preciosa participação dos familiares no projeto. Pais e avós geralmente conhecem músicas de Adoniran Barbosa e muitos se identificam com algumas situações relatadas em suas composições. Sugira que enviem materiais sobre sua vida e as músicas que conhecem. Caso seja possível, receba a visita de um familiar na sala de aula. Se algum pai souber tocar um instrumento musical, peça que ele venha participar de uma aula para cantar com o grupo.

Em consonância com a preponderância da coloquialidade nos sambas do compositor paulista, essas expressões de teor popular - que frequentam o cotidiano brasileiro com assiduidade - são presenças recorrentes em suas letras: “nóis num semos tatu” (não somos bobos), “puxar uma palha” (dar um cochilo), “fazer o quilo” (fazer a digestão), “quando vê a coisa preta” (quando está numa situação difícil, complicada), “Deus dá o frio conforme o cobertor” (ditado popular), “aguenta a mão” (sê firme), “com uma mão atrás e outra na frente” (sem nada), “é dureza” (é complicado, é difícil), “é isso aí” (confirmação enfática), “meu bem querer” (meu amor), “minha vida sem você não vai” (minha vida sem você não está bem), “Deus te abençoe” (bênção de mãe), “vira-lata sem dono” (sujeito abandonado, rejeitado por todos, perdido na vida), “manhãzinha”, “noitinha” (diminutivos afetivos), “modéstia à parte” (autovalorização), “tire o cavalo da chuva” (desista, perca as ilusões).

Veja mais sobre

Veja mais sobre

A partir do início da década de 1950, Adoniran Barbosa volta a dedicar-se mais intensamente ao trabalho de compositor de sambas que retratam o cotidiano, a paisagem e o modo de vida dos pobres de São Paulo, cidade que naquele momento passava por um acelerado processo de expansão que ia deixando toda uma massa de deserdados do progresso pelo caminho. Nessa época já são lançadas algumas obras-primas do repertório de Adoniran, como “Saudosa maloca” (1951), “Malvina” (1951), “Joga a chave” (1952), “Samba do Arnesto” (1953), “As mariposas” (1955). Aos poucos, na medida em que vai conhecendo o sucesso como compositor e cantor, ele passa a dedicar o melhor de seus esforços na criação de tantos sambas que se tornaram clássicos da música popular brasileira.

Um dos aspectos mais interessantes da obra musical de Adoniran Barbosa é a forma como ele estiliza a fala popular. Como se sabe, no Brasil, onde persistem há séculos enormes desigualdades sociais e as classes mais escolarizadas e privilegiadas economicamente demonstram aversão aos pobres, as variantes linguísticas associadas às classes populares têm sido estigmatizadas como “erradas”, “inexpressivas”, “feias”. Em seus sambas, Adoniran mostra o quanto a fala popular - além de ser adequada às situações vivenciadas pelos personagens que protagonizam as histórias tragicômicas de suas canções - é bela, poética, corretíssima. Ao expor a cultura e a linguagem dos estratos da sociedade mantidos na invisibilidade, o compositor exerce, ainda que de maneira involuntária, uma resistência às forças mais retrógradas do país.

For Sale on Discogs

Se hoje o uso da linguagem brasileira na expressão artística é ponto pacífico, mesmo nas vertentes mais eruditas, isso se deve às elucubrações e à criação de escritores e compositores pioneiros, como os mencionados acima, e tantos outros que surgiram em seu tempo ou vieram depois, trilhando caminhos abertos por eles.

Se esse poema remete aos primeiros anos do poeta, ele mesmo, na crônica “A língua nacional”, escreve sobre uma recordação muito significativa dos tempos de sua adolescência, passada no Rio de Janeiro:

Styles

Evitando “macaquear a sintaxe lusíada”, Bandeira construirá toda uma obra que privilegiará a dicção coloquial e muitas vezes o verso livre, utilizando-o com grande maestria técnica. Como ele, a grande maioria dos brasileiros também tem experimentado a vida, em seus primeiros anos, nessa “língua certa” do povo.

Ora, se essa disciplina se concentrasse mais na reflexão sobre a língua que falamos, deixando de lado a reprodução de esquemas classificatórios, logo se descobriria a importância da língua falada, mesmo para a aquisição da língua escrita. [...]

Format

Analise com o grupo algumas características que chamam a atenção nas canções de Adoniran: pronúncias, enredo, ritmos, timbres dos instrumentos, da voz, etc. É possível utilizar gravações de músicas que o compositor interpreta em parceria com outros artistas para comparar e conhecer timbres de vozes diferentes. Por exemplo: a gravação de "Torresmo à milanesa" cantada junto com Clementina de Jesus. O timbre vocal é bastante grave e/ou a delicadeza contrastante da voz de Elis Regina em "Tiro ao alvo".

A música é um fenômeno físico, no qual é possível senti-la através das vibrações das ondas sonoras. Por exemplo, é possível perceber o ritmo do samba, a partir do padrão de vibração das frequências graves de um surdo (instrumento musical de percussão) ou até mesmo reconhecer a pulsação e andamento da canção através de sua marcação na sua música. Nas atividades de apreciação, ajude o aluno a sentir as vibrações da música.

Contribute

Contribute

Lançamento do livro e do CD. Organize uma seção de cantoria para a comunidade escolar (pais, crianças, professores e funcionários) para compartilhar o trabalho.

Sem apresentar nenhuma intenção de produzir uma arte de cunho social ou político explícito, sem pretender fazer denúncia das condições em que sobrevive a maioria do povo brasileiro, Adoniran Barbosa, ao narrar histórias, expor tipos, modos de vida e principalmente a linguagem das classes populares, exerce resistência, ainda que involuntária, contra as forças que trabalham para excluir, silenciar e tornar invisíveis tantos milhões de brasileiros a quem estão negados os direitos da cidadania e a participação numa sociedade verdadeiramente democrática.

One of the most interesting aspects of Adoniran Barbosa musical work is his stylization of Brazilian popular language. It is well-known that, in Brazil, where immense social inequalities have persisted for centuries and the more privileged extracts of society have shown an explicit aversion to the poor people, linguistic variants associated to the lower classes have been stigmatized as “wrong”, “inexpressive”, “nasty”. In his songs, Barbosa clearly shows how popular language - in addition to being appropriate to the situations experienced by the characters who play the role of tragicomic stories in his songs - is beautiful, poetic, and very correct. When the artist exposes culture and language of these lower strata of society, which are maintained invisible, he exerts resistance to Brazil’s most retrograde forces, even if this is involuntary.

Qual a idade de Adoniran Barbosa?

70 anos (1912–1982) Adoniran Barbosa/Idade ao falecer

Porque o nome Adoniran Barbosa?

Adoniran Barbosa (1910-1982) foi um cantor e compositor brasileiro. ... Seu nome verdadeiro é João Rubinato, mas adota o pseudônimo de Adoniran Barbosa. Adoniran, nome de seu melhor amigo e Barbosa em homenagem ao cantor Luís Barbosa, seu ídolo.

Quando e como morreu Adoniran Barbosa?

23 de novembro de 1982 Adoniran Barbosa/Data de falecimento

Em que ano Adoniran Barbosa morreu?

23 de novembro de 1982 Adoniran Barbosa/Data de falecimento

Em que ano morreu o cantor Adoniran Barbosa?

70 anos (1912–1982) Adoniran Barbosa/Idade ao falecer

Porque Adoniran Barbosa morreu?

Morte. Adoniran Barbosa morreu em 23 de novembro de 1982, aos 70 anos de idade. Estava internado no Hospital São Luís tratando um enfisema pulmonar.

Qual é o nome de Adoniran Barbosa?

João Rubinato Adoniran Barbosa/Nome completo

Quantos filhos Adoniran Barbosa tem?

Maria Helena Rubitano Rodrigues Adoniran Barbosa/Filhos

Qual é o nome de batismo de Adoniran Barbosa?

João Rubinato Adoniran Barbosa/Nome completo

Quem foi Adoniran Barbosa quais eram suas habilidades?

Um dos seus primeiros ofícios foi como entregador de marmitas, por volta dos seus catorze anos, tendo trabalhado também como engraxate, vendedor, ajustador mecânico, tecelão, pintor de parede, serralheiro, garçom e entregador de marmitas.

Qual a composição mais famosa de Adoniran Barbosa?

Sua composição mais famosa viria em 1964. Foi nessa ano criado a canção “Trem das Onze” No ano seguinte a música foi premiada no Carnaval carioca(dificilmente uma composição paulista vencia no Rio de Janeiro).

Onde nasceu o cantor Adoniran Barbosa?

Valinhos, São Paulo Adoniran Barbosa/Local de nascimento

Qual o nome da cidade onde nasceu Adoniran Barbosa?

Valinhos, São Paulo Adoniran Barbosa/Local de nascimento

Onde está sepultado Adoniran Barbosa?

Cemitério da Paz Adoniran Barbosa morreu em 23 de novembro de 1982, aos 70 anos de idade. Estava internado no Hospital São Luís tratando um enfisema pulmonar. Foi sepultado no Cemitério da Paz, conforme seu desejo.